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1 de May, 2025

PEDRA A PEDRA: UM CÂNTICO AO TRABALHO

Escrito por

“Labor” — palavra ferida.
Antes de ser obra, foi dor.
Antes de ser máquina, foi mão.
Antes de ser canto, foi lamento.

O trabalho é sofrer.
É nascer no mundo com a nudez do esforço,
sob um sol que não perdoa e um chão que exige tudo.
Na aurora das nossas culturas,
onde o tempo não sabia de relógios,
apanhávamos o dia com as costas,
e com as mãos — com as mãos! —
esculpíamos o pão.

O nosso labor começou acorrentado.
Levados para longe,
fomos braços que não escolhiam.
Corpos que não decidiam.
Força sem vontade.
História sem palavra.
E esse sofrimento alastrou-se
como praga nos séculos,
desde os porões negreiros até às plantações e minas
da vergonha colonial.

Trabalhámos sem direito.
Sem terra.
Sem nome.
Mas com suor.
Com lágrima.
Com uma esperança silenciosa —
de que um dia o trabalho seria nosso.

Veio então a revolução.
Veio a bandeira erguida ao céu da liberdade.
E com ela, a promessa:
contar com as nossas próprias forças.

Mas talvez não soubemos o que era contar.
Talvez somámos mal.
Talvez dividimos demais.
Talvez esquecemos que “nossas forças”
só têm sentido se forem de todos,
se forem para todos.

Hoje, os jovens sofrem.
Não por falta de trabalho,
mas por falta de lugar no mundo do emprego.
Há muito por fazer,
mas ninguém quer pagar por fazer juntos.
Há campos por lavrar,
mares por cuidar,
escolas por levantar,
estradas por ligar.
Mas falta-nos visão.
Falta-nos tecnologia.
Falta-nos cooperação.
Falta-nos confiança.

Trabalhar não é sofrer apenas.
Trabalhar é resistir.
É transformar.
É construir sentido no mundo.
É ser ponte entre o ontem e o amanhã.
É inventar a técnica que prolonga o humano
sem o apagar.

Celebrar o 1º de Maio não é desfilar fantasmas.
Não é apenas erguer punhos fechados.
É abrir as mãos —
e nelas carregar a pedra do futuro.

Pedra a pedra.
Construamos não só um novo dia,
mas um novo modo de estar juntos.
Solidários não só na tarefa,
mas no fruto.
Trabalhadores não só do suor,
mas do saber.
Parceiros não só da dor,
mas da esperança.

Se cada um, com o que sabe e com o que tem,
se unir ao outro com o que falta,
então a obra nascerá.
Não como monumento de heróis,
mas como chão de justiça.
Como pão para os nossos filhos.
Como escola para os nossos netos.
Como hospital onde a ciência seja nossa.
Como economia que começa na terra
e floresce na dignidade.

Então sim, o trabalho será libertação.
E o 1º de Maio,
não memória de sofrimento,
mas alvorada de um novo pacto.

SN

Sir Motors

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