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16 de April, 2025

A África tem um papel crucial na próxima eleição para Secretaria-Geral da ONU

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Discretamente, a próxima corrida para o cargo de Secretário-Geral da ONU, que culminará em 2026, já começou – e é um bom momento para refletir sobre o fato de que nunca houve uma mulher liderando a organização em seus 80 anos de existência. Embora a escolha da próxima liderança ocorra somente em 2026, já é hora de começar a pensar que perfil estará melhor posicionado para promover os princípios de justiça e igualdade e moldar a diplomacia global. À medida que o processo avança, a África aproveitará o momento para afirmar seu poder coletivo ou permitirá que divisões diluam sua influência?

Embora o tema possa parecer distante das prioridades políticas imediatas, suas implicações são profundas. A liderança selecionada moldará a diplomacia global, conduzirá a cooperação multilateral e abordará os desafios definidores de nosso tempo.

Em 2014, a campanha 1 for 7 Billion (1 por 7 bilhôes) conseguiu pressionar por transparência no processo de seleção para Secretário-Geral, abrindo-o para escrutínio e debate públicos. Agora, sua sucessora, a campanha 1 for 8 Billion, avança com um apelo ousado: é hora da primeira mulher Secretária-Geral – uma líder feminista, que incorpore os princípios de justiça, igualdade e inclusão, que reconheça a discriminação contínua contra mulheres e indivíduos com identidades de gênero não normativa, bem como a natureza interconectada da discriminação baseada em gênero, raça, classe e outros fatores.

O papel da África neste momento decisivo é inegável. Com 54 nações, o continente representa o maior bloco de votação na Assembleia Geral da ONU. Este bloco demonstrou poder coletivo nos últimos anos, sobretudo ao garantir um assento para a União Africana no G20. Nas próximas décadas, nenhum outro continente terá um crescimento demográfico comparável ao africano. Apesar disso, a África permanece excluída de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU – um forte lembrete das desigualdades duradouras na governança mundial. Os próprios Estados-membros destacaram essa contradição no Pacto para o Futuro (ver Ação 39).

Isso torna a posição da África na próxima eleição ainda mais significativa. Ao se unir em torno de uma única candidata mulher, os líderes africanos têm uma chance histórica – podem remodelar fundamentalmente as dinâmicas desse processo. É uma oportunidade para que o continente se afirme como força unificada, estabelecendo um poderoso exemplo de solidariedade. Dez Estados africanos já são cossignatários da declaração conjunta sobre a representação de mulheres em cargos de liderança da ONU. E de acordo com um novo rastreamento, quase todos os Estados africanos ao menos indicaram, mesmo que tática ou indiretamente, apoio a uma mulher feminista como a próxima Secretária-Geral.

O momento é crítico. O mandato da próxima Secretária-Geral coincidirá com momentos políticos-chave e com possíveis reformas, incluindo a tão esperada reestruturação do Conselho de Segurança e a etapa decisiva para revitalizar a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. A próxima líder da ONU deve priorizar essas questões. Ela também terá que abordar as desigualdades estruturais que marginalizaram por muito tempo as vozes do Sul Global.

Uma candidata mulher feminista apoiada pela África simbolizaria uma ruptura com o status quo. Durante décadas, a ONU pediu que os Estados-membros priorizassem a igualdade de gênero e defendessem a liderança feminina. No entanto, apesar de alcançar a paridade de gênero nos níveis seniores da ONU, os Estados-membros nunca nomearam uma mulher para seu cargo mais alto. Se todas as nações africanas se unirem por trás de uma líder feminista qualificada, podem dar uma demonstração dos princípios que a própria ONU defende – justiça, inclusão e equidade.

Ter uma mulher feminista como Secretária-Geral seria um passo significativo em direção à igualdade de gênero dentro da ONU e um símbolo poderoso para a liderança feminina a nível global. Líderes mulheres feministas trazem uma perspectiva crítica, desafiando barreiras sistêmicas e promovendo políticas inclusivas em vários setores, beneficiando todas as partes envolvidas. Uma líder mulher fortaleceria a autoridade moral da ONU em questões como direitos das mulheres, igualdade de gênero e justiça social. Ademais, cabe considerar que, diante do colapso climático, que afeta desproporcionalmente as mulheres, e do aumento de conflitos, precisamos urgentemente de cooperação, inovação e de uma ONU eficaz.

Com os Estados Unidos e a Europa recuando cada vez mais para o nacionalismo e o “umbiguismo político”, caberá a outras regiões do mundo conduzir a reestruturação das organizações multilaterais.

Além disso, esse movimento inspiraria outros blocos regionais a reconsiderar suas abordagens fragmentadas. Isso os encorajaria a focar em apoiar candidatas que priorizem a igualdade e o multilateralismo em vez de interesses estritamente nacionais. Ainda, enviaria uma mensagem contundente de que a África, muitas vezes vista como mera receptora de decisões globais, está impulsionando mudanças no coração da governança global.

Tudo isso exigirá vontade política e unidade. Os líderes africanos devem olhar além de interesses individuais. É hora de forjar um consenso em torno de uma candidata visionária, uma mulher que reflita as aspirações do continente e os objetivos mais amplos do Sul Global. Tal escolha reforçaria a crescente influência do continente africano na política global.

Mais importante ainda, isso pode garantir que a próxima Secretária-Geral lidere com uma perspectiva nova e inclusiva que reflita as necessidades das mais de 8 bilhões de pessoas do mundo. A escolha é clara. Os líderes africanos devem agir agora – unidos, assertivos e com visão de futuro.

Gabriela Keseberg Dávalos é membro do Comitê Diretor da campanha 1 for 8 Billion, representando a Southern Voice, uma rede de think tanks do Sul Global que inclui mais de 30 organizações da África.

 

 

 

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