Director: Marcelo Mosse

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Carta de Opinião

segunda-feira, 02 março 2020 08:53

Eutanásia nas estradas moçambicanas

Em Moçambique, uma estrada em péssimas condições elimina a vida de um  veículo e  salvaguarda a dos seus ocupantes. Por sua vez,  uma em boas condições e por conta de acidentes, elimina a vida de ambos, a do veículo e a dos ocupantes.  Neste contexto, não sei se faz algum sentido (atenção o próximo Orçamento de Estado) pedir que o Governo melhore as condições de transitabilidade das estradas. Alinhar nessa diapasão não será o mesmo que o Governo defender a eutanásia (morte assistida) ou, no mínimo, que esteja em curso, um  projecto oculto e  selectivo de eliminação de certas franjas da sociedade.

 

O intróito vem a propósito da elevada  sinistralidade nas estradas moçambicanas, em particular na N4, aqui citada apenas por razões de proximidade. Igualmente, o intróito vem a reboque do recente debate parlamentar na antiga metrópole, Portugal, referente a despenalização ou não  da eutanásia.

 

Tenho dito, em privado, que graças a  manifesta incapacidade do Governo em melhorar a qualidade das estradas que o nível de sinistralidade não é maior e a população moçambicana não é inferior aos  actuais  28 milhões. A tal  incapacidade ainda concorre para desestimular a compra de automóvel, contribuindo assim para um ambiente são quanto a poluição atmosférica. De per si, isto já seria o suficiente - barata e ao alcance dos moçambicanos – para se apostar como uma fórmula/estratégia rumo ao desenvolvimento sustentável. As Nações Unidas agradeceriam imenso por este contributo imensurável do país ao mundo.

 

Mas, infelizmente,  fora melhor denominação, esse não é o entendimento. Do debate nacional sobre a sinistralidade, emergem várias soluções que recaem sobre a (i) fiscalização, a (ii) infra-estrutura e o (iii) comportamento humano. A primeira, porque à troco de alguma cifra o regulador deixa passar  o infractor (automobilista). A segunda, porque a melhoria não previra um separador físico entre os dois sentidos. A terceira, porque o automobilista se fez à estrada embriagado e o peão  sem respeitar as regras ou os pontos de travessia.

 

Dito isto, pergunto: haverá algum interesse para que assim continue? No mínimo e pelo resultado (elevada sinistralidade), a contínua insistência governamental na melhoria das estradas nacionais alimentam severas desconfianças em relação aos reais interesses do Governo. Em tese, e perante os factos, o  Governo aposta os parcos recursos dos contribuintes na  criação de  condições para o luto das famílias dos próprios contribuintes.  Um assunto para perguntar: ajudar o outro a  morrer, não será  um crime?

 

Pelos vistos não é crime. E aqui entra o debate sobre a eutanásia em Portugal. Dele, retive o essencial -  através da  seguinte frase:  “O suicídio não é um crime em nenhum país. Parece-me um pouco ridículo que seja crime ajudar alguém a fazer uma coisa que não é crime.” (Philip Haig Nitschke, activista pela morte assistida ao jornal português expresso do dia 20 de Fevereiro corrente). Neste sentido, e extrapolando para a realidade moçambicana,  quem se faz à estrada ao volante e embriagado ou que não cumpra as regras de travessia é um suicida. E o suicídio em Moçambique também não é crime, tanto para quem o cometa e por arrasto, para quem o ajude nessa empreitada trágica.

 

Todavia, e perante a insistência governamental em aprovar e executar anualmente um Orçamento de Estado que aposte e priorize a melhoria das estadas,  não me admira que um dia, os defensores dos direitos humanos processem o Estado por reiterada  tentativa de genocídio.

sexta-feira, 28 fevereiro 2020 09:03

Ecos do 14 de Fevereiro: a ameaça do florista

O 14 de Fevereiro, o dia dos namorados,  já passou, mas as suas incidências ainda se fazem sentir por estas bandas da capital da Pérola do Índico. Desta vez  por conta de um florista que ameaçara um  seu cliente assíduo da data em apreço e de outras ocasionais. A ameaça: executar uma acção extra-legal ou judicial contra o seu cliente, a quem acusa de ser um  devasso social.

 

O histórico: no dia 14, desloquei-me ao estabelecimento do  florista para os devidos efeitos. No local deparei-me com  um alvoroço total. Pela primeira vez, e diante do citado cliente, o solícito florista se recusava a vendê-lo  as habituais flores bem como a respectiva entrega às destinatárias.  O alvoroço recheou toda a hora do almoço, período das rosadas visitas do cliente assíduo . A desordem foi tanta a ponto do florista fechar o estabelecimento.

 

Em pouco tempo da minha estadia no local deu para perceber a querela: o florista queria dar um “BASTA” ao modo de vida de “Don Juan” do seu cliente. Isto depois de quase duas décadas   de préstimos inestimáveis e a ponto de se sentir cúmplice e abusivamente usado pelo histórico cliente.  Este, todos estes anos, recorrera aos serviços do florista para presentear a sua  “Rosa”  (o jeito carinhoso que ele trata a mulher) e a toda prole  da sua concubinagem, que até não lhe caía mal na imagem de bem sucedido. Aliás, e ao que parece, um direito constitucional que o florista não se importava em auxiliar o seu cliente na sua materialização. Isto  foi até ao passado dia 14 de Fevereiro. O dia em que a nova concubina a ser presenteada -  passando  a pertencer ao harém do seu cliente - era a  filha caçula do florista. Não havia nenhuma dúvida, pois o endereço do cartão das flores  era o da casa do florista. 

 

No auge do alvoroço, fui um dos convidados - pelo florista - a ver as provas que  sustentavam a acusação. Até então nunca vira um arquivo metodicamente organizado. Uma sistematização comparável só a da Alemanha dos tempos do III Reich. Cada concubina tinha a sua ficha, contendo  os dados pessoais e outro tipo de informações adicionais. Em cada ficha os anexos de fotos, vídeos,  gravações áudio dos pedidos das flores e a de indicação do nome e endereço das destinatárias,  as cópias dos cartões que acompanhavam as flores e por ai em diante.

 

O passado securitário do florista foi uma vantagem na organização meticulosa do arquivo.  E desta vez, um outro tipo de vantagem do seu passado securitário, amiúde, e a par da abertura de um processo judicial,  era por ele avocado.  À margem do bate-boca, e a propósito da querela “florista vs assíduo cliente”,  o  recente debate em torno da penalização da invasão a privacidade quase que resvalava em pancadaria entre os restantes clientes.

 

Infelizmente e por razões de compromissos inadiáveis, tive que deixar  o estabelecimento num momento de impasse quanto ao desfecho da querela, sobretudo,  à luz do debate sobre a penalização  ou não da invasão de privacidade. Haviam dois grupos. Um que defendia o florista, reforçando o argumento (a coesão e paz social)  em torno da  acusação: o cliente assíduo  é de facto (e gravata) um devasso social. E o outro grupo que defendia o cliente, acusando o florista de devassa da vida privada. Quid Juris?

 

Enquanto deixava o estabelecimento e para relaxar a briga  liguei o auricular e na rádio tocava uma música brasileira. Era a música de  Jorge Aragão,  mas cantada por Emílio Santiago. Estava no fim e dizia: “Malandro! /Só peço favor/De que tenhas cuidado/As coisas não andam/Tão bem pro teu lado/Assim você mata/A Rosinha de dor...”

 

quarta-feira, 26 fevereiro 2020 08:54

Morrer escondido no whisky

Estou a ouvir Rádio desde às quatro, deitado sozinho na cama com saudades da minha mulher que zarpou há cinco anos, farta da minha conduta, e eu não vejo o mínimo sinal de que um dia o caminho dos meus pés voltará a ser como era dantes, cheio de flores. Moro no décimo sexto andar de um prédio na 24 de Julho, e até hoje não sei como é que ainda não me suicidei, pois tenho tudo facilitado pelas alturas. Não preciso de recorrer à corda nem ao veneno, daqui posso saltar sem recurso ao pára-quedas.

 

O locutor de serviço é Agostinho Luís, meu ídolo. Um homem que tem toda a alma na voz devastadora, capaz de provocar terramotos em todos os sentidos. Com este actor a falar eu não tinha outra saída que não fosse entregar-me, por inteiro, ao seu chamamento. Agostinho é o próprio sino, cujo som produzido pela batida do tremendo badalo, vai reboar pelos quatro cantos do globo que está dentro de cada um de nós.

 

É madrugada em Maputo, dizia ele na sua voz de ouro, para depois tocar a música “Chove chuva, chove sem parar”, do brasileiro Jorge Ben, e eu senti fortemente o escorrer do coração, pensando na minha mulher, na minha linda mulher perdida para outros braços. Para outro coração, melhor que o meu.

 

Saltei da cama quando Agostinho voltou a falar, e disse assim, “chove em Maputo”. Mesmo assim, este locutor de elevada classe, inigualável, não podia preencher o vazio deixado pela minha Mbuli, muito provavelmente aconchegada no peito de outro homem nesta madrugada fria, depois de uma noite inteira cheia de amor, e eu sem amor nenhum. Sentindo-me um nenhumano. Um verme.

 

Fui à varanda do meu quarto. Olhei lá fora e chovia em cascata. Parecia que Deus tinha aberto todas as torneiras do Céu, e se eu daqui me atiro, sem páraquedas, não tenho a menor dúvida de que o meu corpo irá esparramar-se lá em baixo, de vez. Mas eu não vou fazer isso, para além de que venero a chuva, ela não merece misturar-se com o meu sangue envenenado pelo álcool que não páro de insuflar neste corpo putrefacto, desde que Mbuli foi embora. Aliás, ela foi exactamente porque eu sou uma pipa.

 

Volto à cama e sento-me na borda ouvindo o Agostinho Luís. Olho para a garrafa de whisky na cabeceira e não resisto. Acendo um cigarro e impregno todo o espaço que me acolhe com fumo. Entorno a bebida no copo vazado no último gole da noite, e partir daqui, o que me espera é a pângeda. A continuação da pândega. E hoje também não vou trabalhar, que se lixe! Quem vai mudar o mundo não sou eu!

 

Queimo as goelas com Scotch, e os pulmões com fumo, sob a doce sombra do Agostinho Luís que, em sintonia telepática comigo, põe a girar a universal  Eu bebo sim/ Eu tou vivendo/ Tem gente que não bebe e tá morrendo/ . É um samba de Elza Soares, de 1973, celebrizado na voz de Elizeth Cardoso.  Mas toda essa paródia não vai impedir a minha derrocada.

 

Mbuli! Ela não me sai dos pensamentos, apesar de eu saber que não sou digno dela. E o que mais me dói nisto tudo, é que, enquanto caminho pelo desfiladeiro ígreme em direcção ao poço escuro com espigas de aço à minha espera, ela brilha nos patamares da felicidade. Com outro homem. Melhor do que eu. Isso é que me doi!

sexta-feira, 21 fevereiro 2020 07:27

Soy loco por ti América

A reboque do dia 14 de Fevereiro ,  o dia dos namorados,  o mês de  Fevereiro é o dito de amor. Em complemento da onda amorística , está o enquadramento do título deste texto (sou louco por ti América, na língua portuguesa) que foi  emprestado com a suposta permissão dos compositores/autores brasileiros  da música com o mesmo título e feita em homenagem à Che Guevara. Desta não é para ele a homenagem, mas sim para a  América (Estados Unidas da América, EUA),  que um amigo, seu eterno apaixonado,  ofereceu-a  um buquê de rosas.  Encontrei o tal amigo,  no passado dia 14 de Fevereiro - todo de vermelho, incluindo as rosas - à porta da embaixada americana aos gritos: “Soy Loco por ti América!”

 

Esta cena fez-me algum ciúme. A América  também é minha e aposto que igualmente seja tua.   Eu tive e tenho  um caso  - na verdade casos -  com a  imortal e controversa América. Uma nação indispensável, segundo as palavras de Madeleine Albright, ex- secretária de Estado dos EUA nos tempos do ex-presidente Bill Clinton. No texto “O dia em que me encontrei com Ronad Reagan”  é evidente o meu encanto por esta mulher poderosa e talvez por isso: amada e odiada.  

 

Para ilustrar a grandeza de mulher que é a América, nada melhor  que recorrer ao conceituado jornalista português, Miguel Sousa Tavares (MST),  que,  por alturas do sismo que abalara o Haiti, em artigo no Jornal  português Expresso de 23 de Janeiro de 2010, escreve:

 

” …nos grandes momentos da história da humanidade, de há quase cem anos para cá, os Estados Unidos são, de facto, a nação indispensável. Algumas vezes para o mal, outras, como no Haiti, para o bem (…). Em 39-45, como antes, em 14-18, e depois, em 1991, na primeira Guerra do Golfo, a Europa e o Ocidente ficaram a dever a vida ao esforço de guerra da grande nação americana.” No texto e mais adiante MST prossegue: “ (Os EUA) são capazes de produzir um George W. Bush, que impõe ao país uma guerra (segunda Guerra do Iraque) sem sentido, apenas destinada a servir a sua vaidade de se proclamar "um Presidente de guerra", mas também “… são a nação que é capaz de, num instante, mobilizar os meios e a determinação para acorrer a uma tragédia com a dimensão do Haiti e fazê-lo de forma eficaz, profissional e humana”.

 

Por cá – a Pérola do índico – a generosidade do amor americano, a título de exemplo, ficou patente no  projecto “USA for África”,  na primeira metade dos anos 80,  cuja música,  com o mesmo título, reunindo, na altura, o melhor que  existia na nata musical americana. No pacote do projecto (do povo americano para o povo moçambicano) veio o leite em pó, o milho/farinha amarela, roupas das calamidades  e as carrinhas  azuis que são marcas passadas e  indeléveis da presença - em terras do índico - dessa namoradinha do mundo  que é a América. Outras passagens e mais recentes foram as registadas no quadro do  processo de implementação do Acordo Geral de PAZ (1992) sob a égide da  ONUMOZ,  Cheias do ano 2000 e mais recentemente (2019) aquando dos ciclones IDAI e Keneth e ainda a propósito das  “dívidas ocultas”.   

 

Nesta e longa relação, a América ainda foi e é das nações que mais apoia os sectores  privado e da saúde, neste destacando os esforços do combate ao HIV-SIDA.   E pelos tempos que correm,  a América é uma das esperanças para o futuro do país por conta de avultados investimentos das  suas empresas na área  de hidrocarbonetos. Registar que nos últimos tempos,  a América está cada vez mais próxima e mais preocupada com a sua beleza. Ademais a concorrência está à vista, em particular a presença de uma velha e milenar asiática, disfarçada de uma gostosa  “quatorzinha” - adoentada por estes dias - que todo o mundo a quer “paquerar”.  

 

Contudo,  e desde a primeira troca de olhares, nem sempre a relação foi um mar de rosas. A América, em algum momento da relação, relegou a Pérola do Índico para a categoria de indesejável e a Pérola, bem machão,  já considerou a   América uma “persona non grata” (pessoa não agradável). Os motivos?  não interessa lembrar de momento. Quiçá num outro texto e com um título  adequado. Entretanto,  quem quiser saber pode ligar  para a América, mas antes aconselho ao interessado a  “tchekar” o respectivo cadastro pessoal.

 

E por falar em cadastro, lembro-me das marchas de 2003 - pelo mundo fora e por cá - contra a invasão americana ao Iraque. Foi interessante reparar  que os marchantes aliviavam a sede com uma coca-cola e no mínimo cada um trajava pelo menos um dos seguintes itens: Jeans, óculos de sol Ray-Ban, fones da Bose,  sapatilhas e boné da Nike. Os mais abastados até que  se fizeram à concentração em meios circulantes de marca americana.

 

E é  também por estas e outras razões que a América – amada  e odiada - é a tal nação indispensável que no passado dia 14 de Fevereiro, o dia dos namorados,  o meu amigo presenteou-a com um buquê de rosas e defronte à embaixada americana, a plenos pulmões, sucessivamente, gritava: “Soy Loco por ti América!”

quinta-feira, 20 fevereiro 2020 07:33

António Frangoulis no Djambo*

Numa altura em que as pessoas sugeriam, por zombaria, um megafone para António Frangoulis amplificar a voz, definhada por uma infecção que parecia determinada a apagar  de vez a alma do criminalista, a qual residia exactamente na laringe, eis que ele decide enfrentar a faca do otorrinolaringologista. E o resultado da intervenção ciríurgica é esse:  a vocalização das palavras regressou com alguma limpidez.

O homem estava no auge, desdenhando os detractores do seu palmarés, e de peito aberto, predispôs-se para todas as batalhas, sem disfarce, enfrentando os gurus da Frelimo que tremiam perante um camarada que os desafiava. Frangoulis sabia que a eles não convinha ter um inimigo da sua magnitude, um indivíduo que se metamorfoseava em direcção ao livre arbítrio da sua consciência. Tinha certeza, absoluta, de que naquele tapete rolante onde todos giravam, corria riscos. Enormes. Mesmo assim, talvez com grande dose de arrogância, decidiu avançar como os gnus, cuja marcha pode ser interrompida para sempre na travessia do rio dos crocodilos.

 

Foi isso que Frangoulis, tornado personagem, um actor de topo, fez. Atirou-se ao rio traiçoeiro para nadar, em determinados momentos, de mariposa. Noutros momentos, de bruços, e nas etapas cruciais convocava todas as suas energias para nadar de livre. Aliás,  pode ter sido esta ousadia, este desprezo pelos algozes, o fundamento para o túnel escuro que o vai levar ao pricipício, até prova em contrário, sabido que estamos perante alguém que tem demonstrado uma grande capacidade de refocilar. Quer dizer,  você  enterra um gato vivo a vários metros de profundidade, e ele refocila. Ou seja, volta à superfície. E António Frangoulis parece ser um gato.

 

Encontrei-o no Djambo, sentado numa das mesas da esplanada, com os dois braços suportando o queixo por via das mãos coladas uma sobre a outra. Reparei que dançava com as pernas, provavelmente para espevitar os pensamentos. Olhava aparentemente para o vácuo, quando no fundo podia estar a vigiar todos os movimentos do lugar, sabido que uma pessoa do porte de António Frangoulis, está proibida de se distraiar. Qualquer movimento para ele é suspeito. E a mão direita está em permanente comunicação silenciosa com o revólver dessimulado.

 

Há uma azáfama na baixa da cidade de Maputo, os vendedores ambulantes misturam os apelos ao negócio, com as buzinadelas dos automóveis que não cessam de nos fustigar os tímpanos. Os camiões monstruosos invadem a “25 de Setembro”, como se fosse normal andarem na cidade, descarregando os compressores como sempre o fazem na auto-estrada, brrrrôôôôôôoooooo! O Djambo torna-se inóspito, desvalorizando o grande simbolismo que ele carrega, na longa história de uma cidade cosmopolita, que vai caminhando irreversivelmente em direcção ao caos.

 

Frangoulis faz parte deste drama, nunca fugirá dele, e é mentira que não tenha medo. Quem não tem medo não anda com um revólver furtivo por debaixo da axila. Mas eu estou curioso, o que é que este homem está a fazer aqui? Beber whisky pode ser um pretexto. E ele bebe em doses cavalares, sem ninguém por perto para conversar. Até porque eu o conheço, podia estar ali com ele, porém escolhi recolher ao interior do bar, de onde podia controlar em pleno os movimentos do “bufo” mais mediático de Moçambique. Temido pelos bandidos e por outros “bufos”.

 

Desde que eu cheguei, já bebeu quatro duplos – pode ter vertido goela abaixo outros antes -  e ainda não notei qualquer alteração no seu comportamento. Tirou as mãos por debaixo do queixo. Tem agora os braços cruzados por cima da mesa, onde o copo de whisky funciona como uma lamparina para iluminar as ideias. Ele continua a dançar com as pernas, e parece alheio a vozearia dos bebedores entusiasmados que enchem o Djambo. Engajados na conversa.

 

Quando a empregada de mesa movia-se para depositar o sexto duplo na mesa do “meu” personagem, ouviu-se uma explosão que parecia de uma arma. Muitos atiraram-se para debaixo das mesas. Outros, terrivelmente assustados, perderam o descernimento e correram para a estrada onde podiam ser atropelados, outros ainda foram se apertar na casa de banho. Mas António Frangoulis manteve-se tranquilo no seu lugar, brincando com o copo vazio. O estoiro era de um pneu.

  •  Texto de imaginação
terça-feira, 18 fevereiro 2020 08:50

Até quando vão durar?

Vezes sem conta, ao volante do meu carro ou então em caminhadas para execucação das minhas tarefas do dia-a-dia, encontro-me a observar minuciosamente para as rachas dos edifícios da nossa capital, Maputo. Pergunto-me até quando irão resisitir as estruturas dos nossos edificios, que ja não são recentes e para piorar, apresentam rachas, infiltrações, reabilitações que além de desordenadas e fora de hora, danificam as estruturas da maioria dos edifícos da cidade de Maputo. Será preciso que um desastre aconteça para que os de direito reajam a este fenómeno? Eu sou suspeito a falar, porque resido num prédio de 16 andares, cuja degradação assume cada vez mais cenarios preocuopantes, feliz ou infelizmente, o edificio onde vivo, esta melhor que alguns que vejo. Pensemos! Um edificio de 16 andares tem 32 flats e vivem aproximadamente 200 pessoas, se julgarmos que cada família seja composta por 5 pessoas. Quantas “vidas”, quantas crianças, quantos sonhos, que podem acabar em edificios que podem desabar a qualquer momento. E os impostos prediais pagos a direcção da cidade? Até hoje, nunca me deparei com algum técnico ou engenheiro que fosse avaliar o estado dos edifícios. Quererá isso dizer que o município não está preocupado com a condição e segurança de vida dos municípes? Eu espero, porque confio no seu bom trabalho, que Ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hidrícos, Osvaldo Machatine, tenha um plano para esta situação porque como se diz, “é melhor prevenir do que remediar”. E para que não me acusem e nem eu mesmo me sinta culpado por apresentar apenas problemas e não soluções, deixarei ficar algumas das minhas opiniões para possivel resolução ou minimização deste problema:

 

  • Muitos moradores, apesar da existência de um núcleo de comissão de moradores, não contribuem para a resolução de pequenos problemas do condominio, então sugeria eu que fosse imposta a obrigação de cada morador contribuir para a (reabilitação, substituição, reparação) de elementos cruciais ao edifício.
  • Embora pareça tarde, devido ao avançado estado de degradação do prédios, necessidade de os prédios terem contratos com seguradoras.