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24 de Fevereiro, 2022

Fecalismo a céu aberto continua “moda” em Paquitequete

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O histórico bairro de Paquitequete, na cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, continua rico em estórias, algumas hilariantes e outras diabólicas. Entre as estórias diabólicas, destaca-se o fecalismo a céu aberto, uma prática secular e que vai passando de geração em geração.

 

“Carta” esteve, recentemente, na terceira maior baía do mundo e testemunhou situações preocupantes na praia daquele bairro. Num local onde era suposto encontrar uma areia totalmente branca, a nossa reportagem deparou-se com fezes espalhadas pelo chão e, pior, com pessoas fazendo necessidades maiores.

 

Porém, enquanto alguns iam fazendo necessidades maiores, outros iam desenvolvendo as suas actividades: crianças jogam a bola por cima das fezes já secas; algumas mulheres, chefes de família, iam vendendo bolos e amendoim, produtos para o consumo imediato; e pescadores iam vendendo o seu peixe.

 

Trata-se de uma realidade que choca qualquer turista, mas considerada normal por quem convive com ela desde o dia em que nasceu. É o caso de Momade Abdul, pescador e natural daquele bairro, que disse à nossa reportagem ter-se habituado a conviver com aquela situação.

 

Segundo Momade Abdul, a prática deriva da natureza do bairro que, por um lado, é desordenado (apresenta construções que não seguiram qualquer projecto urbanístico) e, por outro, apresenta solos não recomendáveis para a construção de latrinas precárias.

 

Já Maimuna Anli, que se dedica à venda de bolinhos, garante que o fecalismo a céu aberto deve-se às dificuldades financeiras, enfrentadas pela população, que impede esta de construir latrinas melhoradas.

 

Entretanto, para o activista social Vasco Achá, a realidade que se vive em Paquitequete exige uma intervenção de vulto, que passa necessariamente pela reestruturação daquele bairro, revisão da postura municipal e construção de latrinas melhoradas de baixo custo.

 

Para Achá, é importante que se resgate a imagem daquele bairro, melhorando o saneamento e ordenamento territorial. Entretanto, alerta que será necessário desencadear-se um processo de reassentamento, pois, o bairro encontra-se superlotado.

 

Contudo, defende que a aplicação de multas aos praticantes do fecalismo a céu aberto pode reduzir esta prática, tal como aconteceu na cidade da Beira, capital provincial de Sofala, onde também se vivia a mesma realidade.

 

“Carta” não conseguiu colher qualquer reacção das autoridades municipais de saúde sobre as soluções em curso para combater aquela prática, assim como o impacto que a mesma está a ter na saúde. Tanto o Conselho Municipal da Cidade de Pemba, assim como os serviços de saúde não atenderam as nossas solicitações. (Omardine Omar)

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