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27 de Março, 2025

A proliferação dos bairros de lata em Inhambane

Mas esta é uma parte bem visível no espelho da pobreza, existe quem pensa que não. Parece uma evolução, não é. Há cerca de vinte anos, o status era representado pelas casas de caniço cobertas de chapas de zinco, e eram chapas de boa qualidade. Os mestres que as construíam eram autênticos artistas que tornavam as habitações em obras de galeria, criavam cobiça. Todos os que tinham posses limitadas desejavam ardentemente obter uma assim. Feita por mãos exímias.

Hoje mudou-se de rumo e de gostos e de perspectiva. Passou-se do caniço para a lata, o que é bem pior pelo desconforto que as chapas de zinco criam. Ao soprar do vento elas vibram, e em tempo quente ficam uma fornalha. Ao se entrar numa casa de chapas nasce a sensação de estarmos a ser submetidos a uma câmara frigorífica desligada. Porém, quem tem uma habitação feita destes materiais, rigozija-se. Vive na pobreza e pensa que não.

Na cidade de Inhambane e em quase toda a província, é este tipo de casas que dominam. Mas isto não significa crescimento. Para além de as chapas usadas não terem absolutamente nenhuma qualidade. As resistentes são muito caras, a maioria não pode comprá-las. Então contenta-se com um material que dentro de pouco tempo estará comprometido. Mesmo assim dizem que é melhor do que uma casa de caniço, eu acho que não. As habitações de caniço eram arejantes. Duravam pouco, sim. Elas tinham a desvantagem de não resistirem à chuva.

Quem é que não almeja ter uma casa de blocos? Todos queremos, mas não somos todos que podemos. O cimento, que é totalmente produzido com matéria-prima local, custa os olhos da cara. É como dizia Chico António em Mercandonga, “come quem pode”. Não faz sentido que num país onde existe uma das maiores reservas de calcário do mundo, continuemos a viver em bairros de lata, assim como em Chamanculo de Lourenço Marques, até hoje com muitos resquícios.

Inhambane é apenas um exemplo. Há províncias onde as coisas são completamente degradantes, com casas maticadas de adobe. E o chão também, de adobe. Podiamos estar bem melhor em termos de habitação, não estamos. Há pessoas, por este país fora, que vivem numa espécie de grutas, e o Estado devia prestar maior atenção nesse aspecto crucial.

Fiquei maravilhado com a notícia de que a presidente da Tanzânia, Samia Suluhu – e desejei que também acontecesse com este governo – desviou um fundo que seria usado nas festividades dos 61 anos da Independência daquele país para a construção de casas dedicadas a crianças vulneráveis. Com certeza que ela pensou assim: para festejar teremos muito mais ocasiões. E a vida e o bem-estar dos petizes é urgente.

Mas a nossa realidade é outra, as prioridades do nosso governo parecem ser outras também. Estamos rodeados de países que caminham a galope. E nós nem sequer atingimos o trote. Há pouco tempo, o presidente Donald Trump anunciou o desembolso de cerca de cinco biliões de dólares para os projectos de gás em Cabo Delgado. O presidente Daniel Chapo congratulou o gesto do líder americano. E eu pergunto: como é que vão os reajustes contratuais que seriam uma grande gazua para sairmos rapidamente do passo para o trote e daqui para o galope!

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