O sector privado de Moçambique entrou em modo de recuperação em Fevereiro, uma vez que a diminuição da instabilidade pós-eleitoral permitiu uma melhoria das condições das empresas. Tanto a produção como os volumes de vendas subiram pela primeira vez em quatro meses, fazendo com que as empresas aumentassem as suas aquisições de meios de produção da forma mais acentuada desde Agosto do ano passado.
A actividade de aquisição mais elevada contribuiu para as pressões sobre os preços, na medida em que os relatórios sugeriram que se manteve a escassez de oferta de alguns materiais e que os fornecedores ainda não foram capazes de restabelecer os prazos de entrega. Entretanto, esforços para proteger as margens de lucro resultaram num novo aumento dos preços de venda.
As informações constam do relatório de um inquérito mensal elaborado pelo Standard Bank Moçambique, designado Purchasing Managers’ Index (PMI). Indicadores acima de 50,0 apontam para uma melhoria nas condições das empresas em relação ao mês anterior, ao passo que indicadores abaixo de 50,0 mostram uma deterioração. Entretanto, em Fevereiro, o PMI situou-se em 50,9 em Fevereiro, contra 47,5 pontos registados em Janeiro de 2025.
Comentando sobre os resultados, o Economista-chefe do Standard Bank Moçambique, Fausio Mussá explica que se trata da primeira recuperação desde Outubro de 2024. Segundo Mussá ocorreram expansões mensais na produção, nas novas encomendas, no emprego e nas aquisições, mas os prazos de entrega dos fornecedores não melhoraram, o que sugere que as interrupções nas cadeias de valor de abastecimento ainda não estão totalmente solucionadas.
“Apesar dos protestos que se seguiram às eleições de Outubro de 2024 terem começado a diminuir, registam-se ainda protestos esporádicos, num ambiente sócio-político tenso. De acordo com o subíndice do PMI de expectativas empresariais para o futuro, o sentimento empresarial permanece volátil e diminuiu em Fevereiro. Apesar de mais de um terço dos inquiridos esperar um aumento da produção nos próximos 12 meses, o grau de optimismo foi um dos mais baixos dos últimos quatro anos”, comentou o economista.
Mussá salientou que o PMI sugere um crescimento das pressões sobre os preços em Fevereiro, em grande medida, devido aos custos mais elevados dos meios de produção no contexto de interrupções nas cadeias de abastecimento e alguma recuperação na procura, com as empresas a proteger as suas margens de lucro.
Não obstante as medidas para a redução do custo de vida anunciadas pelo Governo, que podem implicar a remoção do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA) de alguns alimentos básicos, em nome do banco, o economista prevê que ocorram novas pressões fiscais, o que em conjunto com os desequilíbrios entre a oferta e a procura de moeda externa no mercado cambial, e eventos recorrentes associados às alterações climáticas, possam provocar um aumento da inflação.
“Assim sendo, mantemos a nossa previsão de aumento da inflação para 6,1%, em Dezembro de 2025, em relação aos 4,2%, em Dezembro de 2024, em termos homólogos”, sublinhou Mussá.
Após a contração da economia de 4,9%, em termos homólogos, no quarto trimestre de 2024, o economista diz haver possibilidade de uma nova contração no primeiro trimestre de 2025 e, provavelmente, uma subsequente recuperação lenta. Neste contexto, o Standard Bank prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3% em 2025, muito próximo do crescimento populacional, mas superior aos 1,8%, registados em 2024. (Carta)