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11 de Novembro, 2018

A Renamo ganhou? Mas a Frelimo não perdeu!

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Anda por aí uma ladainha que insiste que a Renamo ganhou as recentes eleições locais. Não há critério de ciência política que possa demonstrar isso por A+B. De vez em quando, comentadores quando querem impor seus pontos de vista na sociedade recorrem ao argumento da cientificidade para fazer vingar seu vitupério contra a Frelimo. Mas nunca demonstram como esse critério científico foi usado para chegar a tão falíveis conclusões. Exprimindo muito bem a coisa, não tem lá qualquer sumo de ciência.
Mas está a virar moda o atrelamento na dita cientificidade para se vender um certo tipo de argumento, tendencialmente crítico a Frelimo, mesmo quando não há razão suficiente. Chega, no entanto, para que boas franjas da opinião pública nacional e diplomática comprem esse discurso enviezado. Os zangados com a Governação da Frelimo que a todo o custo lhe querem ver penalizada por seus erros crassos de governação vão logo bater palmas. As principais embaixadas (com algumas exceções) também, feridas porque deixaram o palco privilegiado da monitoria da governação, por via do então chamado “diálogo político”, vão cantar hossanas. A narrativa de uma Frelimo estrebuchando funciona porque prova a incapacidade da elite do governo em conduzir o país a bom porto.
O problema é que dizer que a Renamo ganhou é muito discutível. Por mais que isso agrade os insatisfeitos da Frelimo, os simpatizantes da Renamo e os doadores que gostam de ouvir essas sentenças. Do ponto de vista aritmético, a Renamo não ganhou. Em 53 autarquias, venceu apenas 8. E isto é objectivo. Mesmo na busca forçada de vitórias politicamente simbólicas, a Renamo também não ganhou. Sua grande derrota verificou-se na Beira, onde tinha apostado forte, colocando na chapa Manuel Bissopo, seu Secretário-Geral. A Beira foi um bastião da Renamo logo na viragem para o multipartidarismo em 1994. Em 1998, a aposta em Daviz Simango vingou mas o divórcio de Dhlakama em 2003 penalizou a Renamo. No passado pleito de Outubro, comprovou-se que a Renamo na Beira foi mesmo preterida. Quem ganhou na Beira foi a Renamo? Não! Foi o MDM. Quem obteve o segundo lugar na Beira foi a Renamo? Não, foi a Frelimo. E isto é significativo. A Frelimo derrotou a Renamo no seu bastião natural. Que ciência pode provar o contrário? Não sei!
Mas a noção de que a Renamo ganhou, que é colocada sempre em contrapeso com a tal derrota justiceira da Frelimo, assenta num pressuposto enganoso. Autarquias como Quelimane e Nampula não estavam na posse da Frelimo. Em Nampula a Renamo manteve a autarquia. Em Quelimane, os eleitores simplesmente trocaram o MDM pela Renamo, deixando a Frelimo de lado. E isso era previsível. Dizer que em Nampula e em Quelimane a Renamo ganhou é verdadeiro. Mas não tem qualquer ciência aqui. Sobretudo não faz sentido dizer isso com uma retórica que remete para a ideia de que a Renamo arrancou à Frelimo, nestas eleições de Outubro, as autarquias de Quelimane e Nampula. As duas já não estava na posse da Frelimo.
Onde se pode atribuir uma derrota copiosa da Frelimo em relação a Renamo é em Nacala-Porto, Angoche e na Ilha de Moçambique. Estas eram autarquias na posse da Frelimo. E nelas a Renamo derrotou a Frelimo. Mas isto pode ser extrapolado para uma vitória no conjunto nacional? Com que cientificidade? Mesmo que a Renamo ganhe as 5 autarquias em disputada, elevando para 13, isso continua longe de uma vitória global. Aliás, este discurso de vitória é mesmo falacioso para a própria Renamo. Contentar-se com 8 autarquias é reconhecer sua pouca relevância à escala nacional. Sem Dhlakama, essa irrelevância pode acentuar. Por isso, a Renamo não deve se iludir com estes cantares de vitória. Os moçambicanos precisam de uma oposição forte que conteste ferreamente em todo o país. De uma oposição que não ganhe apenas 14 mas mais de 20 autarquias. Insistir numa vitória geral da Renamo sem relativizar é forçar a verdade. Não cola! (Carta)

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