Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

Sociedade

Alguns Centros de Saúde nem estão a prestar o devido atendimento aos pacientes, na sequência da greve dos Profissionais de Saúde, que arrancou no dia 29 de abril, em todo o país.

 

Na última sexta-feira, Amélia João Nhamussua, que regressava com o seu bebé de colo, do Centro de Saúde do 25, no bairro do Siduava, contou que, enquanto o Governo não intervier, muitos pacientes vão morrer.

 

“Eu fui ao centro de saúde levar a minha filha que não se sentia bem, mas quando cheguei, encontrei vários profissionais sentados a conversar. Gritei pelo socorro e pedi que atendessem a minha filha e, em viva voz, disseram-me que o material está à minha disposição e que eu devia atender a minha filha pessoalmente”.

 

Por outro lado, Alda Mangue, que voltava do Centro de Saúde da Machava-Bedene, disse que não recebeu o devido atendimento porque estava muito cheio e os poucos médicos que estavam a atender aconselhavam os pacientes com casos leves a regressar para casa.

 

“Tenho dores nas costas, estou há dias a dormir com muitas dificuldades, mas acabei voltando para casa porque os hospitais estão um caos. Eu penso que se eles não nos querem atender, nem deviam sair das suas casas para os postos de trabalho. Inclusive deviam fechar os Hospitais para sabermos que não estão a funcionar”, disse.

 

De um modo geral, “Carta” apurou que vários Centros de Saúde na cidade e província de Maputo funcionam a meio gás, sobretudo aqueles que se encontram nas zonas suburbanas.

 

No Centro de Saúde de Bagamoyo, por exemplo, os pacientes queixavam-se de lentidão, longas horas de espera e incerteza quanto ao atendimento porque grande parte dos Profissionais de Saúde mostravam-se indiferentes e outros estavam numa conversa animada.

 

Entretanto, o Ministério da Saúde refere, em comunicado de imprensa, que não há motivos para paralisação das actividades, visto que o processo das negociações decorre a bom ritmo, descartando aparentemente buscar soluções para o problema que inquieta os pacientes.

 

“As negociações estão a decorrer, mas nós continuamos com o pé firme e só voltaremos a trabalhar quando tudo estiver resolvido e devidamente organizado”, disse o Presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM).

 

Prevê-se que a greve dos Profissionais de Saúde tenha a duração de 30 dias, podendo terminar antes caso o Governo resolva as inquietações da classe, ou mesmo ser prolongada por mais tempo no caso de não haver consenso. Neste momento, mais de 70 por cento dos profissionais aderiram à greve que decorre num ambiente de intimidações.

 

Lembre que a APSUSM exige, entre outras condições, material de trabalho, pagamento de horas extras e subsídio de turno, enquadramento definitivo dos profissionais no aparelho do Estado e aumento de subsídio de risco para 10 por cento. (M.A)

Um grupo terrorista que se acredita que seja parte dos que escaparam das operações conjuntas das FDS na região de Odinepa no distrito de Eráti, em Nampula, atacou a aldeia Nacoja, posto administrativo de Mazeze, distrito de Chiúre, sul de Cabo Delgado.

 

Fontes disseram à "Carta" que os atacantes, mais de dez homens, queimaram palhotas da população e não fizeram o pior porque a população que ainda permanece na aldeia se escondeu quando se apercebeu da presença dos terroristas.

 

"Não temos registo de morte porque a população tinha fugido quando se percebeu que os malfeitores estavam na aldeia", disse um residente em Chiúre-sede, afirmando que "muitas pessoas estão aqui na vila e ainda não voltaram porque estão a enfrentar muitas dificuldades".

 

Outro residente acredita que alguns dos atacantes foram capturados e mortos pelas Forças de Defesa e Segurança e seus aliados.

 

Contudo, acrescentou que a maior parte da população das aldeias Nacoja, alvo de ataque na sexta-feira, Magaia, Micoleni, 25 de Setembro, Napala, Ntonhane, entre outras, continua refugiada na vila de Chiúre.

 

Refira-se que, na semana passada, o administrador de Chiúre, Oliveira Amimo, queixou-se da falta de transporte para evacuar as famílias deslocadas da sede para o centro de acolhimento. (Carta)

Moçambique poderá receber mais um lote de material não letal para as Forças de Defesa e Segurança (FDS) até fim do corrente ano, revelou no sábado (04) à AIM, o oficial de Relações Públicas da Missão de Treino da União Europeia (EUTM-Moçambique), Ricardo Carvalho.

 

O referido material inclui equipamento de protecção individual, tais como capacetes e colectes anti-bala, joelheiras, binóculos nocturnos, botas, GPS, tendas, entre outros, revelou Ricardo Carvalho durante as celebrações antecipadas do Dia da Europa, que se assina no próximo dia 9 de Maio corrente.

 

As celebrações, que tiveram lugar em Maputo, foram marcadas por uma exposição que retrata uma série de actividades que a Missão de Treino da União Europeia (EUTM-Moçambique) e as Forças Armadas de Moçambique estão a promover.

 

“As celebrações estão a decorrer no âmbito da delegação da União Europeia e da Missão de Treino aqui em Moçambique, nós associamos para promover esta exposição com equipamentos fornecidos pela União Europeia”, disse Carvalho.

 

Recordou que o mandato da EUTM-Moçambique termina no dia 9 de Setembro próximo e já está em curso uma análise estratégica da Missão da União Europeia.

 

Para além da formação das forças especiais de defesa de Moçambique, nomeadamente, os fuzileiros navais no distrito municipal da Ka Tembe, a força Aérea em Mavalane e os Comandos no Chimoio, a EUTM-Moçambique está igualmente a formar os formadores dentro das Forças Armadas de defesa em Moçambique.

 

“Esta iniciativa vai capacitar as Forças Armadas de Defesa de Moçambique a conseguirem formar os próprios militares nesta área das forças especiais de fuzileiros e comandos”, disse a fonte.

 

Questionado sobre uma eventual intervenção militar da União Europeia ou fornecimento de material letal, Carvalho disse: “os 27 Estados membros que compõem a União Europeia vão decidir dentro dos próximos dias se renovam ou não o mandato da Missão Europeia-Moçambique e, nessa altura, serão definidas as formas de intervenção”.

 

Explicou que a provisão de apoio letal às Forças de Defesa de Moçambique terá que ser discutida pelos diferentes países pela União Europeia internamente e depois com as autoridades moçambicanas.

 

“Temos acompanhado através dos vários órgãos de comunicação social que as autoridades moçambicanas já fizeram um pedido nesse sentido. Garantidamente e seguramente que as autoridades europeias estarão a analisar e decidirão nas instâncias máximas se esse apoio poderá ser dado e em que moldes. Prevê-se que nas próximas semanas haja uma decisão sobre o assunto. (AIM)

Continua a não haver consensos no Comité Central da Frelimo sobre a lista de pré-candidatos que deve ser submetida à votação para a escolha do candidato presidencial do partido no poder às eleições de 09 de Outubro próximo. Este sábado, o processo voltou a falhar.

 

Em entrevista aos jornalistas, Teodoro Waty, um dos poucos membros do Comité Central que tem dado entrevistas informativas à imprensa desde o primeiro dia da reunião (sexta-feira), disse que os 254 membros efectivos do Comité Central ainda estão na fase de preparação dos nomes que devem ser submetidos às urnas.

 

“Ainda não há nomes definitivos para ir à votação”, declarou a fonte, defendendo que a Comissão Política, tal como o Presidente do Partido, não se têm oposto à entrada de novos candidatos na lista a ser submetida à votação.

 

A reunião, que inicialmente estava prevista para durar um dia, deverá retomar este domingo, pelas 10h. Waty, um antigo deputado, é um homem esperançoso e acredita que, neste domingo, os “camaradas” poderão fumar o “cachimbo da paz”.

 

A fonte reconhece estar-se perante um processo desgastante, mas defende que os membros do Comité Central, o órgão mais importante da Frelimo entre os Congressos, estão à procura da melhor solução, “que é ampliar a lista e ir-se à votação” e acredita que neste domingo, “em algum momento, será ampliada”.

 

Numa reunião marcada por intervalos longos que as próprias sessões de debate, é quase um desejo comum que o dossier seja encerrado este domingo. Salvador M’tumuke, antigo Ministro da Defesa, é um dos que acredita que a Frelimo elegerá, hoje, o seu candidato presidencial. Já Celso Correia, Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural e uma das figuras preteridas da lista inicial de pré-candidatos, entende que “os partos difíceis sempre dão bebés bonitos”.

 

Por sua vez, José Pacheco, que ao meio tarde deste sábado apresentou-se aos jornalistas, afirma estar-se num processo complexo, em que se deve tomar todas precauções para que se observe “os princípios democráticos da Frelimo”.

 

Na entrevista, Pacheco não confirmou se o seu nome constava da lista em debate e garantiu não ter notado qualquer tentativa de Filipe Nyusi em forçar a escolha de certos nomes. Igualmente, negou haver desacordo na escolha de figuras que podem assumir os destinos do país.

 

Referir que, à entrada da I Sessão Extraordinária do Comité Central da Frelimo, a Comissão Política, órgão que tinha missão de seleccionar os presidenciáveis, havia proposto as candidaturas de Roque Silva (Secretário-Geral do partido), Damião José (antigo porta-voz do partido) e Daniel Chapo (Governador de Inhambane), porém, os nomes não reuniram consenso, havendo membros que defende a inclusão dos nomes de Aires Ali e Basílio Monteiro.

 

Até ao momento, sublinhe-se, o partido Frelimo ainda não se pronunciou oficialmente desde que o evento arrancou na sexta-feira. (A. Maolela)

 
 

Quase 30 horas depois do início da I Sessão Extraordinária do Comité Central, o Presidente da Frelimo, Filipe Jacinto Nyusi, "deu à cara" aos jornalistas e demais membros do partido que se encontram nas imediações da Escola Central do Partido.

 

Nyusi apareceu ao "grande público" por volta das 13:40h, quando os 254 membros do órgão mais importante do partido no poder encontravam-se no intervalo de almoço. 

 

Numa curta declaração aos jornalistas, interrompida pela sempre ríspida segurança, Nyusi disse ter abandonado a sala para visitar a exposição, composta por cerca de 10 pessoas, que se encontram a vender camisetas e outros artigos do Partido. O passeio durou quase 5 minutos.

 

Quem também deu à cara, foi José Pacheco que apareceu ao "grande público", minutos depois da saída de Nyusi, tendo acenado aos jornalistas a partir da entrada principal do recinto da Escola Central do Partido.

 

Refira-se que decorre, desde às 10:30h de hoje, a segunda parte da reunião do Comité Central, que deverá eleger o candidato presidencial da Frelimo. Até ao momento, continua não havendo consensos sobre a lista que deverá avançar para a votação. (A.M)

 

O escritor moçambicano Mia Couto defendeu na quinta-feira, em declarações à Lusa, que a dívida dos países africanos pode ser uma das vertentes num eventual processo de reparação do período colonial, mas não como forma de “culpabilização”.

 

“O que a gente quer da história é exatamente que não se apague aquilo que é a verdade histórica, mas que ela não seja o fundamento para qualquer sentimento de culpabilização. Não tem que haver culpa das gerações de hoje sobre coisas que foram feitas num contexto histórico completamente diferente”, afirmou Mia Couto.

 

Para o escritor, as “reparações têm sentido”, se forem “discutidas não na base de um sentimento qualquer de culpa histórica” e “sim na base daquilo que os países africanos” – porque “o Brasil pode ter a sua própria postura” – “consideram ser digno e legítimo construir como uma ponte feita no presente”.

 

“Acho que a questão, por exemplo, na dívida, da atual dívida, pode ser um assunto atual, mas não no sentido de recuar na história para culpabilizar ou para vitimizar algum dos lados”, insistiu.

 

Na semana passada, antecedendo as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu a responsabilidade de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.

 

"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou Marcelo num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal, citado pela agência Reuters.

 

“Não gosto do termo reparação, gosto mais do termo no sentido de construção de qualquer coisa que tenha em consideração que houve uma história. Sim, uma história que lesou, mas fazer de uma maneira conjunta também”, apontou, por seu turno, Mia Couto.

 

O escritor disse defender a criação de um Museu da Escravatura, que teria “mais sentido” ficar no Brasil ou em Portugal, mas como “exemplo de alguma coisa que fosse construída com todos, com a participação de todos”.

 

“A conceção de um museu e depois a execução do museu seria pensada em conjunto, porque a história não é tão simples assim, tão feita a preto e branco. Também do lado africano houve cumplicidades, houve mãos internas que participaram”, explicou, garantindo que os historiadores de Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe “têm coisas para dizer sobre isso”.

 

Em Portugal, o Chega pediu o agendamento de um debate de urgência no parlamento para que o Governo esclareça se está a ser equacionada a atribuição de eventuais “indemnizações às antigas colónias”.

 

O partido político liderado por André Ventura acusou o chefe de Estado de trair os portugueses e pediu a Marcelo Rebelo de Sousa que se retrate por estas declarações.

 

“Provavelmente, as declarações do Presidente Marcelo foram empoladas. Porque hoje tudo se aproveita do ponto de vista de polarizar o debate e depois o debate já não é debate, porque é um conjunto de acusações e defesas. Mas eu acho que ele próprio teve a oportunidade de explicar o que é que se pretendia dizer com isso e, por exemplo, trabalhar no perdão da dívida atual, sim, é uma coisa atual”, defendeu Mia Couto.

 

Para o escritor moçambicano, a própria celebração da revolução do 25 de Abril em 1974 “não pode ser feita com apagamentos”.

 

“O 25 de Abril não foi só o resultado de um grupo de capitães que se rebelaram em Lisboa, mas foi o resultado das lutas que os países africanos fizeram, foi o resultado de uma coisa que também tem tendência a ser esquecida: foi a resistência antifascista dentro de Portugal, que começou anos e anos antes, e que levou a milhares de pessoas que foram também vitimizadas”, concluiu.(Lusa)

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