O caso David Simango, uma alegada aceitação de oferecimento (apartamento no Edifício 24, da Épsilon, cujo PCA é o antigo Ministro das Finanças e fundador do BCI, Abdul Magid Osman) tem muito de inócuo e de cinismo judicial. Há muito que a percepção popular esperava uma investigação aos trabalhos de David Simango, que governou a autarquia de Maputo por dois mandatos, no fim dos quais uma vereadora de Finanças foi assassinada (o actual edil Eneas Comiche mandou auditar as contas e arquivou o resultado, na velha fórmula de protecção recíproca no seio da Frelimo).
“Carta” sabe que o único caso visando Simango, que estava em investigação no GCCC, era o que se centrava na adjudicação da reabilitação da Av. Julius Nyerere, pela empresa portuguesa, Britalar. Na semana passada, quando foi noticiado o julgamento adiado de David Simango, obtivemos a informação de que o caso Britalar tinha sido “encerrado” e dado origem ao caso do apartamento do Edifício 24. A informação obtida foi demasiado escassa dado o secretismo inerente. Mas uma questão que não quis calar foi: como? Que relação de vasos comunicantes poderia haver entre a reabilitação da Julius Nyerere e o Edifício 24? Espantoso!
E depois do espanto veio-nos a legítima suspeição: o caso do apartamento do Edifício 24 poderá estar a ser usado não necessariamente para responsabilizar David Simango mas para limpar sua imagem. O caso Brilatar deu lugar ao caso Edifício 24 que, na essência, é um logro. Ou seja, deste caso, quem sairá vitorioso é David Simango pois o documento chave que incriminaria Simango foi obtido por um dos sócios da Épsilon, Arnaldo Lopes Pereira, nos anos 90, quando à frente da edilidade estava João Baptista Cosme. Quem assinou a concessão do DUAT foi Alfredo Mandua.
David Simango deve estar a rir-se à fartura. Até terá aberto uns tantos “moët & chandons” celebrando sua vitória num caso que pode ser desgastante para a imagem do Dr Abdul Magid Osman, a face mais visível da Épsilon. Dizendo por outras palavras, o presente expediente visando a ilibação judicial de David Simango num caso de corrupção envolve o sacrifício público da imagem da Épsilon, sem processo judicial.
David Simango é acusado de corrupção passiva, certo? Então, quem é o corruptor? É a Épsilon! Então porque é que a Épsilon não vem acusada? Pois, aqui está um grande embaraço judicial, que nos leva à teoria da conspiração: alguém quer visar a imagem do Dr Abdul Magid Osman, ponto final.
É óbvio que não há matéria para incriminar judicialmente a Épsilon. Em sede de investigação, a empresa apresentou toda a papelada, provando ter obtido o terreno legalmente num ano em que David Simango nunca poderia ter acesso ao processo. Mesmo assim, a Épsilon surge na praça pública como uma grande entidade corruptora. Eis como estamos “combatendo” a corrupção em Moçambique…usando a justiça para queimar figuras insuspeitas, de comprovada integridade e muito têm dado para a construção deste país.
Assim, não: para ilibar o David Simango não precisa queimar o Dr Magid Osman. Se querem queimá-lo, então que acusem judicialmente a Épsilon. (Marcelo Mosse)