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segunda-feira, 08 junho 2020 05:31

Reinício do processo de DDR: Será desta!?

Depois de sucessivos adiamentos e terem sido largamente extravasados os prazos, foi retomado, semana finda, no Posto Administrativo de Savane, distrito de Dondo, província de Sofala, o processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) do braço armado do maior partido da oposição, a Renamo.

 

Savane dista a cerca de 50 Km da cidade da Beira, capital da província de Sofala, e é uma das pouco conhecidas bases do maior partido da oposição.

 

O relançamento do processo, com a habitual pompa que sempre acompanhou as anteriores cerimónias, foi testemunhado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, o líder da Renamo, Ossufo Momade e a comunidade internacional, que assiste o processo. Em concreto, o processo iniciou quinta-feira última, tendo o acto solene tido lugar dia seguinte (sexta-feira), assinalado pela entrega de material bélico.

 

Concretamente, 38 guerrilheiros do maior partido da oposição entregaram as suas respectivas armas e, seguidamente, receberam roupa, material de construção, valores monetários que variam de acordo com a patente de cada um. No que respeita a valores, embolsaram o correspondente a três meses e continuarão a receber por mais nove meses.

 

A retomada do processo está inserida no âmbito da materialização dos acordos assinados entre Filipe Nyusi e Ossufo Momade em Agosto do 2019, que, na verdade, foram sustentados pelos entendimentos alcançados entre o chefe do Estado e o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Afonso Dhlakama, recorde-se, perdeu a vida a 03 de Maio de 2018, tendo a coordenação do processo negocial com o Governo ficado a cargo de Ossufo Momade, a quem coube a condução dos destinos do partido após a partida do líder carismático.

 

Oficialmente, o processo de DDR do braço armado da Renamo iniciou a 29 de Julho de 2019, tendo ficado em banho-maria por quase um ano, devido, entre outros factores, a constrangimentos de ordem logística (disponibilidade financeira).

 

Entretanto, importa realçar que o único acto público e de revelo, no âmbito do DDR, foi a incorporação de 10 guerrilheiros da Renamo na Polícia da República de Moçambique (PRM), em cerimónia dirigida pelo Comandante Geral, Bernardino Rafael.

 

O processo, que está a ser feito em fases devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19, deverá culminar com a desmobilização de pouco mais de 5.000 mil guerrilheiros da Renamo.

 

Filipe Nyusi e Ossufo Momade

 

Naquele que foi o discurso por ocasião do evento, o Presidente da República começou por destacar a complexidade do processo, mas referiu que era possível de ser concretizado. Filipe Nyusi anotou que o processo ora iniciado tem por objectivo criar alicerces para o alcance da paz efectiva e duradoura.

 

“O nosso orgulho é que este processo está a ser dirigido por moçambicanos e para moçambicanos e conta com os nossos amigos de cooperação, que nos ajudam a trazer a máxima transparência e credibilidade. Este processo visa criar os alicerces para a almejada paz que exige tolerância, reconciliação e inclusão”, disse Filipe Nyusi.

 

De seguida, o Chefe do Estado apontou a inclusão como condimento essencial para o sucesso do processo. “A inclusão pode ser perdida de duas principais formas. A primeira, quando os que devem incluir não incluem e a segunda quando se registam actos de auto-exclusão. Quero pedir a todos os moçambicanos para embarcarmos juntos neste processo. Se algo estiver a falhar temos de assumir que a falha é nossa e temos de ser nós a corrigi-la. Portanto, a maior reinserção dos homens residuais da Renamo será feita nas nossas comunidades. Devem ser recebidos como irmãos e não como inimigos. Eles são mais uma força para juntos desenvolvermos Moçambique”, destacou.

 

Por seu turno, o líder da Renamo disse que o lançamento do DDR deve simbolizar a vontade das partes envolvidas e comprometimento para o alcance da tão pretendida paz e reconciliação nacional.

 

“É nosso entendimento que o lançamento do DDR deve simbolizar a vontade genuína de ambas partes coabitarem politicamente para juntos estabelecermos uma plataforma de diálogo que visa alcançar o desenvolvimento do país que todos nós almejamos. O presente acto representa o nosso compromisso inequívoco de mantermos a paz, estabilidade, harmonia e reconciliação nacional, valores pelos quais o nosso saudoso presidente, Afonso Dhlakama, sempre lutou”, disse Ossufo Momade.

 

Momade usou da oportunidade para, uma vez mais, distanciar a Renamo dos ataques armados que vêm sendo perpetrados pela auto-proclamada Junta Militar liderada por Mariano Nhongo. “Mais uma vez, distanciamo-nos deles porque os mesmos não resultam do nosso Estado-Maior General e nem sequer constituem a nossa estratégia. As acções são protagonizadas a título individual e não em nome da Renamo”, sentenciou.

 

Mirko Manzoni sobre Mariano Nhongo

 

Os ataques armados que têm estado a ocorrer na região centro do país, concretamente nas províncias de Sofala e Manica, foram tema incontornável durante a cerimónia do relançamento do processo de DDR. Mirko Manzoni, representante especial do Secretário-Geral das Nações Unidas e antigo Embaixador da Suíça em Moçambique, avançou, embora sem ter entrando em detalhes, ter mantido contactos com o líder da auto-proclamada Junta Militar.

 

Adiante, Manzoni manifestou total abertura para continuar a dialogar com Mariano Nhongo. “Acredito que encontraremos soluções para o diálogo. Aliás, o diálogo é a melhor arma para se encontrar a paz. Há pessoas, neste país, que não estão satisfeitas com o sucesso do DDR. O importante é dialogarmos e chegarmos a um consenso. Vai ser assim com Mariano Nhongo. O importante era dar os primeiros passos”, anotou Marzoni.

 

Mariano Nhongo garante retaliação

 

Ainda na passada sexta-feira, Mariano Nhongo deixou a promessa de que dias difíceis estavam por vir e que o processo ora iniciado não tinha pernas para andar. Para Mariano Nhongo, o actual presidente da Renamo é um traidor e está a enganar a Frelimo. Nhongo assegurou que a Junta Militar da Renamo vai recuperar todas as armas que foram entregues no âmbito da implementação do DDR. (Ilódio Bata)

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