As autoridades detiveram na segunda-feira dois jornalistas na província de Sofala, centro do país, indiciados no crime de corrupção passiva, informou ontem o Gabinete de Combate à Corrupção na província. Segundo Anastácio Matsinhe, porta-voz do Gabinete de Combate à Corrupção na província, trata-se de Arsénio Sebastião, correspondente da Deutsche Welle (DW), e de Jorge Malangaze, um 'freelancer', acusados de terem recebido subornos para não publicarem uma matéria relacionada à violação das regras do estado de emergência num estabelecimento hoteleiro em Sofala.
"Eles contactaram o proprietário do estabelecimento e cobraram valores monetários para que não fossem exibidas as peças feitas sobre o estabelecimento, e o proprietário fez uma denúncia ao gabinete. Trata-se um crime de corrupção passiva para ato ilícito", disse Anastácio Matsinhe.
Os dois repórteres teriam fotografado e filmado o estabelecimento "abarrotado e com pessoas a consumir álcool durante a noite", violando as regras do estado de emergência, segundo Arsénio Sebastião, correspondente da DW e um dos indiciados.
Os jornalistas foram pedir esclarecimentos à gerente do estabelecimento, que recomendou que falassem com o proprietário: Manuel Ramissane, um deputado da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
De acordo com o porta-voz do Gabinete de Combate à Corrupção em Sofala, os repórteres chantagearam Manuel Ramissane, que foi alegadamente orientado pelas autoridades a fingir que aceitava subornar os dois para evitar a divulgação do material.
Os jornalistas terão recebido cinco mil meticais (63 euros) e foram detidos em flagrante, segundo o porta-voz do Gabinete de Combate à Corrupção em Sofala.
Falando à comunicação social a partir do posto policial onde está detido, o correspondente da DW afirmou que foi o proprietário do estabelecimento quem tomou a iniciativa, considerando ter sido alvo de uma "emboscada".
"Ele meteu a mão no bolso e entregou-nos o valor para que não publicássemos a informação. Aceitamos pensando que era o ‘Nelinho’ de antes e de repente, à saída, apareceram 12 agentes", declarou o jornalista, aludindo conhecer o proprietário do estabelecimento. Moçambique vive em estado de emergência desde 01 de abril, tendo sido prorrogado por duas vezes, até 29 de junho.
Durante esse período, o país vive com várias restrições: todas as escolas estão encerradas, espaços de diversão e lazer também estão fechados, estão proibidos todo o tipo de eventos e de aglomerações, recomendando-se à população que fique em casa, se não tiver motivos de trabalho ou outros essenciais para tratar. (Lusa)