Não passaram 24 horas, sem que o Banco de Moçambique tivesse uma resposta da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), em relação ao agravamento, ontem, da Taxa de Juro de Referência (Prime Rate), na ordem de 0,4%, tendo passado dos anteriores 18% para 18,4%.
Em comunicado, a que “Carta” teve acesso, a CTA defende que o regulador do sistema financeiro moçambicano, para além de olhar no nível de taxa de juro, deve “olhar com maior flexibilidade no mercado cambial interbancário, disponibilizando divisas para as exportações essenciais” durante este período, em que a economia moçambicana sentirá os efeitos da pandemia do Covid-19, que já infectou oito pessoas no território nacional e mais de 860 mil em todo mundo.
“Sabe-se que as empresas exportadoras estão em situação difícil ou devido ao efeito dos preços das commodities, com destaque para a agricultura, que caíram abruptamente ou pela dificuldade de encontrar mercados abertos que procurem stocks. Isto, de per si, cria dificuldades de geração de divisas e, numa altura em que as empresas procuram prover o mercado por bens essenciais importados, então o Banco de Moçambique tem palavra a dizer, disponibilizando divisas”, afirma a CTA, sublinhando que a linha introduzida de 500 milhões de USD para o Mercado Cambial Interbancário “não é flexível e/ou mais indicada medida”.
“Devia ser medida mais flexível, como a injecção através venda de moeda estrangeira, o que ajudaria o próprio Metical”, entende a organização.
No documento de duas, em que os patrões reagem à última decisão do Banco Central, de agravar a Taxa de Juro de referência de 18% para 18,4%, lê-se que com esta subida (a primeira desde a criação desta taxa, em Junho de 2017, com valor de 27,75%) “as obrigações das empresas com a banca, neste período difícil, serão ainda maiores que o período anterior que a situação era, relativamente, melhor”.
Recorrendo ao estudo por si encomendado, a agremiação dos “empresários” refere que o Covid-19 não só irá afectar o tecido empresarial, como também o sector bancário, pois, “uma vez que, por conta dos impactos que esta pandemia irá causar, grande parte dos tomadores dos créditos bancários terão dificuldades de honrar com as suas obrigações, sendo que o serviço de dívida de créditos bancários será uma delas”.
Na sua análise, a CTA apresenta dois cenários que poderão jogar contra o sector bancário, caso as empresas não consigam cumprir com as suas obrigações. Primeiro, é que pode haver um incumprimento que pode “gerar aumento do crédito mal parado no sistema, obrigando os bancos comerciais a criarem provisões o que, por sua, consumirá ainda mais liquidez” e, segundo, poderá haver “redução da receita dos bancos – a empresa, ao não cumprir com a sua obrigação com o serviço da dívida, faz o banco perder a sua receita esperada, correspondente ao juro que iriam obter periodicamente em resultado do crédito cedido”.
Nas contas da CTA, devido aos efeitos do novo coronavírus, o sector financeiro tem um potencial de registar incumprimentos adicionais estimados entre 3.3 mil milhões e 6.6 mil milhões de Mts. “Este cenário poderá ter impacto no crescimento do sector financeiro, fazendo com que este apresente uma taxa de crescimento compreendida entre -2% e 3.6%, relativamente abaixo do seu potencial crescimento estimado em 9% para 2020”, considera a fonte.
Por isso, para minimizar qualquer situação de incumprimento, a agremiação entende que o sector bancário e as empresas devem encontrar possíveis saídas que aliviem as obrigações das empresas, durante este período.
“As medidas do Banco de Moçambique de autorizar a não constituição de provisões adicionais pelas instituições de crédito (bancos comerciais) nos casos de renegociação, abrem espaços para reestruturar a dívida do sector privado e são necessárias acções urgentes para não falhar o timing das medidas”, defende.
Refira-se que no seu recente estudo, a CTA defende o corte da taxa de juro da Política Monetária (MIMO) em 6.20 pontos percentuais, considerando que “poderá ser imediatamente repassado, na sua totalidade, para a ‘prime rate’ do sistema financeiro”, conduzindo a redução desta (Taxa Prime Rate) dos actuais 18% para 11,8%. (Carta)