Decorrente do frenesim das eleições americanas, e porque disputadíssimas, a media internacional, e não só, tratou de concluir que a América estava profundamente dividida. E no caso, o estar dividido, dito como se fosse um assunto da mais alta gravidade. Confesso que até fiquei com dúvidas em relação a democracia como um bom modelo de governação, pois não cola que uma eleição com a maior participação de sempre e disputadas até ao período de compensação fosse dada como um problema de “saúde pública”. O contrário – que um dos concorrentes ganhasse com uma larga maioria – é que seria o saudável? Talvez sim, porque, supostamente, significasse que a América saísse mais unida.
Afinal, em democracia, e porque divide, os altos níveis competitivos entre concorrentes não é saudável e deve ser combatido. E eu convencido de que os resultados das eleições americanas estavam a demonstrar a vitalidade da sua democracia, e quiçá a da democracia pelo mundo fora. Puro engano. E ainda mais, sendo a América a democracia mais consolidada do mundo e com o actual inquilino da Casa Branca aos berros, chego a triste conclusão de que em democracia o equilíbrio não é salutar e que o melhor é que uma das partes ganhe e quanto possível de forma retumbante.
Neste contexto, diante do equilíbrio entre os candidatos e na sequência a ideia de que tal (uma América competitiva) não é saudável, pois divide, e de que a união só com uma maioria retumbante, dei por mim a pensar no processo eleitoral moçambicano que fora na mesma diapasão é mais maduro. Aliás, uma escassa vitória eleitoral entraria em choque com a constituição, particularmente com um dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano que é a consolidação da unidade nacional.
Em síntese, para fechar, o equilíbrio eleitoral não é bem-vindo (em Moçambique e pelos vistos nem na América) e que uma vitória retumbante é um imperativo nacional de união e tal decorre, na Pérola do Índico, de um comando constitucional. Neste aspecto, os Estado Unidos da América deviam colher a experiência moçambicana para que em próximas eleições não brinquem em serviço.
Samira Mussa cresceu em Quelimane, concretamente no bairro da Vila Pita, mas as suas origens encontram-se na cidade de Nampula, onde nasceu e perdeu logo cedo os pais vítimas de uma doença prolongada.
Linda, com um olhar sensual, discreto e muito fugida. Samira professava a religião islâmica, onde era aplaudida por todos como a futura "grande estudiosa do islão". As vestimentas da Samira eram típicas da religião e das mulheres nativas do mundo árabe que mesmo diante do feroz sol e calor da terra dos Bons Sinais ela estava toda coberta. Na escola era um exemplo a seguir. Embora com estas todas qualidades, Samira era apaixonada por Ramiro, um rapaz honesto e de uma família humilde, com tudo para dar certo num relacionamento a sério com a Samira.
Ramiro, jovem com sonhos elevados, conseguiu admitir ao ensino superior, numa das maiores universidades do País, com sede em Maputo. O namoro de Samira e Ramiro passou a ser alimentado por longas juras de amor ao telemóvel e promessas de um futuro diferente. O contrato entre o casal era de que, independentemente das circunstâncias, todos os meses de Dezembro, Ramiro tinha de voltar à casa para estar com sua amada.
A promessa foi por quatro anos cumprida, mesmo diante do fogo cruzado ao longo da Estrada Nacional (EN1) entre as forças governamentais e os homens armados da Renamo; Ramiro arriscava tudo para ver a sua amada, entretanto tudo viria a mudar quando a família da Samira conseguiu inscrever a mesma na Universidade Católica de Moçambique (UCM) delegação de Nampula. Um ano estudando em Nampula, Samira mudou totalmente, passou a gostar coisas mundanas.
Os pedidos que ela fazia para o seu amado Ramiro já não eram correspondidos. Na Universidade as colegas mudavam de telemóveis mensalmente. Tinham namorados que traziam as mesmas de carros particulares e nos intervalos alugavam a lanchonete e nos finais de semana estavam em discotecas e grooves nas praias de Ilha de Moçambique e Chocas Mar. O Ramiro andava atolado na busca por uma oportunidade de emprego na capital. Finalmente, Ramiro conseguiu. Samira já estava num outro relacionamento com um cidadão da Guiné Conacri.
No início, o relacionamento entre Samira e o novo companheiro dela era uma maravilha. Ele bancava todas as contas. Ramiro conseguiu um emprego, onde em seis meses foi nomeado assessor da instituição, tinha um bom salário e condições para viver. Sem saber da situação da amada, Ramiro pagava as mensalidades da Samira e enviava alguma mesada para a mesma. Levou muito tempo, Samira já não queria mais nada com o Ramiro. Samira recebeu um pedido do companheiro guineense para viverem juntos.
A vida seguia normalmente. Samira engravidou. Os negócios do companheiro corriam bem. Ela abandonou a formação e passou a dedicar-se mais ao companheiro e no desenvolvimento familiar. O projecto de vida entre eles estava bem encaminhado. De repente, tudo mudou. O companheiro guineense da Samira virou violento. Eram socos no estômago ao pequeno-almoço, chapadas na cara ao almoço e pontapés ao jantar. Com sete meses de gestação, o guineense deu um soco na barriga da Samira e pediu divórcio, mas na esperança de manter o lar, a Samira suportou tudo.
Dois meses depois veio ao mundo, o filho do casal. Com os valores acumulados por debaixo do colchão e nas contas bancárias da Samira. Dias depois o companheiro contou que o pai havia perdido a vida em Conacri e que ele precisava viajar para lá. O companheiro guineense exigiu que ela entregasse todo valor porque ele tinha que seguir com a viagem para o inteiro e eis que a mesma levantou o valor e facultou-lhe. Lá foi ele para Conacri.
Com a estória do falecimento contada em Moçambique, enquanto em Conacri esperava-se um noivo para o casamento do ano. Que esteve em Moçambique a trabalhar e a organizar o futuro da família. Em Moçambique, o guineense havia enrolado uma família larga e contado uma longa-metragem. No noivado com a Samira, ele apresentou uns conterrâneos como parentes legítimos que o representaram. No entanto, o visado em questão tinha outros planos.
Chegou em Conacri casou-se com uma companheira de longa data. As fotos do evento foram parar nas redes sociais. Com a legenda em francês diziam "mariage de l'année...Le couple de l'année" que significa "casamento do ano... o casal do ano". Do modo como a farsa estava montada, até o mesmo bloqueou nas redes sociais a esposa moçambicana. Entretanto, o mesmo "esqueceu-se" que as irmãs da Samira acompanhavam sua "maratona digital" e dada às facilidades que o facebook permite ultimamente, as irmãs traduziram a legenda acima mencionada e descobriram que o cunhado havia casado com uma outra mulher e que não havia perdido nenhum parente, mas sim acabava de acrescentar mais uma parente.
Sem alternativas, as irmãs comunicaram a Samira da situação, agoniada e desesperada. Samira mergulhou-se em lágrimas com um filho recém-nascido. O companheiro guineense não mantinha contacto com a mesma num intervalo de seis meses. Estranhamente, neste período, alguns conterrâneos do guineense começaram a pressionar a moçoila para abandonar a casa e deixar tudo que estava no interior da residência.
Samira resistiu e passando algum tempo o guineense voltou sem nada. O valor todo que haviam acumulado para o projecto familiar, acabava de ser torrado no novo matrimónio contraído em Conacri. Em território moçambicano, o guineense procurou a Samira para reatar a relação. A pressão e as bofetadas eram tantas que mesmo no momento de reconciliação o guineense chegou embriagado, pegou num copo e atingiu a Samira na testa. Em pouco tempo a face estava toda inchada. Foram dias de agonia e dor.
Diante do sofrimento, Samira abandonou a residência e voltou para sua casa. Entretanto, dias depois o guineense regressou a sua procura; queria amantizar com ela. Uma mulher que ele havia burlado sentimentalmente. A Samira hoje vive traumatizada e diante de várias lembranças, sempre aparece na memória dela o seu amor de Quelimane, Ramiro, o jovem rejeitado na altura por não ter melhores condições que o guineense.
Nos últimos meses um dos pratos fortes da media é a corrida eleitoral para a presidência americana. Hoje, 3 de Novembro, é o dia decisivo. Fora as candidaturas o que me chama atenção é a “ausência” do homólogo americano do nosso presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), o Cheikh Abdul Carimo. Daí a pergunta se alguém o terá visto ou, e é possível, que tal figura nem exista na América.
Faço a pergunta porque não estou habituado a ver eleições em que os organizadores não são os principais protagonistas ou mesmo em que os candidatos sejam os principais protagonistas. Por cá, a Pérola do índico, a CNE/STAE é o centro das eleições. Esta é mais famosa do que os candidatos e de longe dos respectivos manifestos eleitorais. Por cá o debate político não é entre os candidatos, mas sim no seio da CNE/STAE. E como se não bastasse, posso estar enganado, a nossa CNE/STAE dá a sensação de funcionar como se fosse o Colégio Eleitoral para os americanos que é quem, na verdade, elege o presidente da nação mais poderosa do mundo.
Em síntese, e para terminar (hoje tenho pouco tempo por força das eleições americanas) passo a concluir, e a propósito do título do texto, que o homólogo americano da nossa CNE/STAE é o Colégio Eleitoral e este, pelo que eu saiba, não anda desparecido. Isto, pelo menos, até ao anúncio dos resultados da eleição americana, pois, em caso de derrota de Trump (candidato republicano), é bem possível que o homólogo americano do Cheikh Abdul Carimo ( ou figura similar) venha a terreiro e passe a ser a figura principal. Afinal de contas, e mesmo a fechar, a Pérola do Índico também consegue interferir nas eleições da nação mais poderosa do mundo. Aliás, há poucos dias, tal não deixou dúvidas quando uma comitiva de Biden (candidato democrata) foi impedida de fazer campanha no Estado de Texas, uma espécie de província de Gaza para os republicanos.
O comandante Assane Amisse Gavana tem uma história de vida semelhante a de tio António (cantada pelo músico ango-congolês Sam Mangwana). Gavana nasceu em 1951, no distrito de Muidumbe, na martizada província de Cabo Delgado. Com uma infância marcada por sofrimento e cavalgadas coloniais. Em 1968, Assane Amisse Gavana, foi incorporado nas fileiras das Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM), tendo passado a sua mocidade nas matas a lutar pela independência nacional.
Com a independência alcançada em 1975, um ano depois teve que voltar ao teatro operacional combatendo na Guerra... No calor intenso provocado pela guerra, em 1989 Gavana, com o objectivo de proteger a sua família, não resistiu e foi refugiar-se na Tanzânia; onde ficou por uma década.
Em Moçambique, o "comandante" Assane Gavana, passou a viver na aldeia 1º de Maio, no distrito de Nangade. Na busca pelo reconhecimento dos seus feitos, nos 10 anos de luta de libertação nacional e 13 da Guerra Civil, o comandante Assane Gavana, apresentou-se às autoridades para que passasse a gozar do estatuto de antigo combatente como os outros compatriotas; ele submeteu documentos para o efeito na Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN) de Nangade, na ocasião foi orientado a dirigir-se para Mueda, donde foi dito para seguir para Pemba.
O "comandante" viveu diversos ping-pongs; a isso acrescente-se a falta de assistência e acompanhamento que o fizeram desistir de fazer parte da prestigiosa lista de antigos combatentes que mensalmente aufere algumas somas graciosas e em datas festivas caminham em grupo todos devidamente uniformizados. O "comandante" Gavana durante o seu percurso militar chegou a operar em diferentes frentes: Ilha de Moçambique (Nampula), Chitengo, Canda e Sakuzo (Sofala), Manica, Inhambane e Boane (Maputo).
Nas longas conversas lamuriosas do "comandante" com os jovens que combatem os terroristas nos distritos de centro e norte de Cabo Delgado, Gavana conta a sua epopeia heróica mas com dor de quem se sente excluído da marca de herói nacional oficial, vivendo na clandestinidade; e a juventude toma-o como um simples compilador de historietas, um velho lunático e embriagado.
Quando o "comandante" Gavana conta que já zarpou de emboscadas do inimigo como um "fantasma" e viu a sua vida por um fio, os jovens com a farda e uma espingarda rasgam-se de risos. A verdade é que ele, é um combatente esquecido e deixado para trás pelos seus. O "comandante" Gavana até tem dado dicas aos jovens como combater os al-shababs que aterrorizam a província há três anos.
Gavana dá educação patriótica aos jovens militares que defendem a soberania nacional e alguns militares que passaram acreditar nele imaginam como seria a motivação e a dedicação do mesmo, caso fosse reconhecido e não esquecido.
Chama-se Awa, a menina que nasceu na segunda-feira, 19.10.20, nas cristalinas e ondulantes águas que banham a 3.ª maior baía do mundo, Pemba. Awa que na perspectiva teológica (islâmica) significa Eva, a companheira de Adão (Adán) – os primeiros seres humanos da humanidade. Nasceu no centro do furacão – terrorismo.
Awa é um milagre da mãe Muaziza Nfalume que procurava a todo custo fugir as atrocidades dos terroristas, a fome, a sede e as doenças em Matemo. A Awa não conseguiu esperar para ver a realidade que atormenta a sua progenitora e seus próximos. A princesa Awa nasceu num momento difícil…
Ela veio como um pássaro, sedenta de liberdade e ar livre para voar. Ela nasceu num manto de perigos, mas quiseram as forças vitais que a princesa Awa nascesse saudável e num momento histórico. Quis o destino que a mãe não caísse nas incursões violentas e desumanas dos terroristas. Quis o destino que ela vencesse os perigos do mar e da guerra e chegasse a Pemba como mais uma deslocada.
A princesa Awa precisa de um aconchego e segurança, tal como outras crianças, mulheres, adultos e idosos que vivem as sinuosidades de uma guerra que no princípio foi vista e tratada como mais um acto de banditismo; e hoje transformou-se numa calamidade nacional e internacional.
A princesa Awa e outras crianças precisam de acolhimento e um lugar para crescerem seguras. Um dia ela saberá como veio ao mundo e os riscos que a mãe Muaziza teve que suportar e atravessar naquele barco a vela cheio de pessoas doentes, famintas e banhadas de medo!
A princesa Awa é uma deslocada de guerra que nasceu distante dos seus ancestrais e dos hábitos e costumes dos seus progenitores. A Awa vai precisar de um lugar melhor para crescer, desenvolver-se e viver sem medo do terror.
A situação de Cabo Delgado está a cada dia a deteriora-se. Há três anos que a banalização da vida humana se instalou nos distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Muidumbe, Nangade, Ibo, Meluco, Palma e algumas aldeias de Mueda. Em Cabo Delgado, duas mil vidas perderam-se, mais de 370 mil pessoas encontram-se deslocadas e já afectou mais de 700 mil, entre elas crianças como a princesa Awa que correm o risco de murcharem se algo de concreto não for feito por aqueles que detêm o poder decisório – garantir a protecção e o valor da vida humana.
Os deslocados chegam precisando de tudo. Segurança, aconchego, comida, saúde e oportunidade de recomeçar, por isso precisa-se fazer e dizer...
Ode a todas as crianças.
“Porque carga de águas a paz é a excepção e não a regra (em Moçambique e no mundo)?”. Perguntei a um amigo, no quadro do mês da celebração do dia da paz (04 de Outubro) cuja trajectória nacional (ontem, hoje e amanhã) passei-a, em revista, num texto anterior (O Dossier da Paz).). “Porque a paz éum assuntode amantes”. Assim,e prontamente,respondeu o citado amigo, concluindo, em seguida, e com ares de sabichão: “Que falar de amantes é falar de Casa2, uma matéria, que fora complexa, é igualmentedo foro da excepção”. E para completar a resposta, caso ainda persistissem dúvidas, o amigo ainda sugeriuque eu consultasse a Carta das Nações Unidas, a sua fonte.
Dei-me tempo para uma leitura rápida da Carta. Voltei à conversa e perante os parcos resultados da minha pesquisa,o meu amigo reiterou a complexidade do assunto,o que me valeu um perdão, e um TPC: ler o número 1 do artigo 4”.Assim procedi. “A admissão como membro das Nações Unidas fica aberta a todos os Estados amantes da paz…”. Ainda decorria a leitura e de repente umbrusco e sonoro ”Para ai mesmo”seguido deumapausada e objectiva chamada de atenção: “Viste bem: amantes da paz e não cônjuges da paz”. Na sequência, e em jeito de xeque-mate, ele conclui com a seguinte pergunta: “Como é que a guerra não prevalecerá se até asNações Unidas consagram osamantes, em detrimento dos cônjuges ou casados, como os fautores da paz?”
E a propósito: Moçambique apresentou, recentemente, a sua candidatura a membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Aliás, este assunto, o de ser membro não-permanente, e nos termos da lógica do supracitado amigo, também éda esfera da “Casa 2”, uma vez que a Carta das Nações Unidas, e quanto ao órgão em pauta, categoriza osseus membros, e mais uma vez em detrimento dos cônjuges (nível 1) em (amantes) permanentes (nível 2) e em (amantes) não permanentes (nível 3).
De toda a maneira, e brincadeiras de lado, é tempo de as Nações Unidas deixarem de ser a “Casa 2”(níveis 2 e 3) do mundo sob o risco de passarem para o nível 4, vulgo “Marandza”(alta intensidade e curta duração), e com consequências catastróficas parao sistemainternacional, sobretudo o de ordem financeiro. O alerta é vermelho (risco muito alto), agravado com a combinação explosiva dos tempos de pandemia da Covid-19 com a aproximação da época balnear e da quadra festiva, prevendo-se assim a ocorrência de avultados danos materiais, e até mesmo humanos tal o grau de severidade.