Um grupo de homens desconhecidos, armados com catanas e paus, causou pânico na última sexta-feira no Mercado Grossista do Zimpeto, saqueando bens e obrigando os comerciantes a encerrar as lojas mais cedo, bem como a reduzir os preços de produtos de primeira necessidade.
À “Carta”, um comerciante contou que o dia começou normalmente, como qualquer sexta-feira. Era um dia de bastante movimento e o comércio fluía com regularidade. No entanto, por volta das 13h00, eles viram vários comerciantes saindo apressadamente, mas não percebiam o que estava a acontecer.
“Quando vimos as pessoas correndo de um lado para o outro e gritando ‘estamos a ser atacados por homens com catanas’, não pensamos duas vezes. Também arrumamos os nossos produtos e saímos a correr para casa, sem entender o que estava a acontecer”, contou Armando Leonido Saveca.
“De repente, o terminal de viaturas ficou vazio, as lojas ao redor do mercado fecharam as portas e as pessoas correram, com medo da invasão dos “homens-catanas”. No dia seguinte, logo nas primeiras horas, soubemos que, enquanto os homens atacavam de um lado, comerciantes do outro lado conseguiram pedir socorro à polícia do posto policial do Estádio Nacional do Zimpeto, que prontamente se dirigiu ao local e conseguiu prender alguns dos homens catana”, relatou.
A fonte também contou que os “homens-catanas” informaram os proprietários das lojas que haviam decidido fazer a “visita” porque no mercado as pessoas vivem “muito à vontade”, enquanto eles lutam pela causa de todos.
“Os homens munidos de catanas deixaram um recado para os comerciantes, exigindo a redução dos preços e ordenando o encerramento das lojas às 13h00 de sábado. Além disso, proibiram a abertura das lojas no domingo”, disse a fonte.
Durante a nossa ronda pelos principais pontos “visitados” pelos “homens-catanas”, soubemos que, além de saquear alguns produtos, eles feriram um cidadão com alguns golpes. Também constatamos que várias lojas que costumam abrir aos domingos estavam fechadas, devido ao clima de medo e incerteza causado pela presença dos chamados “homens-catanas”, que deixaram algumas recomendações.
“Carta”, que escalou aquele mercado na tarde deste domingo, também apurou que, em quase todas as lojas, os “homens-catanas” colaram papéis com a seguinte mensagem: “Viemos por meio desta solicitar a implementação de um ajuste no horário de trabalho para os colaboradores, visando a melhoria da segurança e bem-estar de todos”.
Noutro papel colado noutra loja, estava escrito: “Com base nas análises realizadas, propomos que aos sábados o expediente seja encerrado às 13h30, permitindo que os colaboradores tenham tempo suficiente para se deslocar com segurança e descansar após um dia de trabalho. Além disso, sugerimos que aos domingos seja concedido o dia livre para descanso, a fim de garantir que os nossos trabalhadores possam recuperar as suas energias e actuar com total disposição na semana seguinte”.
Ao circular pelas lojas fechadas, percebemos que a informação variava de uma loja para outra. Enquanto algumas, principalmente as de produtos alimentares, eram obrigadas a reduzir imediatamente os preços, outras tinham de fechar mais cedo.
Lacerdo Rafik Ibrahimo, comerciante do mercado Zimpeto, disse à “Carta” que desde o mês de Novembro tem sido difícil fazer negócios neste local devido ao clima de medo instalado.
“Agora, tudo é em nome de Venâncio Mondlane. As pessoas estão a aproveitar-se dessa situação para fazer e desfazer. Aqui no Zimpeto, agora trabalhamos com medo e estamos atentos a qualquer movimento estranho. Mas não vou mentir: até já pensei em desistir e parar o meu negócio até que tudo volte à normalidade”, afirmou Ibrahimo.
“Aqui, muitos comerciantes têm medo de repor o stock porque muitos jovens desempregados estão todo o tempo a ameaçar-nos. Por isso, optamos por deixar as prateleiras vazias. Acho que vai chegar um momento em que as pessoas vão começar a sentir falta de certos produtos por causa das constantes ameaças”, acrescentou.
Tentamos ouvir a versão dos oficiais do Posto Policial do Estádio Nacional do Zimpeto sobre o número de pessoas detidas e se houve algum avanço no caso desde a última sexta-feira, mas não obtivemos sucesso.
Por outro lado, outro grupo de indivíduos decidiu no último sábado paralisar a circulação de viaturas na estrada circular de Maputo, desde a primeira rotunda para quem vem do Zimpeto até a da Matola-Gare.
Os carros não conseguiam avançar nem retroceder. Vários camionistas foram obrigados a estacionar os seus veículos no sentido contrário para impedir a circulação de qualquer viatura. O caos se instalou e vários condutores foram obrigados a permanecer na estrada por várias horas, sob a ameaça de verem os vidros dos seus carros quebrados caso tentassem manobrar.
Lázaro João Nhamussua, que, por sinal, era padrinho de um casamento naquele sábado, contou que ficou com o coração partido ao ouvir a sua afilhada chorando ao telefone, ao perceber que ele não conseguiria chegar porque estava retido num ponto onde não podia ir para frente e nem para trás.
“Esses manifestantes bloquearam tudo, desde a primeira rotunda até à quarta. Eles alegavam que estavam se manifestando contra os novos preços do combustível. O mais incrível é que essa manifestação foi liderada por senhoras que nem sequer têm carta de condução. Tentamos usar algumas ruas como alternativa, mas colocaram pneus nas ruas e deixaram algumas pessoas para monitorar, para que ninguém pudesse passar. Estamos a viver um verdadeiro caos. Hoje em dia, basta um indivíduo sentir fome, acorda e vai bloquear a estrada”, desabafou Nhamussua.
Vale ressaltar que o bloqueio da Estrada Circular ocorreu das 5h00 até cerca das 14h00, quando os motoristas começaram a circular, mas com alguma timidez, sendo obrigados a desviar das barricadas. Além da Circular, soubemos também de bloqueios na Zona Verde e noutros pontos. (Marta Afonso)