Teófilo Francisco Pedro Nhangumele, o segundo arguido do processo das “dívidas ocultas” a ser ouvido pelo Tribunal, no âmbito do julgamento que decorre pelo quinto dia consecutivo na Penitenciária da Máxima Segurança (vulgo B.O.), voltou esta sexta-feira ao Tribunal para responder às questões da Ordem dos Advogados de Moçambique (na qualidade de assistente) e da defesa.
Ao Tribunal, o arguido, apontado como o “mentor” do projecto, começou por dizer que não tinha qualquer relação com o SISE (Serviço de Informação e Segurança de Estado), quando questionado pelo assistente se tinha consciência de que estava a colaborar com aquele órgão de segurança do Estado.
Sublinhou que a sua ligação era apenas com Cipriano Mutota, seu amigo e oficial da secreta moçambicana. Aliás, revelou que aquele não era o único trabalho que realizava com Cipriano Mutota, assim como não foi a única reunião em que participou na presença do seu colega da faculdade. Refira-se que, na sua audição, Cipriano Mutota afirmou que Teófilo Nhangumele era colaborar do SISE, porém, na clandestinidade.
Na qualidade de professor de ética, tal como disse no seu primeiro dia de audição (quarta-feira), a defesa quis saber se considerava ético transformar-se de tradutor e interprete para autor do projecto, tendo respondido que não havia qualquer conflito de interesse. Tal como Cipriano Mutota, Nhangumele negou de revelar quem tinha tomado a decisão para ele participar da elaboração do projecto.
A defesa também quis saber se considerava ético partilhar escritórios com a MULEPE, uma empresa pertencente à quadros superiores do SISE, tendo dito que não via qualquer problema.
Quem também quis saber do nível de moral e ética de Nhangumele foi o assistente, que quis saber se este considerava ético, por um lado, elaborar projecto de protecção costeira e, por outro lado, ser representante dos interesses da empresa fornecedora dos serviços e equipamentos, ao que respondeu não haver qualquer problema, pois, as partes sentiam-se confortáveis com os seus serviços. Ou seja, não há qualquer problema em “comer em todos lados”, tal como referiu na audição desta quinta-feira.
Aliás, Teófilo Nhangumele disse não ter consciência de que o Estado moçambicano tenha sido prejudicado com as dívidas contraídas pela PROINDICUS, MAM e EMATUM junto do Credit Suisse e do VTB, pois, o projecto era privado e o Estado apenas seria avalista.
Teófilo Nhangumele não se arrepende de ter participado na elaboração do projecto que lesou o país e reafirma que fará mais projectos, pois, ama Moçambique. O arguido nega que tenha formado uma associação para delinquir e que os restantes membros do projecto entraram nas diferentes fases do processo por necessidade.
Sublinhar que, tal como na quinta-feira, Teófilo Nhangumele voltou a contradizer-se nas suas declarações. Por exemplo, disse que a sua viagem à Alemanha visava levar António Carlos do Rosário, oficial do SISE, aos estaleiros da Privinvest, porém, num outro momento, afirmou que só teve conhecimento de que Do Rosário era quadro da secreta moçambicana na Alemanha. (A.M.)