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Co'Licença

quarta-feira, 02 janeiro 2019 04:44

Aulas gratuitas de prender gatunos

Olha, pessoal, em vez de estarmos aqui a gastarmos os nossos conhecimentos jurídicos e diplomáticos com debates do tipo "o gatuno soberano devia ser julgado cá" (quando, na realidade, temos consciência da carestia de tomates no nosso mercado judiciário), devíamos é sugerir que o governo envie uma equipa de alto nível à África do Sul para pedir humildemente o vídeo do circuito de vigilância do aeroporto internacional OR Thambo que mostra como os nossos vizinhos-cunhados prenderam aquele nosso brada. Portanto, a equipa receberia o filme num flash e voltaria à casa no mesmo dia. Isso seria muito mais valioso para nós como Estado. 



Com esse filme (desculpa, mas eu acho que é um filme mesmo: é que estou a imaginar um polícia a dar um pontapé na cara de um ex-ministro e deputado numa sala de embarque cheio de gente). Dizia então, com esse filme, teríamos umas aulas gratuitas de como se emitem e como se cumprem mandados judiciais e como se prendem gatunos de colarinho branco. Aprenderíamos que ladrão é ladrão em qualquer lugar do mundo, seja ele gordo ou magro, claro ou escuro, alto ou baixo, velho ou jovem, rico ou pobre.



Aqui em casa estamos a precisar desse tipo de curta metragem para umas pequenas lições que mostram que ladrão pode-se prender em qualquer lugar: em casa do gajo, no restaurante, no bar, no aeroporto, na putaria, na padaria, na discô, no iate, na circular, na É-Ene-Um ou Quatro, em Tchumene, na "Somachild", na Costa do Sol, no Triunfo, na Munhava, em Namicopo, e por aí além. Seria uma solidariedade diplomática de louvar no âmbito das nossas boas relações. 



Esse filme seria o hino da Pé-Gê-Ere para aprenderem que ladrão trata-se pelo próprio nome sem códigos. Teríamos também esse filme no currículo do curso de direito, da academia policial e do centro de formação jurídica e judiciária. O filme seria igualmente obrigatório nos treinos da UIR e da SERNIC. Seria também disponibilizada uma cópia para cada juiz. Talvez assim saberíamos, de uma vez por todas, que para prender gatuno precisamos apenas de cumprir a lei. Ter um mandado judicial e partir para a acção sem evasivas nem subterfúgios. Saberíamos que ao gatuno não se pergunta quando, onde e como quer ser preso... Que não se liga para gatuno para saber se gostaria de ir ao tribunal neste verão ou no inverno próximo.



Esse filme faz-nos muita falta aqui. Passaríamos na Tê-Vê-Eme umas tantas vezes por dia até que todos moçambicanos saibam que prender gatuno não custa nada: é só encontrar o gajo, dar-lhe uma rasteira, amarrar o gajo com arame, dar-lhe uma cotovelada, dar-lhe um remate no traseiro, o gajo cair na carroçaria do carro e bazar. Saberíamos que porrada é para gatuno, e não para o povo que reclama da subida do pão. De resto, temos de inculcar nas cabeças desses nossos irmãos que não se prende gatuno via Eme-Pesa nem via ordens superiores... Que não existe gatuno diplomático nem imune... E que lugar de gatuno é na "djela-hause".

- Co'licença!

segunda-feira, 31 dezembro 2018 03:08

Já começaram a destruir a nossa coleção de gatunos

Vizinhos invejosos! Ouçam cá, seus maconheiros, esse senhor que vocês prenderam aí faz parte da nossa coleção de "marimbondos" muito valiosa. São intocáveis esses. São de porcelana cara. Esse aí em particular é de porcelana milenar chinesa. Se for por causa daquela bolada de atum e não atum, temos a dizer que esse assunto está muito bem encaminhado. Assim o processo já entrou no Tribunal Administrativo para mais averiguações, depois seguirá ao secretário do bairro, depois ao chefe do quarteirão, depois ao chefe de dez-casas, e assim sucessivamente, até chegar à Ametramo. Estamos a trabalhar. 



Dizia, esse gatuno aí é nosso. Se ele tem, na Suíça, mais dinheiro que todas as nossas dívidas juntas, isso não é da vossa conta. Que culpa temos nós se os vossos ladrões não lavam o dinheiro que roubam? Que culpa temos nós se os vossos ladrões não têm higiene "Individual"?



Faxavor, esse "Indivíduo" aí faz parte de um conjunto de gatunos de estimação que é uma relíquia nacional. É um jogo de peças únicas descobertas pela Kroll e mais tarde codificadas pela madame Buchily, uma renomada especialista em criptografia de larápios. São obras de arte que levaram muito tempo a (de)lapidar e a colecionar. 



Mandem-no para cá. Não estraguem a nossa coleção. Se for para enviar para os Estados Unidos, que seja então a coleção toda. Podem vir buscar o resto dos ladrões, sabemos onde moram. Que fique claro: fazemo-lo por amor aos nossos gatunos e a pátria... Para não andarem espalhados por aí. É um kit completo. Tem de estar junto. É uma coleção. 



- Co'licença!

sexta-feira, 28 dezembro 2018 06:08

Um festival de cobardia com ociosidade à mistura

O Tribunal Administrativo emitiu ontem um comunicado de meia dúzia de parágrafos bastante redondo. Um "peipa" maningue poético e nutrido de parábolas. Um pacote de português embrulhado e fino que nada diz. No tal comunicado entitulado "processo de averiguação das dívidas contraídas pela PROINDICUS, EMATUM e MAM", o Tê-A diz que somente vai-se pronunciar sobre este assunto se essas empresas apresentarem as informações que foram ocultadas durante as investigações levadas a cabo pela Kroll. Na verdade, os Juízes do Tê-A estão a dizer qualquer coisa como: para não andarem a dizer por aí que nós não estamos trabalhar, nós preferirmos confirmar na primeira pessoa que não estamos a trabalhar mesmo. Como quem diz não é com essas vossas dívidas escondidas que vão nos fazer transpirar logo com esse calor do fim de ano.

segunda-feira, 24 dezembro 2018 08:07

Ó-Tê-Eme: um sindicato caduco

Não sei se já repararam, mas parece que a agremiação que representa e advoga os interesses e direitos de todos trabalhadores deste país está velha e caduca. Se ficar atento, vai notar que desde a sua criação, em 1983, a Organização dos Trabalhadores de Moçambique, mais conhecida por Ó-Tê-Eme-Central-Sindical, tem estado a ibernar a cada ano que passa. Perdeu interesse. A sua constituição, gestão e planos de actividades não são transparentes. Se são, me elucidem.

Nos últimos anos temos estado ou firmes ou resilientes ou estáveis. Mas afinal, qual é a distância entre cada uma dessas metáforas presidencialistas? O que mudou na verdade?

Então vamos a isso. Para começar, foi o cientista inglês Thomas Young uma das primeiras pessoas que usou o termo "resiliência", em 1807, durante as suas pesquisas sobre a relação entre a tensão e a deformação de barras metálicas. Para a Física, resiliência é a capacidade de um material voltar ao seu estado normal depois de ter sido submetido a uma pressão. Por exemplo, a capacidade da borracha de voltar ao seu estado normal depois de ser tensionada ou a do elástico depois de ser esticado.

segunda-feira, 17 dezembro 2018 03:04

Um azar evitável

Essa nova moda de exibir falsas vidas largas nas redes sociais um dia vai nos matar. Não entendo qual é a sensação de mostrar ao mundo uma vida de rei que na realidade não se tem. Qual é a tesão de fazer "show off" com molhos de dinheiro que não nos pertence? O que se ganha exibindo um carrão ou um casarão que não é nosso? Não entendo! Juro que não entendo! Na semana passada, "Carta" seguiu o rasto de Shakira Júnior Lectícia, uma figura que, durante quase um ano, exaltou a insurgência em Cabo Delgado por via de uma conta no Facebook. Ele/a fazia o seu trabalho criminoso publicando fotos que presumivelmente não eram suas. Nas fotos aparecem jovens (homens e mulheres) exibindo vidas largas com molhos bastante volumosos de dinheiro em notas grandes.

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