O jornalista do Centro de Jornalismo Investigativo (CJI), Luís Nhachote, acusa a empresa Montepuez Ruby Mining (MRM) de querer lavar a cara ao denunciar o seu artigo no Conselho de Imprensa da África do Sul.
Em causa está um artigo produzido pelo jornalista e publicado nos jornais sul-africanos Mail&Guardian (intitulado “Cabo Delgado é uma zona de guerra, mas os especuladores estão fazendo um comércio estrondoso”) e The Continent (num artigo intitulado “Cabo Delgado é uma zona de guerra, mas os aproveitadores ficam ricos”) e que mereceu abertura de um processo, movido pela Gemfields Ltd., accionista maioritária da MRM.
O Conselho de Imprensa da África do Sul anunciou em 14 de fevereiro de 2022 através de seu site a decisão no caso de Gemfields Ltd e Montepuez Ruby Mining Limitada (“MRM”) vs The Continent and Mail & Guardian.
O Conselho de Imprensa considerou que o artigo do Sr. Nhachote violava as disposições 1.1, 1.2, 1.7, 1.8. e 10 do Código de Imprensa sul africano. As infrações foram classificadas como de Nível 2 (graves). As violações incluíram “o uso de manchetes enganosas, informando incorretamente sobre valores monetários, sugerindo erroneamente propriedade opaca e não proporcionando à Gemfields e à MRM uma oportunidade justa de comentar”.
O Conselho de Imprensa ordenou que The Continent e Mail & Guardian publiquem um pedido de desculpas, efectuem correções e forneçam um direito de resposta a Gemfields e MRM.
Esta é a segunda vez que o Conselho de Imprensa sanciona trabalhos de jornalistas que trabalham para o Centro de Jornalismo de Investigação de Moçambique. Em maio de 2016, o Conselho de Imprensa constatou que um artigo de autoria do jornalista Estácio Valoi e publicado no Mail & Guardian intitulado “Aldeões cavando rubis ‘tirados e deixados para morrer” criava, inter alia, sem justificativa suficiente, a impressão de que a MRM e por associação também os Gemfields estavam de uma forma ou de outra envolvidos no assassinato de pessoas na área e que, dada a total falta de provas de apoio, a criação de tal impressão pelo jornal não se justificava.
“A Montepuez Ruby Mining pretende lavar a cara em relação a uma e outra imprecisão, mas todos os factos narrados no artigo que eu escrevi são verificáveis”, explicou Luís Nhachote, em conversa com “Carta”, sobre a decisão anunciada no passado dia 14 de Fevereiro.
“Recebi uma notificação por escrito de 27 páginas e respondi em fórum próprio por escrito, mas não estou espantado que a Montepuez Ruby Mining tenha procedido ou que esteja a veicular a decisão, porque sentiu a sua honra beliscada. Mas os factos estão lá. Todos os anos, a Montepuez Ruby Mining extrai rubis e ganha milhões em rubis extraídos de uma província que está em guerra”, sublinhou. (Carta)