Por Edna Juga
Onde estás Filosofia?
com as tuas mãos descascas bananas,
transforma-as em catanas,
que cortam machambas,
e, afugentam cobras mambas.
Ondes estás Sabedoria?
com as tuas verdades cruas,
despimo-nos de ideias nulas,
dás-nos tolerância,
para viver sem implicância.
Onde estás Sapiência?
com a tua ciência,
desenvolvemos o dom da resiliência,
compreendemos que todos somos um,
mesmo não havendo nada em comum.
A propósito das empresas (LAM e TMCEL) recentemente alvos de intervenção, e que há anos são a imagem da asfixia em que se encontram as empresas públicas participadas e superiormente orientadas pelo Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), conto abaixo dois episódios e as respectivas lições para a devida consideração de quem de direito.
Episódio 1: há uns anitos eu estava em casa da “Avó Maria”, por sinal a minha mãe, e na TV passava uma entrevista à então presidente do Fundo de Fomento de Habitação em que se queixava do facto da principal fonte financeira do fundo ter secado. E nesse instante ouço a “Avó Maria” dizer: “Quando a fonte estava a jorrar não veio informar”.
Episódio 2: no lançamento recente do livro “Crónicas dum Insubmisso” do médico Hélder Martins, o comentador do livro, o escritor Luís Bernardo Honwana, abriu um parenteses e contou que em miúdo, na Moamba, os seus pais apontavam para o Hélder Martins como um miúdo e aluno exemplar e de que eles, o Luís e companhia, deveriam seguir as peugadas dele, o ora “insubmisso”.
Agora o ponto: à luz de todo o enredo que culminou com a intervenção na LAM e na TMCEL, chego a conclusão de que destes dois episódios, no mínimo, duas lições podem ser extraídas para o futuro.
A primeira lição: que a tutela das empresas públicas não venha a terreiro apenas quando a fonte seca. Espera-se dela que também venha, alto e em bom-tom, anunciar que as torneiras estão a jorrar. Certamente que a “Avó Maria” agradeceria bastante.
A segunda lição: seria igualmente de bom-tom que os governantes da tutela quando viessem a público aos gritos, por conta da crise de uma e outra empresa, também fizessem o mesmo que o pais de Luís Bernardo Honwana, apontando a essas empresas uma e outra de sucesso como bons exemplos a seguir. Pelo menos o Luís Bernardo Honwana não se arrepende.
Dito isto, o ponto de fundo: já se sabe de tudo sobre as empresas públicas sufocadas e algumas já estão em fase de medicação. O que ainda não se sabe de tudo é sobre as empresas públicas que (ainda) respiram. Existem? Se sim, quais são? Quanto custam e jorram para o Estado?
Em jeito de fecho, o ministro dos transportes e comunicações até que podia dar o pontapé de saída, anunciando as empresas do seu sector que se encontram de boa saúde e que se recomenda. A seguir o dos recursos minerais e energia e assim sucessivamente. Quiçá o IGEPE faça por todos.
PS: por falar do IGEPE - que é quem assegura as boas práticas de gestão e a assistência técnica necessária ao denominado sector empresarial do Estado - certamente que lhe cabe um quinhão de responsabilidade no estado geral de asfixia em que se encontra o sector. Sendo assim, quem a priori deveria merecer uma intervenção (internacional), e para o bem de todo o sector, não seria o próprio IGEPE? Ou estarei equivocado?
Seu nome renovou-se semana passada com o lançamento do seu livro – Poder tradicional no distrito da Maxixe. Se calhar pode ser uma grande surpresa, talvez um espanto para muitos, se tomarmos em conta o estado de saúde de um homem que implantou fundamentos sólidos visando um reordenamento territorial posteriormente aplaudido, depois de incompreensões e tumultos, durante a vigência do seu mandato como presidente do Conselho Municipal. Foi preciso arrojo para que os objectivos fossem alcançados, e os resultados estão aí. À vista de toda gente.
Narciso Pedro parecia esquecido depois da aposentação, no sentido de que aparentemente já não se esperava muito dele devido ao estado de saúde que lhe apoquenta, está paraplégico. Mas a força de espírito que lhe vai dentro contrariou o pessimismo, moveu a mente e trouxe “cá fora” uma obra que pode levantar um debate, aliás ele próprio questiona: “os cabos de terra indicados no distrito da Maxixe são daqui ou vieram de onde vieram? Poucos esperavam este contributo grafado em papel que vem nos mostrar o inconformismo do ex-edil.
Narciso Pedro reaparece de moto próprio, não esperou que lhe fossem buscar como a um fracassado, nem ficou de braços cruzados mamando do leite das vacas do passado. Ele ainda acredita no futuro e o futuro não se faz apenas com fé, é preciso amanhar novos pilares e deixar outros testemunhos como agora que o faz com “Poder tradicional do distrito da Maxixe”.
Narciso Pedro ressurge e com ele renovam-se os elogios do povo, que serão uma ode à audácia. Era imperiosa a coragem de se ir contra a superstição e os tabus para que se reorganizasse uma cidade que estava aos frangalhos em termos urbanísticos, e este homem teve essa coragem. Enfrentou as barricadas da população, agrediu os costumes com determinação e lanças da modernidade, ignorou os choros e os lamentos daqueles que viriam a ver as suas casas demolidas, as suas benfeitorias. Mas o edil fazia isso a bem de todos, e hoje esses todos aplaudem em unanimidade o trabalho feito por alguém que sabia muito bem o que estava a fazer.
“Poder tradicional no distrito da Maxixe” serviu também para isso, lembrar-nos que Narciso Pedro é o tipo de dirigentes que Moçambique precisa. Não será a paraplegia que vai apagar um dos nomes mais queridos numa cidade-entreposto que carece de alguém com capacidade e visão para que os fundamentos deixados não sejam em vão. Se há coisas que foram mal direccionadas depois , como as construções desaconselháveis em quase toda a marginal, então urge um dirigente para vestir o fato-macaco deixado por Narciso Pedro e reorientar tudo, a bem da beleza paisagística da Maxixe.
Nutro simpatia por Lula da Silva, o Presidente do Brasil. Porém, tenho algumas reticências sobre uma e outra fala dele. Dois exemplos.
O primeiro foi na outra leva presidencial. Lula veio a Maputo e numa palestra disse que sob a sua batuta o Brasil pagou a totalidade da dívida que tinha com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Até disse, com certa pinta exibicionista, que o Brasil já emprestava dinheiro ao FMI, figurando inclusive entre os países que mais emprestavam a esta instituição.
O facto de ter pronunciado esta notável façanha na capital de um país sob a égide do FMI - uma instituição que Lula combate e considera um instrumento da dominação dos mais fortes contra os mais fracos - não deixa de ser caricato. E ainda mais caricato, embora não tenha a precisão do momento, foi o facto da plateia doméstica ter irrompido em palmas.
O segundo exemplo, ainda fresco, decorre das últimas declarações de Lula, no corolário da sua visita a China, ao afirmar que a União Europeia e a NATO, que fornecem armas a Ucrânia, estimulavam a guerra Rússia-Ucrânia.
Poucos dias depois, em Brasília, ao receber o presidente da Roménia, por sinal um país membro da NATO, Lula condenou a invasão da Rússia a Ucrânia. Foi a primeira vez. Assim foi o seu pronunciamento na visita feita há pouco a Portugal.
Em Portugal – e é o ponto - foi interessante observar que Lula participou, na companhia do Primeiro-ministro português, no voo inaugural de um avião militar português de fabrico brasileiro e que o Brasil adaptou-o aos requisitos da NATO para que seja vendido aos países desta Aliança.
Dois exemplos que me trazem à memória Ronald Reagan, o 40º presidente norte-americano, que certa vez disse: "Sabe, foi dito que a política é a segunda profissão mais antiga, e eu percebi nos últimos anos que ela tem uma grande semelhança com a primeira".
Para reforçar o dito de Reagan, e porque Lula é brasileiro, nada melhor que lembrar a novela brasileira “O Bem-amado, sobretudo uma expressão célebre de Odorico Paraguaçu, o Perfeito de Sucupira, que, repetidamente, perante a estupefacção do seu assistente pessoal face a mais um seu dito por não dito, professoralmente dizia: “A política, Sô Dirceu!”.
Disse, alguma vez, um sábio anônimo que todos nós devemos alguma coisa a alguém - não há um único homem que não deva nada a outrem. Não só devemos à terra tornar, como bem disse Alberto Machavele; mas a uma série de outras pessoas e outras coisas… semana passada, narrava eu como duas rubriquinhas apenas mudaram grandemente a minha vida. Na verdade, devemos infinitamente a tudo e a todos: aos nossos pais, aos pais dos nossos pais, ao resto da família, aos nossos professores/educadores, aos colegas de infância, da turma ou da faculdade e aos nossos amigos, e até a anónimos, consoante onde conseguimos chegar!
Depois de contar a história com o José Catorze, ocorreu-me a do Dr. António Bugalho. Aquele mesmo conhecidíssimo médico Antonio Bugalho! A ele também tenho uma grandiosa dívida de gratidão. Eiiii… devemos a tanta gente! Já agora, a todos a quem tenho uma divida de gratidão e se, por alguma razão, não me ocorra, fica aqui o meu profundo reconhecimento! Vamos ao Bugalho.
Não conheci, como tal, o Dr. Antonio Bugalho. A vez em que entrei em contacto com ele, em 1988, foi na sequência de uma grande reportagem que estava a fazer sobre o aborto em Moçambique. Ele era o director da Maternidade do Hospital Central, naturalmente, figura importante na reportagem. Não foi preciso nenhum salamaleco, foi só chegar à Maternidade e logo lá se pôs ele a falar para o jovem repórter do Domingo. Esta reportagem viria a merecer distinção nos defuntos prêmios anuais de jornalismo que a então Organização Nacional de Jornalistas realizava anualmente.
Atendeu-me lindamente, deu-me toda a informação que desejava. Ficou o contacto, mas não propriamente uma pessoa próxima, mas, aberta que não é, numa ou noutra ocasião, um e outro cumprimento. A vida foi correndo e, em 1991, com apenas 27 anos, sou indicado subchefe da redacção do semanário Domingo! O trabalho começou a apertar. Além da minha reportagem da semana e mais duas a três notícias que devia que apresentar semanalmente, já tinha que estar à frente de outros, ver o trabalho deles e do jornal no seu todo; coadjuvar o chefe; realizar quaisquer tarefas que ele indicasse; esboçar editoriais e realizar outras tarefas, como grandes reportagens e grandes entrevistas com altas personalidades, ministros, chefes de estado, grandes artistas, etc. e representá-lo ou ao jornal em cerimônias oficiais.
Como azar não custa, cerca de três anos depois, sou conduzido a chefe! De coadjuvante, passo a titular. Para os escribas de hoje, isto não vai significar muito. Nesse tempo, não usávamos computador - não havia ainda. Era tudo à máquina de escrever. A edição do texto era feita manualmente, à esferográfica, na… lauda! E o autor do texto tinha que reescrever. Depois, o texto ia para a composição, nas oficinas e, a seguir, a paginação… mecânica, não digital. O Corsino, o Macassa e, mais tarde, o Sérgio Dzimba pré-desenhavam as páginas na presença do autor do texto e do fotógrafo e depois levavam à anuência do chefe. Aprovada a prova, seguia para a pré-impressão e só depois de aprovada é que ia à impressão final. A aprovação da arte final raramente acontecia antes das 23 horas; normalmente, era a uma, duas horas da madrugada! Quase todos os domingos começavam nós ainda no jornal a jobar! Só depois de a prova seguir para a máquina, para a impressão, é que íamos entrar na viatura do jornal para nos distribuir pelas nossas casas…
Para piorar, o período que vai de 1990 a 1995 foi dos mais intensos da história do nosso país. Duvido que haja ou venha a haver outro. Nova Constituição da República que marca o efectivo fim do monopartidarismo entra em vigor; a negociação do fim da guerra com a Renamo; a assinatura e implementação do Acordo Geral de Paz de Roma, as Nações Unidas no país (a famosa ONUMOZ); a discussão e preparação das primeiras eleições gerais multipartidárias; a realização das eleições; a retirada de última hora de Afonso Dhlakama das eleições; a lenga-lenga da divulgação dos resultados; a recusa da Renamo dos resultados do escrutínio… e o reinício (melhor início) da convivência social pacífica entre moçambicanos membros declarados de partidos políticos diferentes… tudo isto e mais alguma coisa mais ou menos no mesmo período! Acredito que jornalista algum jamais terá a oportunidade de viver num ambiente desta jaez!
E eis que… a minha máquina deixa de funcionar devido à pressão do trabalho. Eu já não era eu. Aquele homem já virara sezimeia! Mês após mês e… ano após ano, nada!... sono profundo. Mas a saúde, em termos de sentir dor, ou algum problema, estava tudo bem. Mas ainda assim fui aconselhado a procurar conselho de um médico, ou a ir mesmo a hospital!…
Já não me lembro das circunstâncias e como, mas o médico que me deu os conselhos que estão a ser úteis na minha vida toda foi… o Dr. António Bugalho!... fazer ginástica. Ainda lhe perguntei se, no lugar de ginástica, podia ir jogar futebol, já que gosto muito. Anuiu.
Fui correr atrás do esférico e não passaram três meses, a máquina voltou a funcionar!
Estou e estarei eternamente grato pelo conselho que me tirou da condição de sezimeia!
ME Mabunda
A vizinha África do Sul está a abraços com uma crise energética – e já faz algum tempo – penalizando, segundo fontes avulsas, a sua economia em dois biliões de rands por dia. Isto por conta dos cortes programados decorrentes da gestão da energia eléctrica disponível.
É muita massa e que me levou a reflectir sobre a possibilidade de Moçambique fazer uma renda extra. Mas antes uma pergunta: como vai a energia eléctrica do país? É suficiente? Sobra? Alguma crise iminente?
Não tendo por enquanto a resposta, arrisco um palpite: que se tem o suficiente e que até deve sobrar. O palpite resulta da aposta do país na expansão doméstica (territorial e de consumidores) da energia elétrica. Quem assim opta, sinaliza alguma gordura.
Um outro facto – talvez o principal - que contribui para o palpite decorre da seguinte pergunta: o que o país produz por dia com a energia eléctrica disponível supera os dois biliões de rands de perdas diárias da economia sul-africana?
Dito isto – e com a mira nos suculentos dois biliões de rands - uma dica para mais uma reflexão (e mais uma comissão?): da energia eléctrica que sobra não dá para o país aumentar a venda de energia eléctrica aos sul-africanos?
Acredito de que não e no caso, uma outra dica para reflexão: se se juntar a energia que sobra a apagões controlados aos fornecimentos a outros países consumidores regionais de Cahora-Bassa também não dá?
Em último caso: partindo do facto de que o país depende dos esforços económicos do vizinho para a sua sobrevivência, não justificaria um apagão geral na Pérola do Índico?
Toda esta ladainha, e talvez sem sentido, seria dispensada se o MIREM (Ministério dos Recursos Minerais e Energia), a HCB (Hidroeléctrica de Cahora-Bassa) ou mesmo a EDM (Electricidade de Moçambique) já tivessem vindo a terreiro e respondido se da actual crise energética na África do Sul o país poderia tirar ou não alguma vantagem?
De outro modo, o silêncio que se assiste sobre o assunto dita que por cá, felizmente, o apagão não é o da energia eléctrica, mas é mais profundo: é estrictamente do fórum da energia cinzenta.