Para mitigar o impacto nefasto provocado pela Covid-19 nos negócios, mais de 700 produtores de frango que operam na Cidade de Maputo e, actualmente, sem mercado (não há festas e, para o cúmulo, frangos contrabandeados continuam a entrar no país), estão há dois meses de olhos postos no Ministro da Indústria e Comércio, Carlos Mesquita, revelou esta quinta-feira (09), à “Carta”, a Presidente da Associação dos Avicultores de Maputo, Fátima Mussagy.
Em entrevista sobre o impacto da crise motivada pelo novo coronavírus, Mussagy disse que, em uma das visitas do Ministro, a Associação apresentou as preocupações da classe. “Após o Ministro ouvir-nos, mandou fazer um levantamento dos associados severamente afectados. Feito o trabalho, enviamos a lista com o conhecimento da Secretária do Estado da Cidade de Maputo, Sheila Santana, mas passados mais de dois meses não vemos resposta”, lamentou a nossa interlocutora.
O clamor dos avicultores está na criação de uma linha de financiamento com taxas de juros bonificadas e que atenda às particularidades dos produtores de frango, cuja maioria não tem empresas registadas.
Sem esse financiamento, Mussagy deu a entender que o negócio de muitos avicultores é futuramente incerto. “É que, neste momento, não há xitiques, casamentos, festas. Quer dizer, não há mercado. Por exemplo, quem antes da pandemia fazia 20 mil frangos, agora produz 3 mil, mas também com dificuldades. Em geral, diria que a produção e vendas dos vários avicultores caiu para menos de 10% em média”, queixou-se a avicultora.
Diante da falta de mercado, a nossa entrevistada apontou vários prejuízos. Explicou que, por um lado, os avicultores perdem por ter de alimentar muitos frangos sem comprador e, por outro, acumulam prejuízos com a redução de receitas.
Para além da crise pandémica, a Presidente dos Avicultores de Maputo associou a falta de mercado à concorrência desleal do frango que entra em Moçambique em esquemas de contrabando, embora ultimamente o cerco tenha sido apertado. “Isto acontece numa altura em que, após encerramento das fronteiras, o Governo exortou-nos a produzir mais para abastecer o mercado nacional, mas não há compradores. Os matadouros estão cheios de frango congelado também sem mercado. O poder de compra das pessoas, algumas sem emprego, baixou por causa da crise”, acrescentou a fonte.
Para mitigar prejuízos decorrentes da falta de mercado, a Presidente dos Avicultores de Maputo defende a criação de uma linha de financiamento para os produtores de frango. Embora ciente da existência de duas linhas de financiamento, recentemente lançadas pelo Banco Nacional de Investimento (BNI) e Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), nos valores de Mil milhões de Meticais e 600 milhões de Meticais, respectivamente, e com taxas de juros bonificadas (entre 07% a 12%), Mussagy acredita que muitos avicultores não vão ter acesso, por não estarem registados como empresas.
Todavia, a líder dos Avicultores de Maputo apresentou uma saída: “O Governo pode bem ajudar os avicultores não inscritos a financiarem-se, através de uma carta abonatória”, disse.
Mussagy lembrou igualmente que a crise chegou numa altura em que os avicultores tentavam reerguer-se dos prejuízos causados pelo calor intenso que matou milhares de pintos e deitando abaixo lucros dos produtores de frangos. (Evaristo Chilingue)