Sou co-proprietário de uma pequena empresa e, infelizmente, todo o equipamento que utilizamos tem de ser importado. Necessitando de renovar o equipamento, a empresa pede um financiamento ao banco numa modalidade criada para apoiar empresas em dificuldades. Entretanto, o Banco nega porque a empresa está em dificuldades, uma situação difícil de entender porque, afinal, o fundo foi criado para empresas em dificuldades!
Recorrendo a reservas pessoais, é injectado o dinheiro em causa para importar o equipamento necessário, cujo valor é de oitocentos mil meticais (cerca de 12 mil dólares americanos). Na sequência, solicita-se ao Banco para efectuar a transferência, mas o banco declara que não o pode fazer porque não tem divisas. Pergunta-se ao Banco quando o pode fazer e diz que não sabe.
Pede-se uma declaração da empresa fornecedora para dar um prazo de pagamento de seis meses, mas o Banco recusa-se a passar o termo de compromisso necessário à importação.
Sem desistir, arranja-se um “bom samaritano” que oferece o equipamento e agora solicita-se ao Banco para passar um termo de compromisso de donativo, isto é, não há qualquer exportação de divisas, nem o banco terá de fazer absolutamente nada. Entretanto, mais uma vez, o Banco diz que não pode fazer e as alfândegas, por sua vez, dizem que, sem a declaração do Banco, não podem autorizar a passagem da mercadoria na fronteira. Enfim, nenhuma solução se torna possível.
Isto deve estar a acontecer com todas as empresas, a não ser que haja empresas mais iguais que outras. O impacto na economia real no país deve ser estrondoso e acredito que muitos optem por fechar as empresas ou por medidas ilegais. Que o país não tenha divisas pode ser percetível, mas que não se deixe as empresas procurarem soluções alternativas para se manterem em actividade, criando dificuldades de toda a ordem, é lesivo ao país.
PS: Depois de escrever este texto, os limites de pagamentos com cartões de débito e crédito pessoais foram aumentados. O valor que tentamos desesperadamente pagar para uma actividade económica pode ser pago, em apenas dois dias, por alguns dos limites colocados para actividades pessoais. Razões que só a razão desconhece, mas que claramente violentam a nossa já muito débil situação económica. O resultado vai ser mais empresas na falência e um gasto de divisas em consumos pessoais e claramente luxuosos.
*AP – Leitor devidamente identificado