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Política

“Moçambique é um país irmão e amigo da China: e reafirmamos a nossa disposição para o seu desenvolvimento”, Xi Jinping. Foi assim que o Presidente Chinês resumiu a audiência concedida ao Presidente Filipe Nyusi, quando o recebeu no Palácio do Povo, ontem. A manhã e tarde da quarta-feira, dia 24 de abril de 2019, não foram quaisquer para Jinping. Ele teve uma torrente de audiências com seus homólogos, chefes de Estados, que aceitaram o convite para participarem do II Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional, a ter lugar de 26 a 27 de Abril em Pequim. Ao todo são 120 Estados e 90 organizações internacionais que assinaram o compacto do Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional, incluindo Moçambique.

 

Xi Jinping tinha que os receber em audiência entre 24 e 25 de abril. Em média, o Presidente Chinês dedicou até 25 minutos para cada Chefe do Estado. Mas, para o caso de Moçambique, foi diferente. A irmandade entre China e Moçambique também se provou na prática, olhando para o tempo que os dois Chefes de Estado levaram a conferenciar: nada menos que 85 minutos (1hr, 25min), numa demonstração inequívoca de que havia muito que falar e partilhar informação mutuamente importante para os dois. O episódio foi igualmente demonstrador das habilidades diplomáticas do nosso Presidente Nyusi, cujo rastro de simpatia e afeto contagia a todo e qualquer um que o conhece.

 

O Presidente Filipe Nyusi foi o primeiro de todos a ser recebido pelo Chefe do Estado chinês, Xi Jinping. Imediatamente o PR foi recebido pelo número dois da República chinesa, o Presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, Li Zhanshu, também conhecido nos meandros da diplomacia chinesa como “o padrinho de Moçambique”, com quem almoçou naquela tarde. Não é para menos, se tivermos em conta que o resto dos Chefes de Estado tiveram apenas 25 minutos com o Presidente Xi. O russoVladmir Putin, que chega hoje a Pequim, será dos últimos a serem recebidos pelo Presidente chinês.

 

Só para dar mais um ou dois exemplos da destreza diplomática do presidente moçambicano. Na manhã de hoje, 25 de Abril, Raila Odinga, antigo Primeiro-ministro queniano e atual líder da oposição, teve que aguardar pelo Presidente Nyusi à saída do Hotel para lhe saudar. Não havia tempo e Odinga sabia que, se tivesse perdido aquele instante, muito dificilmente lhe encontraria. E também Odinga queria fazer ciúmes ao seu Presidente, Uhuru Kenyatta, que tudo fez para que se hospedasse no mesmo Hotel onde o seu “irmão” Presidente Nyusi se encontra.

 

Não conseguiu; pois perdera a reserva em benefício da recém-eleita Presidente da Indonésia, Joko Widodo. As 08:35, o Presidente Nyusi irrompia dos elevadores e eis que o abraço aconteceu, para a alegria de ambos. Odinga não estava no Hotel para mais nada. Abraçou, saudaram-se em KiSwahili e depois evadiu-se do espaço. Odinga havia chegado na noite anterior e soube da presença do Presidente Nyusi, pelo que procurou todas formas de o saudar, antes do raiar do sol.

 

Aconteceu o mesmo com a atual Directora-Geral do FMI, Christiane Lagarde, quando, em plenos “anos ranhosos” e quando ninguém queria falar com Moçambique, Presidente Nyusi encontrou-a no seu gabinete em Washington e lá se tornaram amigos.

 

Mas, voltemos ao assunto principal: à semelhança dos outros Presidentes que o precederam, o Presidente Nyusi também tem uma meta e um desafio pessoal que pretende realizar. Ligar o Zumbo ao Chinde. Diríamos por, outras palavras, ligar por estrada o Distrito do Zumbo ao Oceano Índico. Este foi um dos temas na mesa das discussões, ao que China se prontificou em atender/financiar. A ser concretizado, serão 1123 km de estrada ligando todas as províncias do centro de Moçambique, o que vai melhorar a vida das populações dos distritos de Zumbo, Fíngoe, Moatize, Doa, Mutarara (Tete); Morrumbala, Chinde, Luabo e Mopeia (Zambézia); Caia, Chemba (Sofala); Tambara (Manica), para além de ainda melhorar as relações comerciais, mobilidade de pessoas e bens não só para os moçambicanos como para os países do “hinterland”, nomeadamente Malawi, Zâmbia e Zimbabwe.

 

De igual modo, a EN1 não ficou esquecida. A China está disposta a financiar a reabilitação da estrada de modo a torná-la numa via de referência na região. Não é brincadeira. E, para fechar com chave de ouro, o Presidente Nyusi não se esqueceu dos estragos do IDAI. Xi reafirmou a disponibilidade da China em participar da reconstrução do país. E, para tal, ela vai também ajudar a reabilitar a EN6, que vai da cidade da Beira a Machipanda, fortemente sabotada pelas águas das chuvas do Ciclone IDAI.

 

Se olharmos para tudo o que escrevi em termos de resultados, chegamos a conclusão de que o Cinturão e Rota de que tanto se fala é isso mesmo: melhoria ou criação de melhores infra-estruturas de transporte e comunicação, interligando pontos de interesse nacional e estes com outros pontos de interesse internacional, por forma a melhor integrar as economias e escalar as sinergias de cooperação internacional.

 

Um Moçambique bem interligado é vantajoso não apenas para o país como para a região. E, no limite, a ambição de Xi é subverter o legado colonial nessa vertente, dado que ela foi feita para servir os interesses colonialistas e não necessariamente dos povos. E para terminar, um Memorando de Entendimento foi assinado entre o Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, e sua contraparte chinesa, para a construção de uma estrada que vai de Namacurra a Macuse, numa extensão de 50 km. Esta estrada é de capital importância dado que em Macuse projeta-se a edificação de um porto cuja construção irá brevemente arrancar. O Fórum ainda não acabou mas, pelos resultados garantidos, vale a pena dizer que a diplomacia moçambicana funcionou. E bem. (*Em Pequim/Colaboração)

Com o Ciclone Kenneth a aproximar-se da costa da província de Cabo Delgado (prevê-se que atinja aquela província do norte de país na tarde desta quinta-feira, 25), o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) já começou a evacuar as populações residindo nas zonas de risco. Até as 13 horas de hoje, o INGC já tinha evacuado mais de 30 mil pessoas nos 10 distritos que serão afectados pelo ciclone.

 

Para acomodar as famílias, dados disponíveis até ao momento indicam que foram criados mais de 30 centros de abrigo, maioritariamente constituídos por escolas, nos distritos de Pemba (cinco), Mecúfi (dois), Chiúre (não especificados), Metuge (cinco), Mocímboa da Praia (quatro), Palma (três), Macomia (um), Quissanga (um), Ibo (cinco) e Muidumbe (10).

 

Os trabalhos de evacuação das famílias, nos 10 distritos, tiveram início na tarde desta quarta-feira, logo após a activação do “alerta vermelho”, e contaram com a presença da Directora-geral do INGC, Augusta Maita. Imagens partilhadas pelo Gabinete de Comunicação daquela instituição mostram o edifício do Comando Distrital da PRM, em Macomia, sem teto, assim como de uma residência particular.

 

Para realizar os trabalhos de salvamento, o INGC confirma ter preparado 20 pilotos de barcos e 10 embarcações, enquanto os meios aéreos estão “estacionados” na cidade de Nampula para que não se danifiquem. Referir que o Instituto Nacional de Meteorologia prevê que o Ciclone Kenneth atinja o continente, através dos distritos de Macomia e Mocimboa da Praia. O mesmo terá ventos de 180 km/h e rajadas até 200 km/h e a precipitação estará acima de 100 mm/24h. (Carta)

O professor catedrático e Engenheiro hidráulico, Álvaro Carmo Vaz, defende que os alertas emitidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), com uma semana de antecedência, sobre o Ciclone IDAI, que fustigou a zona centro do país, “não foram entendidos na sua gravidade”.

 

Falando esta terça-feira (23), em Maputo, numa palestra organizada pela Ordem dos Engenheiros de Moçambique com vista a reflectir sobre as lições que se podem tirar do Ciclone e das cheias, o Engenheiro entende que, com a velocidade dos ventos (acima de 200km/h) e a quantidade de precipitação (mais de 150 mm/24h) que se previa, devia ter-se evacuado a população das zonas mais vulneráveis com antecedência.

 

“Houve claros alertas do INAM e da DNGRH (Direcção Nacional de Gestão dos Recursos Hídricos), mas a preparação e/ou reacção do INGC (Instituto Nacional de Gestão de Calamidades) e de outras autoridades foi insuficiente”, afirma Vaz, que advoga ainda a revisão do ciclo de informação e tomada de decisão, de modo que esta chegue com precisão e antecedência aos necessitados.

 

“Os avisos à população não podem ser genéricos, do tipo ‘aconselha-se precaução’ ou ‘procurem refúgio em zonas altas’. Têm de ser específicos para cada local e para os diversos agentes. As pessoas devem saber o que devem levar consigo e saber que, quando saem, alguém tomará conta das suas coisas”, disse o especialista em Hidrologia e Recursos Hídricos, numa palestra que contou com a presença do vice-ministro das Obras Públicas e Habitação, Victor Tauacale, o ex-titular da pasta, Carlos Boneti Martinho, o Edil da Beira, Daviz Simango, e o Director-Executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclone IDAI, Francisco Pereira.

 

Segundo Carmo Vaz, para além de não se ter evacuado a população, assistiu-se também à demora na reacção, assim como não se garantiu a segurança de pessoas e bens. Acrescenta que observou a incapacidade do INGC em dar resposta à emergência e a ausência do exército no salvamento de pessoas, com helicópteros e barcos. Os primeiros salvamentos foram realizados por sul-africanos, depois indianos, depois os portugueses.

 

Para Carmo Vaz, o INGC tem de estar devidamente equipado, com barcos de borracha que possam navegar rios em cheia, assim como o exército tem de ter helicópteros e unidades de engenharia que possam apoiar aquela instituição em situações daquela natureza.

 

“Temos de voltar a ter cabotagem regular, urgentemente, pois, o primeiro barco a chegar na Beira saiu de Maputo e foi de iniciativa privada. Os sistemas essenciais à vida urbana (água, electricidade, comunicações) têm de ter mais e melhores redundâncias”, defendeu.

 

Vaz salientou que o Ciclone IDAI não é a maior catástrofe do mundo, porém, é dos maiores eventos naturais que já se registou na África Subsariana e que, em extensão e impacto, superou as famosas e fatídicas cheias do ano 2000. Acrescentou que a tempestade não foi o principal responsável pela destruição da cidade da Beira, pois, esta já tinha registado inundações entre Janeiro e Fevereiro, para além de ter registado muita humidade e chuva naquele período.

 

O drama das cheias também era evitável

 

Carmo Vaz defende que as cheias dos rios Revúboè, Búzi e Púnguè eram previsíveis, tendo em conta os alertas da DNGRH, a previsão meteorológica e as características dos rios, pelo que, a população também devia ter sido alertada e evacuada.

 

No caso das cheias no bairro Chingodzi, arredores de Tete, a população devia ter sido alertada e evacuada, pois, encontra-se na parte mais baixa do rio Revúboè, que desce do planalto de Angónia e das montanhas de Tsangano até confluir com o rio Zambeze.

 

Vaz revela que, no dia em que o rio inundou aquele bairro (madrugada do dia 08 de Março), a precipitação, entre as 9:00 horas do dia 07 até às 9:00 horas do dia 08, tinha sido quase três vezes superior a do dia anterior, nos distritos de Angónia e Tsangano.

 

No dia 07, em Angónia, a precipitação tinha sido de 145 mm, enquanto em Tsangano era de 148 mm. No dia 08, Angónia registou uma precipitação de 141 mm e Tsangano de 180 mm. Porém, no dia 06, Angónia teve uma precipitação de 19 mm e Tsangano de 58 mm; e no dia 09, a precipitação em Angónia era de 54 mm, enquanto em Tsangano não choveu.

 

Estes números levaram Vaz a “adivinhar”, na noite do dia 07, que haveria uma grande cheia (de cerca de 4000 m3/s), na parte terminal do rio Revúboè (perto da cidade de Tete). A ARA-Zambeze revela que o caudal de ponta estimado na ponte sobre aquele rio foi de 8000 m3/s.

 

O Engenheiro sublinha que a situação, na cidade de Tete, agravou-se com as descargas que já aconteciam na Barragem de Cahora Bassa, que estava muito cheia (acima de 98%) e, por isso, fazia uma descarga adicional ao caudal turbinado (de 1600 para 3100 m/s).

 

“Porque é que não houve um alerta vermelho para a cheia previsível em Tete? Porque é que não se solicitou mais cedo a Cahora Bassa a redução das suas descargas? Como foi possível ter acontecido um crescimento tão grande da ocupação na zona de Chingodzi em pouco mais de dez anos, sabendo-se tratar duma zona muito vulnerável?”, questiona o especialista hidráulico.

 

No entender de Vaz, atitude idêntica devia ter sido tomada em relação à população que reside nas margens dos rios Púnguè e Búzi, pois, os gestores das bacias hidrográficas alertavam à possível subida dos caudais daqueles rios com base nas previsões meteorológicas, identificando até as aldeias que seriam afectadas. Aliás, desde 12 de Março que os alertas da DNGRH vinham pintados a vermelho.

 

De acordo com o seu levantamento, no dia 16 de Março (um dia depois do ciclone), em Espungabera (rio Búzi) registou-se uma precipitação de 221 mm e na cidade de Chimoio (rio Púnguè) de 233 mm, em 24 horas. No dia 18, em Dombe (rio Búzi), a precipitação foi de 102 mm, Goonda (rio Búzi) de 77 mm e Chimoio (rio Púnguè) de 50 mm.

 

Por sua vez, no Zimbabwe, em 72 horas, registou-se uma precipitação de 600 mm que afectou as duas bacias, tendo inundado, na parte baixa destas, uma área de 1000 km2. Grande parte dos 603 óbitos declarados, na sequência do Ciclone IDAI, registou-se nas cheias do Búzi e do Púnguè. (Abílio Maolela)

O Conselho Coordenador de Gestão de Calamidades (CCGC), liderado pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, activou, esta quarta-feira (24), o alerta vermelho institucional para a zona norte do país, devido à tempestade tropical “Kenneth” que irá afectar aquela região do país, com maior impacto para o norte da província de Cabo Delgado.

 

De acordo com a alínea c) do número 1, do artigo 16, da Lei n.º 15/2014, de 20 de Junho, que estabelece o regime jurídico da gestão das calamidades, “o alerta vermelho é activado quando os danos humanos e materiais estão a ocorrer em proporções tais que se poderão transformar em calamidade”.

 

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), a tempestade tropical severa atingiu o estágio de ciclone tropical de categoria 3, com projecções de evoluir para ciclone tropical intenso, categoria 4, nesta quinta-feira (dia 25 de Abril de 2019). As chuvas estarão acima de 100 mm/24h e os ventos fortes na ordem de 120 a 140 km/h, com rajadas até 160 km/h. Prevê-se que 692.481 pessoas sejam afectadas pela situação.

 

O ciclone terá como porta de entrada entre os distritos de Mocímboa da Praia e Macomia, mas a chuva intensa também irá cair nos distritos de Nacala, Memba, Erati, Nacarrôa, Muecate, Namapa, Ilha de Moçambique, Mussoril e Monapo, na província de Nampula; os distritos de Montepuez, Meluco, Mecufi, Chiure, Balama e Namuno, em Cabo Delgado; e os distritos de Mecula, Marrupa e Nipepe, no Niassa, com chuvas fortes (acima de 75 mm/24h) e ventos moderados a fortes até 70 km/h.

 

Tendo em conta a dimensão do evento, que se aproxima ao Ciclone IDAI (categoria 4), é possível que se decrete mais uma emergência nacional. De acordo com a alínea b) do artigo 17, “a emergência é nacional quando atinge, ao mesmo tempo, mais de uma província”, que é o caso do “Kenneth”, que irá afectar as três províncias do norte do país.

 

Assim, o artigo 18, no seu número 1, preconiza que “em caso de iminência ou de ocorrência de calamidades, o Conselho de Ministros pode estabelecer as seguintes medidas de carácter excepcional”. Entre algumas dessas medidas, destaca-se a limitação da circulação ou permanência de pessoas ou veículos de qualquer natureza em horas e locais determinados, ou condicioná-las a certos requisitos, conforme a alínea a) do mesmo número.

 

Por outro lado, o artigo 39, que aborda questões de evacuação compulsiva das zonas de risco alto, diz no seu número 2 que “em situação de perigo iminente, a evacuação compulsiva temporária de pessoas e bens pode ser determinada pelo Governador da província, Administrador de distrito ou presidente do Conselho Municipal competente em razão do território”.

 

Como o “Kenneth” é considerado de grande magnitude, espera-se que as autoridades possam fazer a evacuação das populações residentes nas zonas de risco, algo que não aconteceu durante a passagem do Ciclone IDAI pela zona centro. (Abílio Maolela)

A Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, está, desde esta quarta-feira (24), na Assembleia da República (AR), a apresentar o seu informe anual sobre a situação geral da legalidade no país. No primeiro dos dois dias de interação com os deputados, a sessão foi marcada pelas perguntas das três bancadas parlamentares que compõem o órgão (claro, depois da apresentação do relatório de 71 páginas), nomeadamente a Frelimo, Renamo e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), as quais serão respondidas nesta quinta-feira (25).

 

Da bateria de questões colocadas a Beatriz Buchili sobressaem as formuladas pelas bancadas da Renamo e do MDM. Aliás, mais do que questionar, os deputados destas duas bancadas que intervieram ao longo do debate foram unânimes em recomendar aos seus pares uma apreciação negativa da informação anual de Beatriz Buchili, precisamente por, no seu entender, estar longe de esclarecer os casos que apoquentam o grande público.

 

António Muchanga pede esclarecimento dos casos de maior relevo

 

O pontapé de saída foi do deputado da Renamo, António Muchanga, para quem a PGR, sempre que é questionada sobre o esclarecimento dos casos de maior relevo na sociedade moçambicana, responde com “conversa fiada”. Conhecido pelo seu verbo afiado, Muchanga começou por pedir que Beatriz Buchili prestasse esclarecimentos à volta dos casos dos assassinatos do Prof. Gilles Cistac, do antigo membro de Conselho do Estado, Jeremias Pondeca e do Jornalista Paulo Machava.

 

O deputado pediu, igualmente, detalhes a respeito do desaparecimento do cidadão português, Américo Sebastião, e do membro do Conselho de Estado, Francisco Lole, e os raptos e torturas do Professor Jaime Macuane e do jornalista Ericino de Salema. De seguida, António Muchanga perguntou se Beatriz Buchili pretendia mover qualquer “palha” em relação ao caso da aeronave presidencial (Bombardier Challenger 850) adquirida pelo Fundo dos Transportes e Comunicações, actualmente avariada, que custou aos cofres do Estado qualquer coisa como 9.2 milhões de USD, quando o preço real, de acordo com suas alegações, é de 7 milhões de USD.

 

Em relação ao caso das chamadas “dívidas ocultas”, cujo processo está em fase de instrução contraditória, desde o último dia 25 de Março, Muchanga perguntou a PGR, sem citar nomes, se já assistira, na vida, a um filme com bandidos mas onde o seu chefe não aparece. E pediu que a guardiã da legalidade apresentasse o “chefe dos bandidos” no caso dos empréstimos contratados no segundo e último mandato de Armando Guebuza, a favor das empresas Ematum, Proindicus e a Mozambique Asset Managment.

 

Não parando por aqui, o deputado exigiu explicações sobre o tratamento diferenciado para os detidos e arguidos do caso. Perguntou, por exemplo, a razão de, até hoje, o antigo Conselheiro Político de Armando Guebuza, Renato Matusse, continuar em liberdade, quando a acusação atesta a sua “perigosidade”.

 

No que respeita ao deputado da bancada parlamentar da Frelimo, Manuel Chang, ora preso na vizinha África do Sul, pediu que a PGR explicasse ao plenário da AR a engenharia legal usada para a aplicação da sua prisão preventiva, quando este goza de imunidade, nos termos da Constituição de República (CR).

 

Exigiu uma explicação sobre os esforços que a instituição que comanda tem vindo a empreender com vista a trazer o deputado da Frelimo a Moçambique. Sobre o “chefe dos bandidos”, Muchanga que o deviam o prender o mais rápido possível, sob pena de, futuramente, correrem atrás do prejuízo, quando a justiça dos Estados Unidos de América, a mesma que mandou deter Chang na África do Sul, o prender.

 

A transferência do juiz de instrução criminal do caso das “dívidas ocultas” para secção laboral no Tribunal Judicial da Província de Maputo foi outro tema abordado por aquele deputado. Muchanga pediu que Buchili explicasse aos moçambicanos o tipo relação existente entre a Procuradoria-Geral da República e o Conselho Superior de Magistratura Judicial.

 

Silvério Ronguane questiona inércia das autoridades

 

Silvério Ronguane foi quem, na sessão havida esta quarta-feira, fez intervenção de fundo em nome do MDM. Ronguane disse não perceber, até agora, por que outros suspeitos de pertencerem da “grande farra” de abuso de cargos, branqueamento de capitais, associação criminosa e outros tipos de crimes, “ainda passearem impunes nas nossas ruas, rindo-se da justiça e das nossas instituições”. Pediu uma explicação a esse respeito do assunto. Exigiu também que Beatriz Buchili explicasse, com rigor, o processo do “Nosso Banco”, ora liquidado, maioritariamente participado pelo Instituto Nacional de Segurança Social. Outra inquietação apresentada por Silvério Ronguane tem a ver com o largo extravasamento dos prazos de prisão preventiva. Exigiu que Beatriz Buchili desse explicações exaustivas sobre o assunto.

 

Francisco Mucanheia elogia trabalho da PGR

 

Coube ao deputado e Presidente da Comissão de Agricultura, Economia e Ambiente, Francisco Mucanheia, em nome da bancada da Frelimo, lançar o debate em torno do informe anual da Procuradora-Geral da República. Mucanheia passou boa parte da sua longa intervenção desdobrando-se em elogios ao trabalho que vem sendo desenvolvido por Beatriz Buchili e sua equipa. Foi no combate à corrupção que os elogios subiram de tom ao afirmar que Buchili tem conduzido de “forma profissional” o dossier das “dívidas ocultas”, que lesaram o Estado em 2.2 mil milhões de USD.

 

Ele elgiou a “forma profissional como (a PGR) tem conduzido as investigações em torno das referidas dívidas não declaradas que lesaram ao Estado em avultados montantes”. Muchanheia afirmou ainda que tem sido “graças a forma metódica e serena como a nossa PGR tem conduzido as investigações” que tem-se conseguido desvendar os contornos da mega fraude, realidade que contribui para que os moçambicanos, não obstante as limitantes de vária ordem, sintam que a justiça, de facto, funciona no país”. (Ilódio Bata)

A firma de construção civil Nadhari/Opway, propriedade da família do empresário Daniel Lucas, diz que não tem nada a ver com o caso de corrupção que envolve a antiga Ministra do Trabalho, Helena Taipo, e os fundos do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). Ontem, a justiça deteve o gestor de uma empresa de nome Arcus Consultores, Arnaldo Simango (também director da APIE em Maputo). Na informação até agora disponível sobre o processo (proveniente de fontes do Ministério Público), a Nadhari/Opway é indiciada de ter pago comissões a Helena Taipo, usando para isso a Arcus Consultores, na pessoa de Arnaldo Simango.

 

Mas uma fonte da Nadhari disse à “Carta” que a empresa não tem nada a ver com pagamentos de subornos. “Nunca trabalhamos com a Arcus Consultores. E, no caso das nossas obras, quem escolhe o fiscal é o cliente”, acrescentou a fonte, que pediu anonimato. A Nadhari, recorde-se, tem presentemente um litígio com o INSS, decorrente da construção de um imponente edifício na zona do Clube Desportivo de Maputo, na baixa da cidade. O litígio, centrado no valor de um prédio edificado na base da fórmula “chave na mão” mas cujo custo sofreu um agravamento depois que estoirou a crise em 2015, segue seus trâmites na justiça.

 

A fonte da Nadhari diz que a firma já foi ouvida pelo Ministério Público. “Respondemos a perguntas por escrito e cremos que ficou tudo esclarecido”, disse, acrescentando que as questões colocadas pelo Ministério Público tinham a ver com a origem do negócio do edifício referido, nomeadamente de quem foi a iniciativa da sua construção. “Respondemos cabalmente a todas as perguntas e também demonstramos que o processo foi totalmente transparente, tanto mais que a obra só arrancou depois de ser visada pelo Tribunal Administrativo”, asseverou a fonte, lamentando as várias referências que são feitas ao nome da firma em conotação com o caso de corrupção envolvendo a chamada “dama de ferro”.

 

Apesar de ser praticamente o dono da Nadhari-Opway, Daniel Lucas não controla a sua gestão. E o gestor que muito recentemente dava a cara pela Nadhari, o Eng. Mário Macaringue é tido como tendo deixado a empresa. A Nadhari foi formada em 2008, sendo Daniel Lucas o seu principal acionista. Os restantes são seus filhos, na altura menores de idade. Entre Novembro de 2014 e Janeiro de 2015, a Nadhari adquiriu a Opway, uma construtora portuguesa que havia sido formada em 2008 depois da aquisição da SOPOL pela OPCA, também construtoras de obras públicas. A Opway foi vendida através de um leilão, com vários concorrentes. No dia 2 de Fevereiro de 2015, a Nadhari havia oferecido 5 milhões de Euros pela totalidade da construtora, que pertencera ao Grupo Espírito Santo (M.M.)