O Governo moçambicano arrecada 35 milhões de dólares por ano de impostos de importação de vestuário de segunda mão (VSM), refere um estudo intitulado “Situação actual do mercado de vestuário em segunda mão em Moçambique: Oportunidades e desafios”, lançado na quarta-feira em Maputo.
O estudo foi realizado pela organização não-governamental (ONG) Ajuda de Desenvolvimento de Povo para Povo (ADPP).
As receitas fiscais angariadas com as importações de roupa de segunda mão ajudam a “financiar programas sociais muito necessários, como os cuidados de saúde e a educação”, refere a avaliação da ADPP.
A análise avança que pelo menos 80% da população moçambicana depende de vestuário de segunda mão, para a satisfação das necessidades básicas de roupa.
“A disponibilidade de vestuário a preços acessíveis cria uma margem orçamental para outras despesas importantes do agregado familiar, como a alimentação, a habitação e a educação”, diz o estudo.
O sector de VSM é um empregador importante, embora predominantemente informal, num contexto de taxas de desemprego elevadas, lê-se no estudo.
“Os vendedores de VSM são comuns nas zonas de grande afluência nas principais cidades e nos bairros”, lê-se no documento.
Nos últimos cinco anos, prossegue o texto, Moçambique importou cerca de 36.750 toneladas de roupa usada por ano e a procura por este tipo de vestuário tem crescido a uma taxa anual de 3,5%, destaca o estudo.
“A nossa análise sugere que uma tonelada de importações de VSM assegura cerca de 7,8 postos de trabalho, tanto de forma directa ou indirecta. (…). Pelo menos 85% das pessoas empregadas através do VSM são também as principais responsáveis pelos rendimentos dos respectivos agregados familiares”, avança-se no estudo.
Com base nesses números, continua o estudo, pode inferir-se que pelo menos 1,1 milhões de moçambicanos são directamente dependentes do sector e muitos operadores da área contam histórias de sucesso, através de ganhos que têm angariado neste domínio.
Brian Mangwiro, que apresentou o sumário executivo do estudo, disse na ocasião que a análise desmistifica percepcões como VSM destrói a indústria têxtil africana e rouba empregos.
“As indústrias manufactureiras já estavam falidas bem antes da chegada da roupa usada”, afirmou Mangwiro, zimbabwiano.
Assinalou ainda ser falsa a ideia de que o VSM é um desperdício, que é propalada no ocidente, sustentando que o sector cria empregos, gera o ganha-pão para milhares de famílias e receitas fiscais para o Estado.