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Maputo -

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31 de Março, 2025

“Escassez” de combustíveis ou gargalos na cadeia de abastecimento?

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Nos últimos dias, verificam-se dificuldades no abastecimento de combustível em várias zonas do país, incluindo partes das cidades de Maputo e Maputo, os epicentros do Grande Maputo, com relatos de postos sem disponibilidade de gasolina e gasóleo. A situação não parece resultar de uma escassez efectiva do produto, mas de desafios logísticos no transporte e distribuição do combustível.

“Carta” visitou diversas bombas na cidade de Maputo para apurar a realidade do fornecimento. Constatou-se que, em alguns postos, não há falta de combustível, mas um atraso na chegada dos camiões que fazem o abastecimento. Esta situação foi evidenciada, por exemplo, na estação localizada na Avenida Eduardo Mondlane, no cruzamento com a Avenida Filipe Samuel Magaia. Funcionários do posto relataram que “os camiões de combustível demoram chegar”, o que tem gerado alguma apreensão entre os clientes.

Por outro lado, na bomba próxima à Igreja Universal, na Avenida 24 de Julho, contígua às escolas Primária do Alto-Maé e Secundária e Pré-Universitária Francisco Manyanga, o fornecimento decorre sem constrangimentos. No momento da visita, a reportagem verificou que a distribuição estava a fluir normalmente, sem sinais de interrupção ou escassez.

Já em outro ponto do mesmo bairro, o cenário foi diferente. No momento em que a equipa esteve no local, as bombas visitadas não possuíam combustível disponível para os clientes. No entanto, os responsáveis descartaram a hipótese de uma escassez generalizada e apontaram, mais uma vez, dificuldades logísticas como a principal razão para a situação. Os camiões de abastecimento ainda não haviam chegado, deixando os postos temporariamente inoperantes.

Situação nas outras províncias

A problemática não se limita à capital. Nas outras províncias do país, a situação tem sido ainda mais crítica. Em Quelimane, na província da Zambézia, a cidade enfrentou escassez de combustíveis devido à interrupção da Estrada Nacional Nº 1, em Mogovolas, Nampula, causada pela Tempestade Tropical Jude. Essa interrupção afectou a chegada de viaturas que transportam combustível do porto de Nacala para Quelimane. As autoridades locais estimaram que a situação seria normalizada em cerca de três dias.

Na cidade de Xai-Xai, província de Gaza, desde o final de Dezembro de 2024, a escassez de combustíveis líquidos é pão de cada dia. Das 10 principais bombas da cidade, apenas uma possuía stock de gasolina, resultando em longas filas de automobilistas. A escassez afectou significativamente o transporte de passageiros e de carga, obrigando muitas pessoas a percorrer longas distâncias a pé. As autoridades locais atribuíram a situação às manifestações que dificultaram a circulação de camiões transportando combustível.

Já em Nampula, a crise de combustíveis atingiu níveis alarmantes no final de Dezembro de 2024. Diversas bombas ficaram sem produto e as poucas que abasteciam registaram longas filas. Automobilistas relataram esperar horas para conseguir abastecer os seus veículos. As dificuldades no descarregamento de navios no porto de Nacala foram indicadas como um dos principais motivos da crise.

A nível nacional, as manifestações violentas ocorridas recentemente resultaram na vandalização de cerca de 100 postos de abastecimento de combustíveis, agravando ainda mais a situação. Apesar desses desafios, o Ministério dos Recursos Minerais e Energia assegurou que o país dispõe de combustíveis para os próximos três meses e que a escassez verificada nos terminais de abastecimento foi causada pelas restrições na circulação devido às manifestações.

Apesar de ser aparente e não real, o colapso total no fornecimento de combustíveis, os atrasos na recepção do produto e os desafios na logística de distribuição têm gerado inquietação entre os consumidores e operadores do sector. A expectativa dos agentes do sector e dos consumidores é que a situação seja rapidamente normalizada com a chegada dos camiões, garantindo o regular funcionamento dos postos e evitando especulações sobre uma possível crise de combustíveis em escala nacional.

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