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Sociedade

quarta-feira, 08 maio 2019 11:17

Acidentes de viação continuam a ceifar vidas

Continua duro o combate de tornar as nossas estradas livres do luto. Só em sete dias (de 27 de Abril a 03 de Maio), 20 pessoas morreram e outras 49 contraíram ferimentos, 23 das quais com gravidade, em consequência de 29 acidentes de viação, ocorridos nas estradas do país. A informação consta do relatório semanal do Comando Geral da Polícia, partilhado esta terça-feira (07) com os órgãos de comunicação social.

 

Despistes, capotamentos e atropelamentos são apontados como os principais tipos de acidentes, que tiveram como possíveis causas os habituais excessos de velocidade, má travessia de peões e condução sob efeito de álcool.

 

Para reverter a situação, a Polícia de Trânsito desencadeou uma campanha de fiscalização a um total de 51.636 viaturas, na qual foram apreendidas 607 viaturas, 339 cartas e 140 livretes. Foram aplicadas ainda 6.660 multas e detidos 35 indivíduos por condução ilegal e 28 condutores por corrupção activa.

 

No capítulo criminal, o documento refere que foram capturadas duas armas de fogo (uma do tipo pistola e outra do tipo caçadeira) e recuperadas 41 viaturas, 25 motorizadas, 85 telemóveis, 23 televisores, sete computadores e 23,86 kg de cannabis sativa.

 

Na mesma semana, a PRM revela que deteve ainda, em todo o território nacional, 1.238 indivíduos, sendo 1.017 por violação de fronteiras e 221 por prática de delitos comuns. (Marta Afonso)

O Governo desactivou o alerta vermelho institucional para zona centro, activado a 12 de Março último, na sequência da passagem do Ciclone IDAI, que devastou aquela região do país na noite do dia 14 daquele mês. A decisão foi tomada, esta terça-feira (07 de Maio), durante a décima quinta sessão ordinária do Conselho de Ministros.

 

Segundo a porta-voz da sessão, Ana Comoane, a decisão deve-se aos avanços registados nas quatro províncias afectadas pela intempérie, onde, até ao momento, não se registou novos óbitos e muito menos afectados.

 

Assim, dados oficiais, actualizados a 12 de Abril, indicam que o Ciclone IDAI afectou 1.622.483 pessoas e provocou 603 óbitos, para além de ter deixado um rasto de destruição, cujo impacto ainda não é conhecido.

 

Comoane disse ainda que os caudais das bacias hidrográficas de todo o país tendem a baixar e que as albufeiras têm registos satisfatórios, facto que também contribui para a desactivação do alerta vermelho institucional naquelas províncias. A barragem dos Pequenos Libombos é uma das que regista os melhores dias, estando agora com 31 por cento da sua capacidade máxima.

 

Entretanto, não obstante esse facto, a também vice-Ministra da Cultura e Turismo garantiu que o governo continuará a prestar assistência alimentar às famílias afectadas, assim como irá manter as medidas de saneamento e as medidas de higiene. O executivo vai também continuar a distribuir os talhões e a repor as infra-estruturas danificadas, em particular a rede eléctrica e as vias de acesso. A província de Sofala continua com 17 centros de acomodação activos.

 

Em relação ao estágio de preparação da Conferência de Doadores, a ser organizado na cidade da Beira, nos dias 24 e 25 deste mês, a governante disse que o Gabinete de Reconstrução Pós-IDAI continua a fazer os levantamentos necessários, que servirão de base para a mobilização de fundos, pelo que ainda é prematuro avançar qualquer dado sobre o evento. (Abílio Maolela)

Os funcionários do Hospital Geral da Machava (HGM), no município da Matola, província de Maputo, viram as suas refeições retiradas da lista de benefícios naquela unidade sanitária sem aviso prévio, desde 11 de Abril último.

 

”Carta” teve acesso ao comunicado que, por sua vez, explica: “mediante a situação actual de deficiente fornecimento dos géneros alimentícios por parte dos fornecedores, a cozinha propôs à direcção do hospital a suspensão das refeições dos trabalhadores, salientando que a medida fornecerá um ganho aos funcionários”.

 

Fontes do HGM disseram à nossa reportagem que há bastante tempo que aquela unidade sanitária cortou o pequeno-almoço para os funcionários, passando apenas a dar-lhes um pedaço de pão e sem direito a açúcar e, para o espanto deles, no mês de Abril, a direcção resolveu retirar-lhes o almoço e o jantar até mesmo para os funcionários que fazem turnos.

 

“Não temos como trabalhar com fome, neste hospital não somos respeitados, não temos o direito de estudar e quem vai à escola à revelia não muda de carreira. Tínhamos um fogão, onde podíamos preparar as nossas refeições, mas pouco tempo depois desapareceu e quando questionamos sobre o mesmo disseram-nos que foi emprestado ao Hospital Provincial da Matola”, contam os trabalhadores daquele hospital, alertando ainda que a medida abrange também os pacientes, que recebem uma refeição (sopa) por dia.

 

“Com a medicação ‘pesada’ que tem, isso acaba precipitando a morte dos doentes. Neste hospital há falta de pessoal médico, há mais de cinco anos que não vemos caras novas e dos poucos que aqui existem não cumprem com os horários de entrada”, acrescentam as fontes.

 

De acordo ainda com as mesmas fontes, cada departamento teve de fazer uma “vaquinha (pequenas contribuições)” para aquisição de uma chaleira eléctrica, de modo a tomar uma chávena de chá.

 

Durante o exercício das suas funções são, igualmente, restringidos ao pagamento salarial nas datas certas, chegando a ficar um mês sem o seu ordenado. As fontes explicam ainda que, numa das reuniões com a direcção do Hospital, o corpo directivo chegou a dizer que eles podiam queixar, onde quisessem e que nada mudaria aquela situação.

 

A Directora do Hospital Geral da Machava, Ana Paula Rodrigues, disse à “Carta” que o corte de refeições deveu-se à falta de condições económicas, por um lado, e, por outro, que o documento em nossa posse, por ela assinado, tem alguns erros de digitação.

 

Em relação ao fogão que desapareceu, a gestora afirma que foi roubado. Avança ainda que o Hospital nunca proibiu ninguém de estudar, o que tem acontecido é que muitos funcionários fazem cursos cujo enquadramento não existe naquela unidade sanitária, o que faz com que alguns funcionários, depois de estudar, sejam afastados até que se encontre um lugar para eles.

 

“As refeições dos doentes não foram cortadas. A direcção resolveu passar a dar sopas, porque os pacientes dizem ser mais fácil digerir”, explicou Ana Paula.

 

Na Cidade de Maputo também se reclama

 

Numa ronda feita pela “Carta” nos hospitais de referência, na Cidade de Maputo, tais como Hospital de Mavalane, Polana Caniço e José Macamo, constatou-se que também houve cortes de alimentação para os funcionários que fazem horário único (das 7:30 horas às 15:30 horas), por estes não terem direito e quanto aos que fazem turno continuam a ter as refeições normalmente.

 

Parte dos funcionários dos hospitais acima referidos, interpelados pela nossa reportagem, mostraram-se insatisfeitos com a medida, principalmente, porque nos últimos meses recebem apenas um pedaço de pão.

 

“Recebemos mal, o pouco que nos dão temos de comprar comida para os nossos filhos e a mesma quantidade não serve para levarmos para almoçar nos nossos locais de trabalho, porque temos de deixar para as crianças, aqui tínhamos direito à sopa e uma pequena quantidade de comida. Quando a direcção do hospital resolveu cortar, não teve sequer a dignidade de nos avisar, cheguei à cozinha e mandaram-me voltar, dizendo que os trabalhadores já não tinham direito de receber refeições, passando apenas a receber um pãozinho nas manhãs”, desabafou uma fonte do Hospital Geral da Polana Caniço.

 

Para o esclarecimento deste assunto, Sheila Lobo, Directora de Saúde da Cidade de Maputo, explicou à “Carta” que nenhum funcionário do hospital que trabalha em horário normal das 07:00 às 15:30 horas tem direito às refeições e quanto aos que fazem turno continuam a receber as refeições, normalmente. (Marta Afonso)

Cinco semanas depois de o ciclone Idai causar ampla destruição na cidade da Beira e áreas circunvizinhas, o ciclone Kenneth atingiu a costa da província de Cabo Delgado, no norte do país. Tal como o ciclone Idai, o ciclone Kenneth causou amplos danos nos distritos e áreas por onde passou.

 

“Eu perdi quase tudo. Tenho de reconstruir a minha casa, que foi destruída pelas chuvas fortes, mas não sei por onde começar. Estou abrigado com a minha família por enquanto. Somos muitos na mesma casa e mal há espaço para todos”, disse Carlitos Limia, residente do bairro Cariacó, na cidade de Pemba.

 

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), que estabeleceu uma resposta de emergência após o ciclone Idai, levou equipas para Cabo Delgado para começarem as actividades de resposta em diversas localidades da província. Elas juntaram-se a uma pequena equipa que já estava em Pemba, desde Fevereiro de 2019, quando iniciaram actividades de água e saneamento. Em conjunto, os técnicos daquela organização humanitária começaram rapidamente a avaliar a escala e a natureza dos problemas em diferentes áreas afectadas pelo ciclone Kenneth. É difícil alcançar algumas áreas devido a limitações logísticas, provocadas pelas cheias, pontes destruídas e estradas intransitáveis devido à lama.

 

O surto de cólera foi oficialmente declarado na quinta-feira, dia 02 de Maio, pelas autoridades de saúde. Até ao momento, há relatos de 52 pacientes de cólera (até o último sábado) em Pemba e no distrito de Mecúfi, ao sul de Pemba.

 

A MSF está a apoiar o Ministério da Saúde, fornecendo materiais como tendas e equipamento de água e saneamento para um centro de tratamento de cólera em Pemba. Além disso, a organização está a preparar-se para responder aos sintomas de cólera ou de doenças semelhantes e para apoiar a infra-estrutura de saúde em Mecúfi. Uma campanha de vacinação contra a cólera está a ser planificada pelas autoridades.

 

“Iremos fornecer tendas e equipamentos médicos para construir uma unidade de tratamento de cólera temporária com capacidade de 10 a 15 camas”, explica Danielle Borges, Coordenadora de Projecto da MSF em Pemba. “Temos dois objectivos principais agora: salvar a vida das pessoas gravemente doentes e conter o surto. Precisamos isolar e tratar as pessoas doentes para que elas se recuperem e não contaminem outras pessoas. Precisamos assegurar que a água contaminada não seja usada e fazer tudo que pudermos para evitar que as pessoas adoeçam”.

 

No distrito de Macomia, ao norte de Pemba, o centro de saúde foi gravemente danificado e está fora de funcionamento. A MSF está a oferecer cuidados ambulatórios e cuidados de saúde materno-infantil numa tenda colocada fora do edifício danificado do Hospital distrital com vista a assegurar cuidados de saúde para a comunidade. O centro de saúde será reabilitado.

 

“O impacto de dois ciclones num espaço de tempo tão curto é devastador. É um grande revés para o país, que estava a começar a recuperar-se do primeiro ciclone”, diz Danielle Borges.

 

Dados preliminares do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), divulgados nesta segunda-feira, indicam que o ciclone Kenneth causou 43 mortos, feriu 94 pessoas, afectou 249,984 pessoas, 53,966 famílias, principalmente nos distritos de Macomia, Pemba, Ibo e Metuge, onde 3214 pessoas encontram-se distribuídas em 10 centros de acomodação e na província de Nampula, os distritos de Eráti e Memba aparecem nas estatísticas do INGC com 3527 pessoas acantonadas em 12 centros de acomodação. (Omardine Omar)

Fome, pobreza, longas distâncias, gravidezes precoces e casamentos prematuros são apontados pelo Vice-Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), Armindo Ngunga, como as principais causas do aumento de número de crianças fora das escolas entre os seis e 17 anos, de acordo com os dados do IV Recenseamento Geral da População e Habitação, partilhados, semana finda, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

 

Os referidos dados referem que a taxa de crianças dos seis aos 17 anos de idade que estão fora da escola subiu, tendo saído de 34,3 por cento, em 2007, para 38,6 por cento, em 2017.

 

Segundo Armindo Ngunga, muitas crianças têm deixado de frequentar as escolas devido à fome, pobreza, assim como as longas distâncias que separam as suas residências dos locais de ensino.

 

Respondendo a uma pergunta da “Carta” sobre os dados do INE, no sector da educação, o dirigente apontou ainda as gravidezes precoces e os casamentos prematuros como outros factores que fazem com que esta faixa etária não se faça presente às salas de aulas.

 

Para inverter o cenário, Ngunga explica que uma das medidas adoptadas pelo sector para a retenção dos alunos nas escolas é a implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PRONAE) que, entretanto, ainda abrange menos de 10 por cento dos alunos do Sistema Nacional de Ensino.

 

Na conversa que manteve com a “Carta”, esta segunda-feira (06 de Maio), à margem da cerimónia de abertura da Semana de Acção Global de Educação Para Todos (SAGEPT), que decorre sobre o lema “Tornando uma Realidade o Direito a Uma Educação Justa, Inclusiva, de Qualidade, Acessível e Pública”, o vice-Ministro do MEDH explicou ainda que o sector tem vindo a incluir, na formação de professores, a componente da antropologia, de modo a reduzir cada vez mais a taxa de analfabetismo, que é de 39 por cento.

 

Calendário especial dos afectados pelos desastres naturais

 

O vice-ministro da Educação e Desenvolvimento Humano garantiu ainda que os alunos afectados pelos Ciclones “Kenneth” e “IDAI” passarão a ter um calendário especial, que vai incluir aulas aos fins-de-semana, como forma de não comprometer o programa do ano lectivo 2019, onde só na província de Cabo Delgado foram afectados mais de 22 mil alunos. (Marta Afonso)

 

O impacto dos seres humanos na natureza é devastador - seja em terra, nos mares ou no céu. É o que mostra um relatório divulgado nesta segunda-feira pela Organização das Nações Unidas (ONU).

 

Segundo a organização, 1 milhão de espécies de animais e vegetais estão ameaçados de extinção. O meio ambiente está sendo degradado em toda parte a uma velocidade sem precedentes, e um dos fatores determinantes é a nossa necessidade por cada vez mais alimentos e energia. Essa tendência pode ser revertida, diz o estudo, mas será necessária uma "mudança transformadora" em todos os aspectos de como os seres humanos interagem com a natureza.

 

Elaborada nos últimos três anos, essa avaliação do ecossistema mundial é baseada na análise de 15 mil materiais de referência e foi compilada pela Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês). São 1.800 páginas no total.

 

O resumo de 40 páginas, publicado nesta segunda-feira, talvez seja a mais forte denúncia de como os homens trataram seu único lar. O documento afirma que, embora a Terra tenha sofrido sempre com as ações dos seres humanos ao longo da história, nos últimos 50 anos esses arranhões se tornaram cicatrizes profundas.

 

Expansão humana

 

 

A população mundial dobrou desde 1970, a economia global quadruplicou e o comércio internacional está dez vezes maior. Para alimentar, vestir e fornecer energia a este mundo em expansão, florestas foram derrubadas num ritmo surpreendente, especialmente em áreas tropicais. Entre 1980 e 2000, 100 milhões de hectares de floresta tropical foram perdidos, principalmente por causa da pecuária na América do Sul e plantações de palmeira de dendê no sudeste da Ásia.

 

A situação dos pântanos é ainda pior - apenas 13% dos que existiam em 1700 estavam conservados no ano 2000. Nossas cidades se expandiram rapidamente; as áreas urbanas dobraram desde 1992. Toda essa atividade humana está matando mais espécies do que nunca. De acordo com a avaliação global, uma média de cerca de 25% dos animais e plantas se encontram agora ameaçados.

 

As tendências globais em relação às populações de insetos não são conhecidas, mas foram registrados declínios acelerados em algumas regiões. Tudo isso sugere que cerca de 1 milhão de espécies estão à beira da extinção nas próximas décadas, um ritmo de destruição de dezenas a centenas de vezes maior do que a média dos últimos 10 milhões de anos.

 

"Nós documentamos um declínio realmente sem precedentes na biodiversidade e na natureza, isso é completamente diferente de qualquer coisa que tenhamos visto na história da humanidade em termos de taxa de declínio e escala da ameaça", afirma Kate Brauman, da Universidade de Minnesota, nos EUA, uma das principais autoras e coordenadoras do estudo.

 

A avaliação também revela que os solos estão sendo degradados como nunca, o que reduziu a produtividade de 23% da superfície terrestre do planeta.

 

Nosso apetite insaciável ​​está produzindo, por sua vez, uma montanha de lixo.

 

A poluição causada por plástico aumentou dez vezes desde 1980.

 

Todos os anos despejamos de 300 milhões a 400 milhões de toneladas de metais pesados, solventes, lama tóxica e outros resíduos nas águas do planeta.

 

O que há por trás da crise?

 

 

Os autores do relatório dizem que há uma série de fatores que levaram a este cenário, apontando como principal a mudança no uso do solo.

 

Isso significa essencialmente a substituição de prados pela agricultura intensiva, a substituição de florestas antigas por plantações florestais ou o desmatamento de florestas para cultivar alimentos. Isso está acontecendo em muitas partes do mundo, especialmente nos trópicos.

 

Desde 1980, mais da metade do avanço na agricultura se deu à custa de florestas intactas.

 

No mar, a situação é semelhante.

 

Apenas 3% dos oceanos foram descritos como livres da pressão humana em 2014.

 

Os peixes estão sendo explorados como nunca. Em 2015, 33% das populações de peixe foram capturadas de forma insustentável.

 

A cobertura de corais vivos nos recifes caiu quase pela metade nos últimos 150 anos.

 

No entanto, impulsionando tudo isso, há uma demanda crescente por alimentos da população mundial em expansão e, especificamente, nosso apetite cada vez maior por carne e peixe.

 

"O uso da terra aparece agora como o principal fator do colapso da biodiversidade, com 70% da agropecuária relacionada à produção de carne", diz Yann Laurans, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Iddri, na sigla em francês).

 

"É hora de reconsiderar a participação da carne industrial e laticínios na nossa alimentação."

 

Os outros fatores-chave são a caça e a exploração direta de animais, assim como as mudanças climáticas, a poluição e espécies invasoras.

 

O relatório conclui que muitos desses fatores atuam juntos para agravar a situação.

 

O declínio em números

 

 

Tudo depende do que vamos fazer.

 

Os autores analisaram uma série de cenários para o futuro, incluindo a trajetória atual, mas também examinaram opções baseadas em práticas mais sustentáveis.

 

Em quase todos os casos, as tendências negativas para o meio ambiente vão continuar para além de 2050.

 

Os únicos que não seguem em direção ao desastre ecológico envolveram o que os cientistas chamam de "mudança transformadora".

 

O que significa a 'mudança transformadora'?

 

O estudo não diz aos governos o que fazer, mas dá conselhos bem fortes.

 

Uma das ideias principais é se distanciar do "limitado paradigma do crescimento econômico".

 

O relatório sugere deixar de lado o Produto Interno Bruto (PIB) como principal indicador de riqueza econômica e, em vez disso, adotar abordagens mais holísticas que capturem a qualidade de vida e os efeitos no longo prazo.

 

Eles argumentam que a nossa noção tradicional de "boa qualidade de vida" envolve o aumento do consumo em todos os níveis. E isso tem que mudar.

 

Da mesma forma, deve haver mudanças quando se trata de incentivos financeiros que prejudicam a biodiversidade.

 

"Os governos precisam acabar com os subsídios destrutivos, incluindo os combustíveis fósseis, a pesca industrial e a agricultura", afirmou Andrew Norton, diretor do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

 

"Eles impulsionam a pilhagem da terra e do oceano às custas de um ambiente limpo, saudável e diversificado, do qual bilhões de mulheres, crianças e homens dependem agora e no futuro."

 

A quantidade de terra e mar que está sob proteção precisa aumentar rapidamente - segundo os especialistas, um terço de nossas terras precisa ser preservado.

 

"Precisamos proteger metade do planeta até 2050, com uma meta intermediária de 30% até 2030", afirmou Jonathan Baillie, da National Geographic Society.

 

"Então, devemos recuperar a natureza e impulsionar a inovação. Só assim deixaremos para as futuras gerações um planeta saudável e sustentável."

 

Isso é pior que a mudança climática?

 

A mudança climática é um fator subjacente crucial que está ajudando a impulsionar a destruição em todo o mundo.

 

As emissões de gases do efeito estufa dobraram desde 1980 e as temperaturas subiram 0,7°C como resultado. Isso teve um grande impacto em algumas espécies, tornando sua extinção mais provável.

 

A avaliação global conclui que se as temperaturas subirem 2°C, então 5% das espécies estarão correndo o risco de extinção por causa do clima. Este percentual sobe para 16% se o mundo ficar 4,3°C mais quente.

 

"Da lista dos principais fatores determinantes do declínio da biodiversidade, a mudança climática é apenas a de número três", afirmou o professor John Spicer, da Universidade de Plymouth, no Reino Unido.

 

"A mudança climática é certamente uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta em um futuro próximo - então o que isso nos diz sobre o primeiro e o segundo (fator), alterações no uso da terra/mar, e a exploração direta? A situação atual é desesperadora e há algum tempo."

 

Os autores do estudo esperam que sua avaliação se torne tão decisiva para o debate sobre a perda de biodiversidade quanto o relatório do IPCC sobre o aquecimento global de 1,5 °C foi para a discussão sobre a mudança climática.

 

O que eu posso fazer?

 

 

A ideia de ação transformadora não se limita apenas aos governos ou autoridades locais. Os indivíduos certamente podem fazer a diferença.

 

"Sabemos que a maneira como as pessoas se alimentam hoje é muitas vezes prejudicial para elas e para o planeta", afirma Kate Brauman, uma das autoras do relatório.

 

"Podemos nos tornar mais saudáveis ​​como indivíduos ao adotar uma dieta mais diversificada, com mais legumes e verduras, e também podemos tornar o planeta mais saudável cultivando esses alimentos de maneiras mais sustentáveis".

 

Além das opções de consumo e estilo de vida, outros autores acreditam que as pessoas podem fazer a diferença por meio da política.

 

"Pode ser mais importante para a sociedade investir mais em energias renováveis ​​do que em carvão", afirma Rinku Roy Chowdhury, da Universidade Clark, em Massachusetts, nos EUA.

 

"Mas como você faz isso? Pelo comportamento individual, na cabine de votação."

 

"Em vez de apenas economizar energia apagando as luzes, alguns meios menos óbvios podem ser por meio da ação política." (BBC Brasil)