Tomemos como exemplo um pedreiro lá do bairro. Um pedreiro que promete, ao dono de uma obra, fazer uma casa em cem dias: cimentar o chão, cobrir o tecto, colocar azulejos, abrir uma fossa, fazer um guarda-fato com boas medidas para esconder as amantes e rebocar todas as paredes.
Passados cem dias, não é o pedreiro que deve correr e ir desenterrar a lista de promessas e justificá-la ao dono da obra. É o dono da obra que deve pegar na lista de promessas e aí averiguar o que foi feito ou não. A voz do pedreiro, nesse instante, só justifica e responde às perguntas do dono da obra. Já não é a voz principal, é a segunda voz.
Uma promessa é algo que se dá ao prometido e fica com ele; por isso, podemos dizer “o pedreiro deu ao dono da obra a promessa de terminar a casa em cem dias”. E passados cem dias, o dono da obra deve ir às gavetas recuperar a promessa que foi dado e apresentá-la ao pedreiro. Não é o pedreiro a fazer isso: é o dono da obra.
Quando tu prometes uma boa noite de amor a uma mulher, não podes correr, na manhã seguinte, para enumerar o que fizeste e o que deixaste de fazer: é a mulher que, bem deitadinha com a metade da cara enterrada no lençol, deve falar de tudo que fizeste dentro da tua lista de promessas! E só depois disso tu falas e só depois disso tu justificas a pouca garra que tiveste quando mudaram de posição.
Lá no casamento, tu dás a promessa de ser fiel e um bom marido; a senhora conservadora regista tudo, fica com a promessa . Quando conheces uma boa gaja e já queres pedir separação, a senhora conservadora puxa o livro onde registou a tua promessa e faz comparação. E só depois disso, tu falas os porquês que te levam a mendigar a separação.
Sérgio Raimundo – Militar