A recente decisão do Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO), de aumentar a taxa de juro da Política Monetária, taxa MIMO, em 300 pontos bases, para 13,25%, irá agravar o serviço da dívida das empresas e das famílias, afectando o consumo privado e contribuir para uma menor procura de empréstimos para financiar o investimento.
Quem assim entende é a Associação Moçambicana de Bancos (AMB) que, entretanto, defende que a medida visa amortecer as pressões cambiais e inflacionárias, num momento em que se assiste a uma fraca dinâmica da actividade económica, devido aos efeitos causados pela crise pandémica.
Numa troca de correspondências com “Carta”, em relação às decisões tomadas pelo CPMO, na sua última reunião, a AMB sublinha que, do lado da banca, o ajuste da taxa de juro poderá influenciar a deterioração da qualidade dos balanços, afectando na rendibilidade financeira, num cenário em que se observa uma queda acentuada de receitas e rendimentos.
Acompanhe:
Como a AMB reage à subida de taxas de juros de referência?
-A revisão em alta das taxas directoras visa essencialmente amortecer as pressões cambiais e inflacionárias, num momento em que se assiste a uma fraca dinâmica da actividade económica, devido aos efeitos da crise pandémica, na procura e oferta agregada. A adopção destas medidas restritivas é necessária, atendendo que os riscos da conjuntura doméstica e internacional aumentaram substancialmente, comprometendo a estabilidade macroeconómica.
Que impacto o sector bancário espera da mesma?
-A subida da taxa MIMO irá repercutir na Prime Rate do Sistema Financeiro (PRSF) e, consequentemente, no agravamento do serviço da dívida das empresas e famílias, afectando o consumo privado e menor procura de empréstimos para financiar o investimento. Do lado da banca, o ajuste da taxa de juro poderá influenciar a deterioração de qualidade dos balanços, afectando na rendibilidade financeira, num cenário em que se observa uma queda acentuada de receitas e rendimentos.
O sector previa a subida das taxas? Porquê?
De acordo com o Boletim de Estabilidade Financeira, publicado em Dezembro de 2020, os riscos e vulnerabilidades do sector bancário evoluíram num sentido crescente. Desta forma, o aperto da política monetária sinaliza a intervenção do Banco Central para mitigar o choque pandémico que tem um carácter internacional, global e de grande magnitude, sendo as suas consequências profundas, vastas e, na sua maioria, irreversíveis. O enorme impacto que a crise sanitária provocou não só no sistema financeiro nacional, mas também na economia e na própria sociedade em geral, exige uma postura conservadora na gestão da Política Monetária, tendo em vista atenuar os efeitos adversos na inflação e na depreciação da moeda.
Que perspectiva fazem sobre a redução ou manutenção e/ou aumento das taxas no próximo CPMO?
Face às expectativas de aceleração do nível geral de preços, antevemos a manutenção de uma postura prudente na condução da Política Monetária do Banco Central. A revisão das taxas de juro dependerá fundamentalmente da evolução do quadro epidemiológico, do funcionamento dos mercados financeiros, da qualidade da carteira de crédito, da recuperação da actividade económica, do desempenho das economias dos principais parceiros comerciais de Moçambique, com destaque para a África do Sul e União Europeia. (Evaristo Chilingue)