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27 de Março, 2025

Verdes claros e verdes escuros no diálogo nacional inclusivo

O enredo à volta da assinatura do compromisso para um diálogo nacional inclusivo lembra-me um certo episódio ocorrido na África do Sul na altura do fim do Apartheid. Volto ao episódio depois, mas antes um cheirinho sobre o enredo do compromisso para devido enquadramento.

À partida, o móbil para o recente compromisso de alto nível para o diálogo nacional inclusivo decorre da crise pós-eleitoral (2023-2024) e o mesmo, entendo, deveria ter sido rubricado entre o executivo e os concorrentes elegíveis das últimas eleições autárquicas, provinciais, legislativas e presidenciais.

Os concorrentes elegíveis são os candidatos cujos resultados eleitorais lhes conferem direitos previstos na constituição/lei, nomeadamente os partidos ou grupos de cidadãos que lograram assentos nas assembleias autárquicas, provinciais e parlamentar, o segundo candidato presidencial mais votado com direito a um assento no Conselho do Estado e o líder da segunda força política mais votada nas legislativas, com categoria de líder da oposição.

Destes potenciais signatários apenas o segundo candidato presidencial mais votado e o líder do segundo partido mais votado para as legislativas não fazem parte do compromisso assinado no passado dia 5 de Março. O que terá ditado a exclusão?

Certamente que os que desenharam o formato em execução terão as suas razões. À partida, avaliando o debate suscitado, a exclusão do segundo candidato presidencial mais votado é um acto deliberado. Quanto ao líder da segunda força política mais votada nas legislativas, e sem nenhum debate suscitado, presumo que tenha sido por mero lapso ou desatenção.

Sobre a exclusão do segundo candidato presidencial mais votado, e perante o debate suscitado, o Presidente da República já veio a terreiro informar que, gradualmente, o diálogo inclusivo envolverá outras forças vivas da sociedade e que, por ora, a actual composição era apenas o começo.

Dito isto, recordemos do episódio ocorrido na África do Sul na altura do fim do Apartheid. O citado episódio ocorre num terminal ou estação rodoviária que registava uma enchente de passageiros de diversas raças e a discussão, perante os novos tempos, era a de se saber quem teria prioridade para entrar no autocarro.

O motorista, de forma estratégica, antecipou a possibilidade de se usar a cor da pele como um critério e avisou que para ele não havia brancos, negros, mestiços ou qualquer outra raça, e todos eram da cor verde.

Depois desta fala, e para a surpresa do motorista, a confusão voltou a tomar conta dos passageiros no acesso ao autocarro. Diante da situação, o motorista prontamente interveio com um novo aviso: ῎Primeiro os verdes claros e depois os verdes escuros῎.

Sir Motors

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