Eram cerca das 7h30 desta Segunda-feira, 23, quando começaram a chegar ao tão protegido Estabelecimento Penitenciário de Máxima Segurança (vulgo B.O.) diferentes entidades interessadas em acompanhar o processo. O ambiente era de ansiedade. Todos estavam ávidos em acompanhar a abertura do julgamento do maior escândalo financeiro já registado na República de Moçambique. O recinto, habitado pelos reclusos mais temidos da Pérola do Índico, recebia esse momento solene do Processo de Querela n.º 18/2019-C, muito aguardado pela sociedade moçambicana e pela comunidade internacional.
Uma hora depois, chegavam os advogados dos arguidos, entre eles Rodrigo Rocha, Mpasso Cambledge, Damião Cumbane, Alexandre Chivale, Abdul Gani e, numa viatura da marca El Grand, os oficiais da 6ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, carregando pastas e malas de cor preta, cheias de papel e de materiais de trabalho.
No recinto, as conversas fluíam num ambiente descontraído, feliz e sério entre jornalistas, advogados, membros de algumas organizações da sociedade civil e de partidos políticos. Todos apresentavam suas versões e expectativas sobre o caso. Os repórteres de TV faziam entrevistas em directo e narravam o que viam no recinto. Foi um momento de reencontros e captação de fotos e imagens que ficarão para a história.
Do lado exterior tudo estava a postos, com as três tendas, uma reservada para os “players” do processo, uma para os comentadores e apresentadores da Televisão de Moçambique e outra para os escribas do papel e da caneta. E, nos telhados dos escritórios da B.O, homens fortemente armados trajados de farda do SERNAP e com máscaras “ninja”, controlavam o local.
Por volta das 9h00, entraram na tenda das revelações o Juiz Ifigénio Baptista e a Magistrada do Ministério Público, Ana Sheila. Com as partes já posicionadas e sentadas, iniciava o julgamento dos 19 arguidos do processo das “dívidas ocultas” que, desde 2013, alteraram negativamente a imagem de Moçambique no palco das nações, tendo os parceiros internacionais cortado o seu apoio directo ao orçamento do Estado.
Os escribas sentados diante de uma tela, em cadeiras plásticas de cor preta, foram acomodados numa sala sem internet e com uma tomada de três espaços para mais de 15 laptops. Na tenda das revelações, alguns advogados iam deixando a sua marca, interrompendo o Juiz Ifigénio Baptista para irem a casa de banho. E quando Baptista também sentiu necessidade de urinar, ele interrompeu a sessão para um breve intervalo. Eram 12H53.
Neste intervalo, no recinto, o arguido António do Rosário deixou a sua marca, saudando e abraçando jornalistas, advogados e uma longa conversa com o deputado da Renamo, Venâncio Mondlane. Minutos antes, na sala de audiência, o juiz puxou as orelhas a António Rosário pela forma como se sentava e se ria sentado e às gargalhadas. Daquele curto intervalo, António Carlos do Rosário, voltou a atrasar-se ao regressar à sala. (Omardine Omar, na B.O.)