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27 de Fevereiro, 2023

Chissano confiante na resolução da dívida externa do Zimbabwe, de mais de 17 biliões de dólares

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O ex-presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, que desempenha o papel de facilitador do processo de diálogo e resolução da dívida do Zimbabwe disse que o resultado das suas consultas com os parceiros e credores excedeu as suas expectativas.

 

Chissano falava na última quinta-feira em Harare durante o processo de diálogo estruturado com parceiros de desenvolvimento do Zimbabwe, representantes diplomáticos de países maioritariamente credores e instituições financeiras multilaterais, incluindo o Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento.

 

Ele frisou que todos saudaram o diálogo como uma conquista notável, mas acrescentou que alguns parceiros de desenvolvimento querem ver a liderança do processo traduzida em acções mais visíveis por parte do presidente Emmerson Mnangagwa.

 

“A história não deve manter o processo refém”, disse o antigo Presidente, acrescentando: “É importante permitir o reengajamento através da prossecução do diálogo. O diálogo regular gera confiança.”

 

Ele enfatizou a importância de gerir percepções e equívocos, que ele disse que muitas vezes atrapalham a realidade e podem minar a possibilidade de um envolvimento significativo e substantivo.

 

Chissano exortou os parceiros de desenvolvimento a serem razoáveis nas suas expectativas, assegurando-lhes que o governo do Zimbabwe está comprometido em alcançar seus objectivos.

 

O ex-chefe do estado moçambicano identificou dois frutos fáceis de alcançar para o governo, que disse ajudar a construir confiança com os seus parceiros, nomeadamente, a questão da compensação dos agricultores no âmbito dos Acordos Bilaterais de Protecção e Promoção de Investimentos (BIPPAs) e a realização de eleições livres e justas ainda este ano.

 

“Esta oportunidade não deve ser desperdiçada,” sublinhou Chissano, acrescentando: “um Zimbabwe economicamente revitalizado e uma Comunidade de Desenvolvimento da África Austral poderiam fortalecer a região.” O ex-presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, também fez um apelo aos cidadãos para defenderem a paz.

 

“Gostaríamos de encorajar os zimbabueanos a se comportarem de maneira ordeira durante o processo eleitoral. Eles devem ficar longe da violência e escolher livremente os seus líderes e representantes no governo e no parlamento.

 

“Eles não se devem deixar manipular por ninguém para praticar violência ou quaisquer actos ilegais que possam prejudicar o processo eleitoral que é pacífico, livre, justo e transparente”, afirmou.

 

Acrescentou que o país se deve manter vigilante e participar num processo pacífico, livre e transparente. O governo do Zimbabwe deu um passo importante no seu diálogo com os credores na semana finda, organizando uma segunda plataforma de diálogo estruturada sobre o processo de regularização de atrasados e resolução da dívida. Isso ocorreu após discussões com parceiros de desenvolvimento em Dezembro passado.

 

Apoiados pelo Grupo do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), altos membros do governo do Zimbabwe reuniram-se na passada quinta-feira passada com os parceiros de desenvolvimento do país, representantes diplomáticos de países maioritariamente credores e instituições financeiras multilaterais, incluindo o BAD.

 

O Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, nomeado no ano passado chefe do processo de liquidação de atrasados e resolução da dívida pelo Presidente Mnangagwa, desempenhou um papel central nas discussões, que co-presidiu com o ex-presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.

 

O Presidente Mnangagwa nomeou Chissano como facilitador do processo de reengajamento e diálogo de alto nível e Luísa Diogo, ex-primeira-ministra de Moçambique como assessora técnica.

 

Ele disse aos delegados que o fardo da dívida do Zimbabwe de cerca de 17,5 mil milhões de dolares continua a pesar fortemente nos esforços de desenvolvimento do país, tendo enfatizado o impacto no desenvolvimento humano. Assegurou ainda aos delegados que o Zimbabwe estava empenhado em liquidar todas as suas dívidas em atraso com seus credores, incluindo os empréstimos que contraiu ao Banco Africano de Desenvolvimento e a outras instituições financeiras multilaterais e credores internacionais.

 

O líder do Zimbabwe disse que os desafios do Zimbabwe afectaram amplamente a sub-região. “A região da África Austral não foi poupada. No Zimbabwe, adaptamo-nos à nossa realidade. Não tivemos escolha. Optamos por olhar para dentro e usar nossos recursos para prover aos zimbabueanos. A certa altura, a nossa economia entrou em colapso total. Mas recuperou-se e fê-lo sob a direcção do nosso ministro das Finanças e Desenvolvimento Económico, Professor Mthuli Ncube.”

 

Evocando o impacto humano das sanções, o Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, disse: “actualmente, cerca de 44% da população do Zimbabwe vive na pobreza. Grande parte disso se deve às restrições económicas com as quais o Zimbabwe teve de lidar nas últimas duas décadas. O povo do Zimbabwe não pode continuar a sofrer”, referiu.

 

O presidente Emmerson Mnangagwa comprometeu-se a conduzir as eleições deste ano de forma justa no meio de indicações segundo as quais os credores do país identificaram a área como um requisito para a resolução da dívida.

 

No passado, o país enfrentou reacções negativas por ter realizado eleições alegadamente fraudulentas.

 

As últimas eleições realizadas em 2018 terminaram num banho de sangue depois que seis cidadãos foram mortos a tiro por militares na tentativa de dispersar os manifestantes que sitiaram o Centro de Comando Nacional em Harare em protesto contra os atrasos na publicação dos resultados eleitorais. (Carta)

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