Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

25 de Março, 2025

Lutar por Moçambique

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O encontro havido este Domingo, 23 de Março, em Maputo, entre o Presidente da República, Daniel Chapo e o antigo candidato presidencial, Venâncio Mondlane, pode ter diferentes significados, de acordo com o lado onde cada um se situe. Há porém um lugar sem lados: Moçambique!

Nunca, sem guerra, Moçambique esteve tão polarizado. Nunca, sem guerra, derramou-se tanto sangue dos moçambicanos. E as causas primárias desse caos politico-social são sobejamente conhecidas, e não podem, nunca, ser ignoradas, muito menos esquecidas.

Agora…chegados aonde chegamos, o que nos restava, em frente? Quanto mais profundas fossem as divisões, mais difíceis se tornariam quaisquer soluções. De tal sorte que a Nação acabou por se ver dividida: de um lado, os “vândalos” e o seu líder e, do outro, os “civilizados” e o seu líder. O insustentável maniqueísmo de sempre.

À frente de ambos os lados, rapidamente colocaram-se em posição de combate seus arautos e falcões, todos prontos a mover terra e céus em defesa de suas agendas e cada lado cavando ainda mais fundo o fosso entre os moçambicanos. Grande parte de tais arautos e falcões lançaram-se na esfera pública sem qualquer convite, animados apenas pelo ódio ou pela expectativa de recompensas no faustoso banquete oficial.

Como sempre, entre estes grupos de “combatentes” existem aqueles fecundos na classificação e categorização do outro; exímios na atribuição de epítetos pejorativos; na desqualificação do outro.

Mas há um outro grupo, bem mais sofisticado. De discurso oficial fino…porém pleno de ódio egoísta. Aquele grupo para quem Moçambique tem donos; proprietários exclusivos e para sempre inamovíveis dessa qualidade.

Aqueles para quem qualquer hipótese de diálogo com Venâncio Mondlane seria mais do que uma heresia, uma blasfêmia sobre os seus credos.

Todos estes grupos estão agora rangendo os dentes, quais cachorros sedentos de rasgar a pele de qualquer pobre transeunte.

Quer Daniel Chapo quer Venâncio Mondlane têm agora a difícil tarefa de acalmar seus leões nervosos; de mandar acalmar seus arautos – oficiais ou oficiosos- para que o ambiente fique mais leve e dê espaço a todas as hipóteses de um Moçambique maior.

Nenhum partido político tem a verdade única sobre Moçambique. Nunca nenhum partido político a teve, alguma vez.

Seguindo uma tendência mundial, a representatividade e a legitimidade do poder legislativo estão atravessando um longo deserto. Resta, incólume, a voz do cidadão.

Para o Presidente da República em particular, certamente vigiado de forma asfixiante pelos falcões mais radicais do seu partido, valerá a pena recordar esta lição do antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, falando de como ele liderou o processo de mudança democrática e de pacificação do país:

“Na qualidade de Presidente da FRELIMO e Presidente da República, líderei este processo de transição de regime, promovendo vastas consultas dentro do Partido e junto dos seus membros e militantes, onde a posição maioritária defendia a manutenção do sistema de partido único, como sendo o único capaz de manter a principal conquista histórica da FRELIMO: a Unidade Nacional. Contudo, a nossa convicção sobre a necessidade de mudança de regime, que se fundamentava no sentido em que seguiam os ventos da História, aconselhou-nos a ir em frente, convictos de que, no caso em apreço, a maioria não tinha razão”. Discurso proferido no dia 7 de Agosto de 2024, no acto de lançamento da colectânea da Constituição da República 1975-2018, pela Assembleia da República.

Portanto dois pressupostos a considerar: visão ampla e de longo termo; e atitude de líder. Para lutar por Moçambique.

 

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