Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

21 de Janeiro, 2025

Tensão Pós-Eleitoral: Polícias consideram “Lei de Talião” incitação ao ódio

Escrito por

A Associação Moçambicana de Polícias (AMOPAIP) acusa Venâncio Mondlane, segundo candidato presidencial mais votado nas eleições gerais de 09 de Outubro, de “incitação ao ódio contra os Polícias”, ao defender o ataque aos agentes que matarem civis. Na última sexta-feira (17), Venâncio Mondlane avisou que uma das 25 medidas a implementar nos primeiros 100 dias da sua “governação” é a retaliação da população contra polícias que atirarem contra civis indefesos.

 

“Por cada elemento da população assassinado por um elemento da UIR [Unidade de Intervenção Rápida], automaticamente, paga-se na mesma moeda: esse elemento da UIR é varrido da existência, vai para o inferno. É assim que temos de fazer. Chamem-me agitador. Chamem-me o que quiserem. O povo está a ser morto, sequestrado. É assim que vai ser. Lei de Talião. Toma lá dá cá. ‘Olho por olho, dente por dente’”, disse Mondlane, durante a “live” em que anunciou as “directivas”. “Chamem-me agitador: o povo está a ser morto!”, vincou.

 

Em reacção à “Carta”, o presidente da AMOPAIP, Nazário Muanambane, acusou o segundo candidato presidencial mais votado de “incitação ao ódio contra a polícia”, manifestando “enorme preocupação”.

 

“O candidato Venâncio Mondlane, que tem um grande apoio de uma boa parte do povo moçambicano, como se tem visto nas manifestações, perdeu o controlo e está a colocar a população contra a polícia”, declarou Muanambane.

 

A instigação à violência irá resultar em ataques indiscriminados contra os agentes da lei e ordem, tal como aconteceu com a destruição de bens públicos e privados, incluindo dos próprios apoiantes daquele político, acrescentou o presidente da AMOPAIP.

 

“A revolta e o desespero da nossa população, devido a preocupações legítimas, leva a que a execução de apelos vindos de políticos extravase os limites desses apelos. Podemos ter situações em que polícias que nada têm a ver com os excessos dos seus colegas sejam atacados, em obediência cega a esses apelos”. Vão pagar os “santos pelos pecadores”, observou.

 

Nazário Muanambane, inspector principal na reserva, após 40 anos de serviço na Polícia, acusou Venâncio Mondlane de indiferença em relação aos polícias mortos e feridos e sobre esquadras destruídas, durante as manifestações contra os resultados das eleições gerais de 09 de Outubro.

 

“Se Venâncio Mondlane vier a ser Presidente da República, também vai precisar desta polícia e destas esquadras. A nossa polícia tem as deficiências que tem, como têm os médicos, enfermeiros e professores. Não se matam médicos, porque alguns cometem erros que até já resultaram em mortes ou atacar professores, porque alguns formam maus alunos”, destacou.

 

Ao invés de declarar morte aos polícias, os políticos devem estimular e pressionar os agentes da lei e ordem para actuarem dentro dos parâmetros legais e lembrá-los que são criminalmente responsáveis pelos abusos, assinalou o presidente da AMOPAIP.

 

Além da medida já designada “olho por olho” ou “Lei de Talião”, Venâncio Mondlane exigiu a “libertação incondicional dos cerca de quatro mil moçambicanos detidos no âmbito das manifestações”, que o candidato presidencial diz estarem “detidos ilegalmente”.

 

Pediu o fim do IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado) para produtos básicos, como farinha, arroz, carapau, óleos e sabões, o cancelamento da inspecção de viaturas, a suspensão da taxa de rádio e a abolição de todas as portagens.

 

Venâncio Mondlane exigiu ainda o consumo de água potável gratuito, fixação do preço do cimento em 300 meticais por saco, redução em 50% preço da corrente eléctrica e a aprovação de um financiamento de 500 milhões de dólares para apoiar pequenas e médias empresas que sofreram durante as manifestações.

 

Entre as medidas de impacto social, sobressai a criação de um canal digital de denúncias, a compensação financeira de até 200 mil meticais para cada família que perdeu os seus parentes e o fim da corrupção e cobranças ilícitas na estrada a motoristas e comerciantes. (Carta)

Sir Motors