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28 de Janeiro, 2025

Eleições 2024: Venâncio Mondlane continua ignorado no diálogo político

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Está cada vez mais claro que Venâncio António Bila Mondlane, o segundo candidato mais votado nas eleições presidenciais de 09 de Outubro, de acordo com os cálculos do Conselho Constitucional, não tem lugar no diálogo político em curso, envolvendo o Chefe de Estado e os líderes dos partidos com assento no Parlamento.

 

Doze dias depois de ter tomado posse como quinto Presidente da República, Daniel Chapo reuniu-se, esta segunda-feira, com os Presidentes do PODEMOS, Renamo, MDM e Nova Democracia, nomeadamente, Albino Forquilha, Ossufo Momade, Lutero Simango e Salomão Muchanga, respectivamente.

 

Curiosamente, a Frelimo, que detém a maioria contestada na Assembleia da República, não mandatou qualquer representante, tendo sido implicitamente representada pelo próprio Chefe de Estado, que desempenha as funções de Secretário-Geral naquele partido político.

 

No fim do encontro, Daniel Francisco Chapo disse aos jornalistas que o encontro serviu para desenhar os “termos de referência” que vão nortear os debates, que levarão os cinco a um consenso. “Temos termos de referência para trabalhar-se num documento”, garantiu o Estadista.

 

Trata-se, segundo o Chefe do Estado, de um documento “com linhas concretas daquilo que se pretende para este consenso”, um consenso que, na sua óptica, “vai levar-nos a aprimorar muitos aspectos que nos possam levar a reformas”, como da Lei Eleitoral, do processo de descentralização e da Constituição da República.

 

Na sua intervenção de pouco mais de quatro minutos, sem direito a perguntas, Chapo não mencionou o nome de Venâncio Mondlane como indivíduo a integrar o grupo. Disse apenas que, após os consensos a serem alcançados pelos cinco políticos, o assunto será levado aos outros “estratos sociais” para que possam participar, nomeadamente, a sociedade civil, o sector privado, os líderes comunitários, líderes religiosos, jornalistas, entre outros.

 

Refira-se que Venâncio Mondlane, que assume vitória nas eleições presidenciais de 09 de Outubro, é o rosto da maior revolta popular da história do país, em protesto contra os resultados eleitorais, que deram vitória a Daniel Chapo e Frelimo com mais de 65% dos votos.

 

Desde 21 de Outubro de 2024, o país está mergulhado na maior crise pós-eleitoral, marcada por manifestações populares convocadas pelo político, algumas a partir do estrangeiro, que resultaram na morte de pelo menos 300 pessoas, na sua maioria cidadãos civis assassinados pela Polícia.

 

Em entrevista concedida à televisão portuguesa CNN Portugal, dois dias depois da tomada de posse, Daniel Francisco Chapo disse que ainda não foi contactado pelo “amigo comum” citado por Venâncio Mondlane em uma entrevista ao jornal norte-americano New York Times. A afirmação deixou claro que Chapo ainda não havia encetado diligências para falar com Venâncio Mondlane.

 

Venâncio Mondlane disse ao New York Times, citada pela Voz da América, que estava em contacto com o Chefe de Estado, “através de um amigo mútuo”, tendo manifestado a esperança de que o novo Chefe de Estado “negoceie uma resolução para se pôr termo à crise política”.

 

“Eu também ouvi dizer destes contactos, mas este amigo comum ainda não me contactou. Mas, eu tenho certeza absoluta que este amigo comum vai contactar-me e a partir daí vamos saber qual é a mensagem e, em função dessa mensagem, vamos trabalhar para pacificar o país”, afirmou o estadista, na entrevista concedida à CNN Portugal, sem clarificar o que faria caso o “amigo comum” não lhe contactasse.

 

Lembre-se que no seu discurso inaugural, o Presidente da República disse que a harmonia social “não pode esperar” e muito menos “a construção de consensos sobre os aspectos que preocupam o povo moçambicano”, pelo que “o diálogo já começou” e não descansará enquanto “não tivermos um país unido e coeso”. Aliás, vincou que “a estabilidade social e política é a nossa prioridade das prioridades”.

 

O encontro de ontem foi o terceiro da denominada plataforma interpartidária, sendo que os dois primeiros foram conduzidos por Filipe Jacinto Nyusi, quando exercia as funções de Chefe de Estado moçambicano. Em todas as reuniões, o nome de Venâncio Mondlane não foi pronunciado. (A. Maolela)

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