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segunda-feira, 15 abril 2019 06:53

O pesadelo do vampiro

Bateram à porta com violência. Foram três pancadas de rajada que pareciam o matraquear de uma AK-47 disparada para aviso. O homem assustou-se. Levantou ligeiramente a cabeça do travesseiro e perguntou-se a si mesmo, mas o que é isto!? Bateram outra vez, na mesma cadência. Com a mesma intensidade bruta. E agora percebeu que na verdade estava alguém lá fora. Olhou para o relógio, eram duas horas da madrugada e lembrou-se, uma pessoa que te procura à esta  hora é para te matar.

A cidade da Beira anda "full" de "marandzas" que os naturais não sabem de onde vêm. Na verdade, são nossas irmãs provenientes de Maputo, Xai-Xai, Tete, Quelimane, Nampula, Pemba, etecetera, que viajaram, nos últimos dias, à Beira para também oferecerem os seus serviços, sem contar com as zimbabweanas e as malawianas que já ofereciam esses trabalhos mesmo antes da calamidade.
 
sexta-feira, 12 abril 2019 09:00

Reflexão em torno do atual PÂNICO MORAL

"Pânico moral" é um conceito de sociologia cunhado por Stanley Cohen, em 1972 – [cf: Cohen, S. (2011). Folk devils and moral panics. Routledge.], para definir a reação de um grupo de pessoas baseada na falsa ou empolada perceção de que o comportamento de um determinado grupo, normalmente uma minoria ou uma subcultura, é perigoso e representa uma ameaça para a sociedade no seu todo. O termo tem sido amplamente adotado tanto pelos meios de comunicação de massa quanto no uso cotidiano para se referir à reação social exagerada causada pelas atividades destes determinados grupos e/ou indivíduos, invariavelmente vistos como grandes preocupações sociais e a reação da mídia amplia esse "pânico" que os cerca.

 

Existem, de acordo com o Cohen, quatro fases para a construção do pânico moral, nomeadamente:

 

  1. Alguém, alguma coisa ou um grupo são definidos como uma ameaça às normas sociais ou interesses da comunidade;
  2. A ameaça é então representada de forma simples e reconhecível pela mídia;
  3. O retrato deste símbolo desperta preocupação pública;
  4. Há uma resposta das autoridades e formuladores de políticas;
  5. O pânico moral sobre a questão resulta em mudanças sociais dentro da comunidade.

Mais ainda, Stanley Cohen mostrou que os órgãos de comunicação de massa eram a principal fonte de conhecimento do público sobre comportamentos desviantes e problemas sociais. Ele argumentou ainda que o pânico moral dá origem ao diabo público, através da etiquetagem das ações e dos indivíduos.

 

De acordo com Cohen, a comunicação social (e agora as redes socais também) desempenham uma ou todas três principais funções para a consolidação do pânico moral.

 

  1. Definição da agenda - selecionando eventos desviantes ou socialmente problemáticos considerados dignos de notícia, e depois, usando filtros mais refinados para selecionar quais eventos dignos de serem considerados como “pânico moral”.
  2. Transmissão das imagens – construindo o argumento, com recurso a retórica dos pânicos morais.
  3. Quebrar o silêncio e liderando a “indignação coletiva”, digo, seletiva.

Para terminar, importa falar das características do pânico moral. São cinco, nomeadamente:

 

  1. Preocupação - Deve haver a crença de que o comportamento do grupo ou atividade considerada desviante é suscetível de ter um efeito negativo sobre a sociedade.
  2. Hostilidade - A hostilidade em relação ao grupo em questão aumenta e eles se tornam "diabos públicos". E forma-se uma clara divisão entre “nós” e “eles”.
  3. Consenso – Independentemente de ser nacional ou não, deve haver o consenso de que o grupo em questão representa uma ameaça real à sociedade. É importante nesta fase que os "empreendedores morais" sejam vocais e os "diabos públicos" pareçam fracos e desorganizados.
  4. Desproporcionalidade - a ação tomada é desproporcional à ameaça real representada pelo grupo acusado.
  5. Volatilidade - Os pânicos morais são altamente voláteis e tendem a desaparecer tão rapidamente quanto aparecem porque o interesse público diminui ou as notícias mudam para outra narrativa. E é neste ponto que nos leva ao segundo conceito: EPIFENÓMENO.

EPIFENÓMENO: fenômeno secundário que ocorre ao lado ou paralelamente a um fenômeno primário, ou simplesmente, subproduto de um fenómeno.

 

Às vezes, e para o nosso caso (moçambicano), os pânicos morais manifestam-se em forma de epifenómenos, caracterizados por “ondas de indignação” coletiva ou mesmo seletiva, que de forma sucessiva se substituem, à medida que elas vão caindo no esquecimento.

 

Enquanto grande parte do debate público e de movimentos de advocacia ancorar-se à volta de “pânicos morais” e epifenómenos, dificilmente estes chegarão a lado algum, senão a letargia e resignação. O pânico moral anda de mãos dadas com a etiquetagem e o medo.

 

O advento das redes sociais propicia a difusão do pânico, do medo, de rumores e de notícias falsas, levando a que as pessoas tomem atitudes congruentes a essas mesmas notícias em tempo real, mesmo que posteriormente tais notícias ou pânicos se revelem falsas.

 

A característica mais perigosa com a qual o mundo cibernético deve agora lidar chama-se decadência da verdade, caracterizada pela supremacia da opinião sobre os factos: o cinismo, o anti-intelectualismo bem como a emergência de subculturas e contraculturas; crescente divergência sobre factos e interpretações analíticas sobre os mesmos, indefinição da linha entre opinião e facto, abundância em termos de quantidade e disponibilidade e consequente maior influência da opinião e experiência pessoal sobre facto e o declínio da confiança em fontes e factos anteriormente respeitados.

 

Isto tudo contribui para que os cidadãos não sejam capazes de pensar fora do âmbito de emergência em que se encontram, contribuindo para uma esfera pública em permanente ebulição.

 

Referências

Arbesman, S. (2012). Truth decay: the half-life of facts. New Scientist215(2883), 36-39.

Cohen, S. (2011). Folk devils and moral panics. Routledge

Rich, M. D. (2018). Truth decay: An initial exploration of the diminishing role of facts and analysis in American public life. Rand Corporation.

quinta-feira, 11 abril 2019 09:03

Parece que querem criar uma República Oculta

Pessoal, vamos lá ficar um pouco mais atentos. Muito provavelmente, estes senhores querem criar uma República Oculta na cadeia. Olha lá! Não é normal isso! É que o tipo de indivíduos que foram constituídos arguidos (presos e livres) ou que foram simplesmente ouvidos como declarantes no caso das dívidas ocultas são, do ponto de vista de currículo, suficientes para se criar uma República com todos os órgãos que compõem o Estado. É um autêntico governo. 


Aliás, o relatório da Kroll é um governo codificado e escondido numa gaveta da Procuradoria. Tem tudo lá, desde presidentes, ministros, secretárias, assessores políticos, governadores, embaixadores, Pê-Cê-As, agentes da secreta, lobistas e empresários. Com a entrada do antigo Governador do Banco Central na equipa já estão criadas as condições para se ter um Estado Oculto que pode funcionar directamente do xilindró. 


Eu já estou a começar a ter medo disso! Provavelmente, prender todos os gatunos ao mesmo tempo não seja uma boa ideia. Os gajos podem criar uma República escondida aqui dentro do país. Que tal fazermos uma escala de prisão?! Do tipo, os mais velhos serem presos primeiro, sei lá!!! Ou os presidentes primeiro; depois, os ministros; depois, os embaixadores; depois, os governadores; e assim sucessivamente até chegarmos à secretária! Sei lá né, pessoal, mas todos lá dentro de uma só vez pode não ser bom. Talvez separarmos os gajos: uns nas Américas, outros em Madagascar ou na Antártida. 


Podemos estar aqui a pensar que é tudo brincadeira e nos surpreendermos amanhã. Podemos acordar um dia com uma República a funcionar da cadeia, com representações diplomáticas e direito à assento nas Nações Unidas. Ou seja, de repente, as nossas cadeias podem virar um País autónomo. De resto, pelos montantes envolvidos, não será um País qualquer! Será um País com capacidade até de conceder empréstimos à Moçambique para combater a corrupção.

- Co'licença!

Algumas pessoas dizem que se Manuel Chang regressar a Moçambique, vai ter uma vida difícil. Dizem que a imagem, a reputação e o bom-nome do Chang caíram na sarjeta e, por isso, já não tem cara para aparecer em público. E essas pessoas acreditam que isso pode ser suficiente para ele morrer de depressão. Como se ele estivesse preocupado com imagens, reputações e bons-nomes! 


Outras dizem que aqui o Chang vai confiar mais nos seus inimigos do que nos seus amigos. Dizem eles que os seus amigos, com os quais engendrou a fraude, vão encomendar a sua morte para que este não abra a boca. Por isso, acreditam eles, Chang estará em maus lençóis. Mentira! 


Alguém se lembra da chegada triunfal de Anibalzinho vindo do Canadá? Então, a de Chang será muito mais triunfal do que aquela. Aquele ministro de bandeira-na-bunda terá muito trabalho nesse dia para ornamentar a pista com tapete vermelho e organizar os grupos de marrabenta, nyau, xigubo, nhambaro, tufo, etecetera. O país vai parar. A bandeira estará à uma haste acima do mastro. 


Nada vai acontecer! Chang vai beber vinho verde com atuns e lagostas com os seus comparsas. Vai curtir malta Bilene, Bazaruto, Tofo, Quirimbas, Mamoli, Medjumbe, Ibo e quejandos. Os bradas dele vão festejar maningue. Alguém acha mesmo que Chang escolheu ser extraditado para Moçambique para ter uma "vida de cão"? Alguém acha mesmo que essas correrias de resgate são para prendê-lo? 


Com Chang não será diferente! Vai ser julgado, assim como nos filmes de comédia, e, para não fugir a moda, vai ter uma prisão convertida em multa por um montante que nem chega para comprar uma latinha de atum "bom amigo" no contentor do maliano. Não será diferente! Se até aquela senhora do fundo agrário está aqui numa wella dando palestras sobre gestão financeira, por quê seria diferente agora? 


Uma das sortes do Chang é ser tipo chinês. É fácil encontrar um gajo parecido com ele e ensaiar uma morte e um funeral, como nos filmes, e no dia seguinte ouvirmos que foi nomeado, para um ministério, um assessor parecido com Chang (com barba, bigode e meize).


Isto é um paraíso... experimenta roubar para ver! Mas, rouba bem. 

- Co'licença!

Na semana passada, alguém recuperou uma intervenção do Governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela, e pô-la a circular como se fosse uma espécie de “Ted Talk” seminal sobre os efeitos nefastos da corrupção burocrática no investimento estrangeiro. Mas era uma ladainha corriqueira sobre o assunto. Funcionários obrigam os investidores a olearem a máquina para que seus processos andem. Os investidores são uns santos sempre com boas intenções, merecedores de todo o tipo de hossanas, incluindo tapetes vermelhos fiscais. Zandamela olha para a corrupção burocrática sem dissecar suas causas sistémicas. Não diz nada de novo. Seu discurso foi, no entanto, partilhado de todos os lados, como algo genial. Na verdade, a corrupção burocrática aumentou tremendamente em Moçambique. E esta é uma percepção isolada com base nas minhas observações: a crise do calote da dívida fez aumentar a corrupção; os esquemas e as boladas tornaram-se para muitos a principal fonte de rendimento, mecanismo funcional para a paz social.