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23 de Agosto, 2022

ELEIÇÃO DE ADALBERTO COSTA JUNIOR: UMA RECONDUÇÃO DAS ELITES NEOPATRIMONIALISTAS, CORRUPTAS E SANGUINÁRIAS QUE DESILUDIRAM E TRAIRAM SONHOS DOS ANGOLANOS

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Com a sua ascensão ao poder, em 2017, João Lourenço tinha duas opções, a saber: manter o establishment criado e consolidado pelo seu antecessor, Eduardo dos Santos, durante os seus 38 anos na direcção dos destinos de Angola como uma nação (1979-2017); ou, criar uma ruptura com o neopatrimonialismo político e económico que caracterizou a governação do Zédu.

 

No seu longo percurso de governação, Eduardo dos Santos criou uma teia complexa de corrupção, envolvendo seus filhos, familiares, amigos, generais (antigos combatentes do governo e da UNITA, cooptados para não cogitar a possibilidade de regressar as matas e atrapalharem suas contas de manter-se no poder por longos anos).

 

José Eduardo dos Santos criou um Estado à sua imagem e semelhança (Estado Família) ou um verdadeiro regime neopatrimonialista, com seus filhos e várias figuras a si ligadas a controlarem sectores nevrálgicos na geração da riqueza e desenvolvimento da economia angolana. São os casos da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangola) e Fundo Soberano, que eram as galinhas de ovos de ouro de Angola cuja sua direção máxima era assumida por Isabel e José Filimone dos Santos, respectivamente. Ainda na busca da consolidação de um “Estado Família” Zédu colocou, nas eleições de 2017, a sua filha, Welwitschea José dos Santos, mais conhecida por Tchizé dos Santos como deputada da Assembleia Nacional, onde assumiu o cargo de primeira vice-presidente do Grupo de Mulheres Parlamentares de Angola, do qual são membros todas as deputadas de todos os partidos políticos e coligação com assento no parlamento.

 

Uma das filhas do antigo homem mais forte de Angola, Isabel dos Santos, foi considerada a mulher mais rica e poderosa de África e, segundo a revista Forbes, a sua fortuna alcançara a marca dos mil milhões de dólares no início de 2013, passando a três mil milhões de dólares, em menos de um ano. Em 2016, ela assumiu a gestão da Sonangol. Isabel dos Santos tem participações na empresa de telecomunicações Unitel, na Santoro Finance, na Efacec Power Solutions e na rede de hipermercados Candando, entre outros. Como foi retro mencionado, o seu irmão, José Filimone dos Santos assumiu a gestão máxima do fundo soberano angolano, entre 2013 à 2017.

 

Enquanto por um lado, o neopatriminialismo político e económico criado por Eduardo dos Santos deve ser entendido como uma ordem política na qual quem rodeava o príncipe participava do processo de apropriação, por outro, destaca-se elementos que favoreciam a personalização da autoridade e a confusão entre espaço público e espaço privado. Deste modo, a governação de Zédu foi caracterizada pelas enormes dificuldades em compreender os seus limites de actuação e teve a máquina estatal como um instrumento ao serviço dos seus interesses privados e dos que por ele eram coopatados (clientes) e legitimados para fazer parte da máquina.

 

Perante o cenário acima descrito, Joao Lourenço tinha poucas opções: manter a estrutura corrupta e neopatrimonialista, criada pelo Zédu e que acomodava os apetites dos príncipes e princesas da antiga família real de angola e das elites ligadas ao “monarca”, ou concertar o pais. Entretanto, não seria possível uma concertação sem dor. Aliás, numa das suas primeiras visitas presidências à Portugal, João Lourenço teria dito ter noção de que o verdadeiro combate à corrupção em Angola criaria choro e ranger de dentes. Foi nesta senda que teria afirmado que ao escolher o caminho de combate à corrupção sabia que estava a mexer com o ninho dos marimbondos ou vespas.

 

A coragem e assertividade de João Lourenço no que concerne ao combate à corrupção tem incomodado as elites económicas e politicas ligadas ao regime do Zédu, incluindo seus filhos que enriqueceram usando Estado como vaca leiteira. Na verdade, estes é que constituem o ninho dos marimbondos e que hoje uniram-se para destilar o seu veneno contra João Lourenço e combate-lo a todo custo.

 

Portanto, é nesta lógica que na corrida ao poder em curso, em Angola, Adalberto Costa Júnior aliou-se às elites ligadas aquele que transformou Angola e seus recursos num quintal privado, saqueando-os em benefício próprio e daqueles que lhe prestaram lealdade. Ao aceitar esta aliança, o Júnior tornou-se num instrumento ao serviço das antigas elites corruptas do MPLA, incluindo dos filhos de Zédu cuja justiça está ao seu encalço. Caso os angolanos decidam, amanhã (24 de Agosto), eleger ao Adalberto Costa Júnior, como seu Presidente, será, por um lado, o símbolo da vitória e o regresso ao poder da elite corrupta e sanguinária do MPLA que desiludiu e traiu as expectativas de angolanos, durante 4 décadas. E a derrota de João Lourenço será, por outro lado, o fim do progressista que ousou sonhar e lutar por uma Angola livre da corrupção e dos crimes do colarinho branco.

 

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