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6 de May, 2025

Vuma e o Cônsul Cavalo: crónica de um Calígula corporativo

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Há delírios que pertencem à história, e há os que insistem em repetir-se: com menos toga, mais gravata, mas o mesmo olhar perdido no espelho do poder. Agostinho Vuma já não é apenas presidente do CTA. É, para muitos, um Calígula tropical: o homem que, tomado por uma visão imperial de si mesmo, teria afirmado que “nenhum tribunal tem capacidade para alterar decisões do CTA”, como se os estatutos da instituição fossem oráculos infalíveis acima da Constituição da República.

Tal como Calígula nomeou o cavalo Incitatus para cônsul, Vuma parece disposto a transformar os estatutos do CTA em criaturas sagradas, inquestionáveis, blindadas por um manto de divindade empresarial. Não se pode contrariar. Não se pode candidatar. Não se pode noticiar. Segundo se noticiou, Vuma também teria ameaçado processar jornalistas, um gesto que, a confirmar-se, revelaria mais do que irritação: denunciaria uma profunda incompreensão sobre o papel da imprensa numa sociedade democrática.

A sua presidência, longe de ser exercida com grandeza institucional, parece marcada por um cerco: qualquer voz crítica é vista como “hostil”, qualquer candidatura alternativa como “ilegítima”, qualquer questionamento público como “ataque”. A única narrativa permitida é a sua. O único império possível é o que governa por consenso forçado, com ares de imperador eleito por interesses que há muito deixaram de representar pluralidade.

Mas os impérios onde os tribunais são desautorizados, onde jornalistas são intimidados e onde se limita a concorrência não são estruturas de força. São trincheiras de medo. Vuma não lidera o sector privado: esconde-se atrás dele. E isso, mais do que grotesco, é perigoso.

Porque tudo o que pessoas de bem precisam defender, num país que se queira digno, são as instituições. Sem elas, não há mais do que feudos, arbitrariedade e sombras. Quando um presidente de confederação desafia publicamente a autoridade judicial, não está apenas a dizer o que pensa. Está a corroer o pacto mínimo que sustenta qualquer ideia de nação.

Não se trata de Vuma. Trata-se do precedente. Do silêncio. Da normalização do abuso como se fosse apenas mais um episódio bizarro na longa crónica da nossa degradação institucional. Um país onde o mais alto representante do sector privado pode contrariar ordens judiciais, limitar a competição interna e silenciar jornalistas não está a caminhar para o desenvolvimento. Está a tropeçar sobre ruínas que finge não ver.

No fim, Calígula também acreditava ser deus. Vuma ainda não o disse em voz alta, mas tudo o que se observa sugere que, se pudesse, declararia feriado nacional em sua própria homenagem.

O CTA não precisa de deuses. Precisa de ética, legalidade e respeito. O resto é teatro. E dos maus.ZAq1

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