Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

BCI

Co'Licença

sexta-feira, 08 fevereiro 2019 06:36

Felizmente, mas também infelizmente

Juma Aiuba

FELIZMENTE, já tomaram posse os Presidentes dos Conselhos Autárquicos eleitos. Falo daqueles candidatos que foram verdadeiramente eleitos pelo povo, com voto verdadeiro no boletim de voto, numa urna verdadeira e com edital também verdadeiro. Falo de voto limpo. Urna limpa. Edital limpo. Falo desses Presidentes legítimos que tomaram posse para cumprirem os seus manifestos eleitorais que foram legitimamente eleitos pelos munícipes. 



Mas também, INFELIZMENTE, tomaram posse os pseudo-presidentes. Falo dos presidentes falsos, dos presidentes artificiais, dos presidentes piratas. Falo daqueles presidentes dos Conselhos Autárquicos que, na realidade, são candidatos derrotados. Aqueles que viraram presidentes graças aos atletas contratados que conseguiram correr e fugir com urnas e editais. Aqueles presidentes que tiveram "mais" votos na urna do que eleitores inscritos nos cadernos eleitorais. Falo daqueles candidatos que viraram presidentes graças às armas e cassetetes da FIR. Falo igualmente daqueles presidentes que são fruto dos cortes de energia e da escuridão. Aqueles que começaram a vencer o escrutínio na calada da noite.



Também falo daqueles presidentes que, em última instância, foram apadrinhados pela Cê-Ene-É e pelo Cê-Cê. Aqueles que tiveram dois resultados de apuramento diferentes. Aqueles cuja vitória foi parida por via de votos no gabinete. Aqueles que perderam na mesa, mas ganharam no acórdão. Aqueles que mandaram plantar blindados nos quintais dos seus oponentes. Não vou esquecer aqueles presidentes que não tiveram adversários. Aqueles cujos adversários foram antecipadamente derrotados pelos órgãos de gestão eleitoral e pelo poder judiciário, como aqueles meninos mimados que não sabem jogar, mas que devem jogar e ganhar a partida porque são os donos da bola. 



Tomaram posse presidentes de todos os tamanhos e feitios. O azar é que, quando estão juntos, é difícil distinguir uns dos outros. É difícil saber quem é quem. A sorte é que o povo sabe a quem votou e eles sabem que o povo sabe. Assim que entraram nos gabinetes já estão a tremer sozinhos. Não têm planos, porque nunca tiveram projectos. O que resta agora é fingir que estão a trabalhar, enquanto montam filósofos e sentinelas de plantão na imprensa e nas redes sociais para digitarem o "enter" e activarem o modo insulto, hossana e aleluia durante os cinco anos de mandato que se seguem. O que se segue é confundirem a opinião pública, as vezes, atribuindo obras do governo central a esses pseudo-edis. O que se segue é a exaltação de tudo no meio do nada. 



O povo sabe das coisas. Assim como o "ministro das dívidas ocultas", esses também são "presidentes das urnas ocultas". São gatunos também. Um dia desses vão tomar sumo de maracujá ali na vizinhança, felizmente, mas também infelizmente. 



- Co'licença!

quarta-feira, 06 fevereiro 2019 08:58

A pessoalização do Eme-Dê-Eme

É preciso ficar claro para os irmãos Simango, o Daviz e o Lutero, que foram eles que mataram o partido Eme-Dê-Eme. Quando começaram as desavenças entre o falecido Mahamudo Amurane e o Eme-Dê-Eme, escrevi algures que era eminente a cisão naquele partido. Disse isso porque em nenhum momento houve um pronunciamento institucional do partido sobre o caso. Ou seja, o caso foi gerido pelos irmãos Simango como pessoal. Se se lembram, só se mandavam farpas na imprensa. Se chamavam cobras e lagartos na imprensa até o desaparecimento físico do edil. 



Depois do assassinato de Amurane, o que se seguiu foi o descalabro que todos vimos. Iniciou-se um processo de parcerias com a Frelimo que culminaram com um festival de perseguições sem cabimento. Ao invés de fazer uma introspecção, o Eme-Dê-Eme preferiu disparar para tudo quanto é canto, acabando, por vezes, em dar tiros no próprio pé. Depois disso, vimos o que vimos: membros influentes saindo a voar do Eme-Dê-Eme, com sensação de liberdade, como se estivessem numa gaiola, anemia nas fileiras e derrotas eleitorais de retumbâncias inimagináveis. 



Dizia eu, nessa altura, que o comportamento dos irmãos Simango fazia-nos acreditar na versão da história sobre o seu pai contada pela Frelimo. E parece que foi isso que Afonso Dhlakama descobriu no Daviz a ponto de lhe afastar como candidato da Renamo a edil da Beira. Provavelmente, Dhlakama descobriu essa forma pessoalista e casmurra de ser de Daviz. Pessoas como os Simangos não têm lugar na Frelimo, nem hoje nem ontem. 



Daviz pode ser um bom gestor público, mas temos de assumir que o homem tem problemas sérios de aceitar ideias diferentes. Definitivamente, Daviz não gosta de ser contrariado. Digere a crítica com bastante dificuldade. Ele leva tudo para o lado pessoal. E isso não é bom para um líder. Liderança é capacidade de engolir sapos; é aceitar a liberdade da diferença; é saber gerir expectativas. 



Esse complô contra o Manuel de Araújo era desnecessário. Não precisava descer tanto. Há coisas que só põem os outros mais fortes. A vingança mata o carácter. Eme-Dê-Eme já foi uma alternativa, mas hoje nem parece que algum dia existiu. 



- Co'licença!

segunda-feira, 04 fevereiro 2019 10:21

Os heróis de hoje em dia

Se não fosse a Polícia, muita gente não saberia que o CIP estava a promover uma campanha denominada "Eu Não Pago Dívidas Ocultas" com direito a uma camisete mahala e um vídeo de bacela no "Feicibuki". Muito provavelmente, se o regime tivesse visto aquela campanha como um exercício de liberdade de expressão qualquer, consagrado na Constituição da República, a campanha nem teria a repercussão que teve. Se tivesse considerado como uma campanha de combate ao Aga-I-Vê, num primeiro de Dezembro qualquer, ou como uma campanha "lixo no chão, não" na praia da Costa do Sol, num desses domingos quentes, o CIP não estaria a granjear essa simpatia toda. É verdade isso! Muitas pessoas não conheceriam a Fátima Mimbire nem o Borges Nhamirre, que são nada mais do que pacatos cidadãos que estão a travar com jantes como milhares de moçambicanos, tirando aqueles da lista dos dezoito-apóstolos-da-Pé-Gê-Ere. Essa campanha nem teria ganho o estatuto de "manifestação" como ficou conhecida. A estas alturas já nem estaríamos a falar mais dela. Mas não, o governo quis escrever em parangonas transformando o assunto numa autêntica epopéia e colocando os seus protagonistas no standard honorífico nacional. 



Por exemplo, eu não sabia que o Parlamento Juvenil estava a organizar um "Combate Cultural dos Excluídos" sobre o julgamento do Chang e a sua esperada e merecida viagem para os É-U-Â. Mas, a nossa Polícia, boazinha que é, correu para me dizer que havia um sarau muito importante no quintal daquela agremiação, promovida por jovens audazes. Foi a Polícia que me informou, em primeira mão, que haviam heróis no Parlamento Juvenil. Graças a Pé-Ere-Eme, todo mundo ficou a saber dessa iniciativa e aqueles jovens protagonistas transformaram-se, em fração de segundos, em heróis e a autoridade repressiva do Estado, em vilã. 



O regime está a criar heróis sem se aperceber transformando anões em gigantes e magumbas em atuns. Quem era Amade Abubacar? Um jornalista "invisível" que, graças ao regime, virou herói. Quer queiramos quer não, os Salemas, os Macuanes, os Nhamirres, os Matiases, os Castel-Brancos, os Nuvungas, os Cortêses, as Fátimas, etecetera, desta vida - simples cidadãos usufruindo das suas liberdades constitucionais - hoje estão legitimamente nas "criptas" da opinião pública como os melhores filhos desta pátria. Não mataram nenhum colonialista, nem escreveram nenhum poema de combate, mas são mais heróis do povo do que certos "erróis" ainda viventes amigos de Mondlane. Até a senhora Elivera Dreyer, uma procuradora distrital desconhecida lá das bandas de Joannesburg, que, por causa do nosso aparelho de justiça lerdo, virou a nossa heroína-revelação. 



Na realidade, a acção do regime hodierno é um fermento de heróis anónimos. De cagada em cagada, a nossa Polícia e o nosso judiciário vão lapidando heróis. Produção de heróis em série, diria Henry Ford. O regime virou uma máquina de fazer heróis, assim como uma pipoqueira. Hoje para ser herói não custa: é só dizer que não vai pagar as dívidas ocultas ou que prefere que Chang seja extraditado para os "Estaites" ou que as decapitações em Cabo Delgado devem acabar, que prontos, num instante, a Polícia chega para te espancar e o povo te aclama herói. Para ser herói basta exercer o seu direito de cidadania. E, no fim das contas, os heróis de hoje em dia somos todos nós e homenageamo-nos todos os dias. 



A heroicidade da nossa Pátria A(r)mada está sendo mecanicamente vulgarizada e as criptas, massificadas. Essas criptas do povo são as mais legítimas do que aquelas das praças. Arrisco dizer que somos o país com mais heróis por metro quadrado da actualidade. A tentativa de hostilizar os actos e as pessoas, acaba-se promovendo involuntariamente. Infelizmente, é este o efeito perverso da repressão: a publicidade e a revelação de destemidos. Tradicionalmente, isso sucede quando o Estado não conhece os seus termos de referência: começa a ver fantasmas onde não tem; paranoia institucionalizada. 



- Co'licença!

Confesso que já estou a ficar preocupado com os gastos que o Manuel Chang está a fazer. Já começo a me perguntar se vai sobrar alguma coisa na conta quando o homem estiver a bazar para os "Esteites". Não sei quanto custa malta Rude Krause, mas os gastos desses trinta dias de prisão já começam a me preocupar. Fora os Krauses, que de certeza não são para bolsos humildes, existe uma casa alugada em Malelane, Mpumalanga, que também não deve ser barata. Numa pesquisa rápida que fiz pela net, a compra de uma casa do tipo que foi mencionada em tribunal, numa quinta naquelas bandas, pode variar entre 300 à 500 mil dólares. Estamos a falar de 20 à 30 bis. Arrendar também não é para qualquer vivente. Aquela zona é uma das mais caras do continente africano.



Então, isso já começa a me preocupar. Me preocupa porque, até prova em contrário, as coisas do Chang são nossas. Ou seja, por enquanto, aquilo que Chang adquiriu nos últimos quinze anos é do povo. É preciso recordar que Chang foi Ministro das Finanças por dez anos e que além do calote das dívidas ocultas, existe também a burla da Odebrecht no aeroporto de Nacala. E pode ainda existir muito mais dinheiro do povo nas balalaicas daquele "chinês" que precisa ser devolvido aos legítimos donos. Mas enquanto ele continuar a gastar desta maneira, não vai sobrar um tostão de metical para contar o filme. 



Parece paulada, mas não é. É preocupação mesmo. O descaso do Chang com os gastos pode ser uma sabotagem também. Não vejo a racionalidade dele querer aguardar pelo esperado e merecido embarque numa casa com jacuzzi, sauna, piscina, campo de golfe, vista para os riachos e montanhas, canto de passarinhos, etecetera. É que essa é vida de ricos, e ele acabou de dizer, na semana, em tribunal, que é um "Indivíduo" de saldos modestos. Por que é que ele quer gozar da boa vida sabendo que será ou extraditado ou resgatado daqui a pouco? 



Se, na primeira audição, o Chang tivesse começado logo com "olha, bradas, eu não quero vos dar muito job... nós levamos essa mola... malta indivíduo-G e companhia estão lá em Maputo... eu posso vos acompanhar para pegarem os gajos... desculpa lá, pessoal!...", as coisas estariam bem facilitadas. Hoje não estaríamos a falar de malta Krause, nem de diabetes, nem de vivendas arrendadas. Sei que Chang tem seus bens, mas atenção, deixemos que seja o tribunal a decidir o que é verdadeiramente dele e o que é nosso. E até lá, haja moderação, camarada prisioneiro ainda imune. 



- Co'licença!

quarta-feira, 30 janeiro 2019 06:49

Um Direito muito esquerdo

Quando tudo isso começou eu pensava que era brincadeira. Pensava que era só prenderem o Chang, empacotarem o gajo para os "Esteites", encontrar o juiz William de Nova Iorque, mandar chamboquear o gajo, o gajo falar quem são os bradas dele e depois arrumarem o homenzinho num quarto do quinto-dos-infernos "foreva". 



Pensava que depois de prenderem o Chang seria tudo moleza. Mas me enganei. A prisão do Chang baralhou o Estado todo. O Chang está mais poderoso dentro do que fora. Aumentou a sua cotação na bolsa. Valorizou muito. Quem não conhecia o Chang agora já conhece pelos piores motivos e ocasião. Chang parece El Chapo e o Estado parece os seus capangas tentando o resgatar da bófia. Se me disserem que a Pé-Gê-Ere ou o Tribunal Supremo ou a Comissão Permanente está a cavar um túnel clandestino de Ressano à cadeia de Modderbee, em Joannesburg, para roubar o Chang de lá, confesso que não me espantarei. 



Hoje, a Constituição da República é um livro poético e o Direito, patético. Devia-se transformar a Faculdade de Direito da Ú-É-Eme em ateliê de escovas e graxas. Acho que é esta a mensagem que vem da "Comissão dos Mercedes Benz da Dignidade" da Assembleia da República. Hoje a própria Comissão, que devia ser exímia entendedora da legislação, não consegue interpretar uma placa "não deitar lixo aqui". Infelizmente. 



Os recentes episódios da história deste país parecem contos de "stand up comedy" ou filmes de Pablo Escobar. Atingimos o píncaro da leviandade e da falta de carácter. O auge da cara-de-pau. Conseguimos colocar um biltre acima da lei. É o nosso Direito curvando torto para a esquerda - o apogeu da corrupção do Estado. E nós merecemos isto - o que é pior - infelizmente. 



Sobre este assunto fico por aqui. Nada mais tenho a acrescentar. Por falar em acrescentar, dizem que há gajos que já estão a bater suruma misturada com gonazololo. Alguém já experimentou? 


- Co'licença!

segunda-feira, 28 janeiro 2019 07:25

Se eu fosse a Buchili

Se eu fosse a Biatriz, a digníssima dona procurad(or)a, saía um pouquinho do ar condicionado, descia uns passitos ali ao mercado central e comprava uma sebenta (caderno) daquelas de capa dura, de cor preta, escrita "caderno escolar". Aproveitava esse tempo em que país e encarregados de educação estão a comprar material escolar para os seus filhos e afins para fazer também minhas compras lectivas. Dizia, comprava uma sebenta de capa dura, preta, com letras brancas a frente "caderno escolar" e três esferográficas "Bic": azul, preta e vermelha. Um kit de apontamentos. Escrevia o meu nome naquele quadradinho branco que vem na capa. Ali onde é para pôr "escola", ia escrever "Kempton Park Magistrate", na "disciplina" seria "Princípios Básicos de Direito" e na "turma" ia escrever "Pé-Gê-Ere de Moz". Então, ia começar a passar apontamentos da professora Elivera Dreyer, aquela senhora magnífica que está a dar aulas de Direito, de borla, ali na casa vizinha. Ficava bem quietinha e muito atenta às aulas dela. 



Convenhamos, pessoal, aquela forma de argumentar uma acusação para matrecar um gatuno diplomático, imune e com altos níveis de glicemia, cercado por advogados caros e reputados da máfia, são autênticas lições gratuitas de Direito para a dona Bia e seus apaniguados. Não é brincadeira! Nem o mancar, nem a palidez, nem a diabetes mellitos, consegue salvar o homenzinho das garras da senhora. Na Pé-Gê-Ere aquelas audições deviam ser assistidas em tela gigante, num anfiteatro, com direito a apontamentos e tudo. Que "granda" aula, meu Deus! Chiiiça! 



Continuando, eu ia aproveitar essas audições de Joannesburg para fazer meus apanhados para enfrentar os 17 arguidos que ainda me sobram na lista. Podia usar essas cabulas para, pelo menos, assustar aqueles gatunos da lista que não são diplomáticos nem imunes e marcava alguns pontos neste meu pobre e insignificante mandato. Pelo menos teria alguma coisa para contar aos meus netos. Um dia talvez estaria escrito na história do judiciário moçambicano como uma menina atrevida que tentou destruir um ninho de marimbondos de luxo. Podia não conseguir, mas ia tentar. 



Ao invés de estar aí atrapalhanda em resgatar um lesa-pátria confesso, ela devia já estar a fazer algo mais interessante, como por exemplo, deitar fora aquele relatório encriptado e começar a trabalhar seriamente com o original da Kroll que chama os gatunos pelos seus próprios nomes de registo, sem alcunhas nem pseudónimos. Não devia gastar tempo fazendo parcerias com o Tribunal Supremo e o Parlamento, que só vai somar mais vergonhas. Devia fazer algo mais palpável e visível. É preciso aproveitar algumas oportunidades que a vida nos oferece. As vezes é preciso nos olharmos no espelho e termos um pouco de vergonha na cara. É preciso sentirmos pena do nosso travesseiro a noite. Isso de ir trabalhar enquanto o cérebro ainda está em Bilene de férias não é uma coisa para habituar. 



Daqui a pouco, o Chang e seu pâncreas vão embarcar, a palestra da doutora Elivera vai terminar e vocês vão continuar aqui com a vossa dúzia e meia de surrupiadores de luxo e um monte de comunicados, convocatórias e cartas de pedido de resgate que não deram em nada. Aproveitem cabular ao menos. O tempo é esse. 

- Co'licença!

Pág. 41 de 46