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2 de September, 2021

Bruno Langa: O protótipo do consultor de colarinho branco, escreve Marcelo Mosse

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Em Moçambique foi sempre assim desde que transitámos para a economia de mercado. Houve uma erupção vulcânica de consultores de toda a sorte. O mercado do desenvolvimento abriu caminho para que a actividade florescesse. Entidades como o Banco Mundial e a cooperação bilateral alimentaram esse pântano, trazendo para o país consultores de alto calibre que ganharam milhões de USD com a aquela perversão chamada “assistência técnica”.

 

A cooperação internacional fingia que investia em Moçambique rios de dinheiro quando cerca de 60% do orçamento de um projeto num dado Ministério era canalizado para a tal “assistência técnica”, servida de bandeja por consultores trazidos do país de origem do financiamento. Ou seja, o dinheiro pago a essa gente regressava às capitais europeias. Boa parte do nosso endividamento externo nos anos 90 foi para pagar consultores externos, cujo trabalho, em muitos casos, virou letra morta. Os mais velhos recordam-se dos PESUs e dos Proagri, com milhões de USD enterrados no fracasso.

 

O modelo de cooperação foi-se alterando e os consultores externos diminuindo. Algumas embaixadas e projectos começaram a privilegiar consultores locais, à medida que aumentava a disponibilidade de quadros moçambicanos, devidamente formados. Mas, ao mesmo tempo, com a adoção do “budget support” como modelo privilegiado de ajuda, um novo tipo de consultores se foi consolidando na esfera dos negócios do Estado: os consultores de colarinho branco.

 

A actividade virou profissão de luxo. Cada vez mais gente foi se identificando como “consultor”. Pilha-galinhas e ladrões de carros. “Trabalhavam” sentados em bares e cafés e no Polana. Houve uma obliteração da actividade. A palavra “consultoria” virou moda. Mas, na verdade, o que eles faziam era tráfico de influências e chantagem. Ter uma posição de destaque e um cartão da secreta, o SISE, era passaporte derradeiro para garantir “parceiras inteligentes” com investidores sequiosos de negócios. A dado momento, bastava fingir ser do SISE para ganhar-se alguns trocos no mundo da corrupção.

 

Joaquim Chissano cunhou a expressão “parceria inteligente”, que descambou no descalabro sanguinário do Banco Austral. Armando Guebuza fez crescer o “lobbismo”, sem qualquer enquadramento legal, que andou de mais dadas com a consultoria de rapina.

 

Seu consulado tornou a Ponta Vermelha um autêntico lugar de peregrinação. Quem quisesse negócios, deslocava-se à Ponta Vermelha. Por isso é que ele foi apelidado de Gue-Business, fazendo jus à percepção espalhada de que ele usava da Presidência um momento para a consolidação dos seus negócios.

 

Quando Teófilo Nhangumele trouxe o projecto do calote e o canalizou à Presidência, por via de Bruno Langa, como consta no Despacho de Pronúncia, ele estava apenas a jogar o seu papel num espaço privilegiado que o regime alimentava: o mundo de promiscuidade entre política e negócios. Ele abordou Ndambi, via Bruno Langa, porque essa era a forma de garantir seu quinhão dos negócios do Estado, massageando o sistema e assegurando a distribuição de rendas.

 

“Não devemos ter medo de ser ricos”, dizia Guebuza de viva voz aos moçambicanos. E os consultores de colarinho branco batiam palmas. Guebuza lhes estendera o tapete para o endinheiramento a troco de nada. Um exemplo acabado desse protótipo do consultor típico do Guebuzismo é Bruno Langa. 

 

Ele identificou-se no tribunal da BO como “consultor de hotelaria e imobiliária” que ganhou mais de 8 milhões de USD no calote. Mas não demonstrou suas competências. Ele é o consultor do colarinho branco: uma mão cheia do nada. Moçambique foi enganado por pseudo-empresários que nunca trabalharam na vida, pela ganância e pelo tráfico de influências.(Marcelo Mosse)

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