As aulas na UniTiva, em Boane, vêm registando algumas interrupções nos últimos dois meses, devido às manifestações que vêm ocorrendo em todo o país, convocadas pelo candidato Venâncio Mondlane, em protesto contra os resultados das eleições de 09 de Outubro. Mesmo assim, os pais e encarregados que não cumprem com as datas de pagamento das mensalidades são obrigados a pagar multas, sob pena de seus filhos não realizarem os exames.
Localizada no município de Boane, província de Maputo, a universidade cobra mensalidade entre o dia 25 e o dia 10 do mês seguinte. No entanto, para os encarregados que não conseguem honrar as datas, são aplicadas multas que variam de 25% a 100% do valor da mensalidade.
Segundo um dos encarregados que conversou com a nossa reportagem, há quase dois meses os alunos vêm tendo aulas com muitas interrupções e, nos últimos dias, quase nem vão à escola, pois a universidade decidiu suspender todos os autocarros de recolha dos alunos. No entanto, mesmo sem aulas, os alunos devem pagar a mensalidade integralmente e quem atrasa o pagamento deve pagar a multa, sem qualquer consideração.
“Os autocarros de recolha dos estudantes foram suspensos pela universidade e não estão a circular devido às manifestações. Muitos de nós não estamos a trabalhar, não há pagamentos, e mesmo assim exigem que os encarregados cumpram com as datas de pagamento das mensalidades. Nem se importam se o encarregado tem condições ou não de pagar nas datas estipuladas”, relatou um dos encarregados.
“A universidade não nos quer entender e está a ser insensível numa situação que afecta todo o país. Eles poderiam manter as mensalidades e anular as multas. Neste momento, eles praticamente não têm despesas, pois os alunos estão em casa. No entanto, não se sensibilizam com a situação de cada encarregado e ainda ameaçam congelar as notas dos alunos, impedindo-os de realizar os exames, cujas datas ainda são incertas”, acrescentou.
Outro encarregado explicou que, assim como a universidade espera que eles entendam que os seus filhos não têm aulas neste momento, também deveriam compreender a situação de um grupo específico que não consegue honrar os seus compromissos financeiros nesta fase turbulenta.
“Em breve serão as matrículas e teremos de pagar a primeira mensalidade logo em Janeiro. Se não cumprirmos, seremos sancionados. Nossos filhos estão em casa há dias e a universidade não diz nada. Suspenderam os autocarros e nem se preocupam em oferecer aulas online, como têm feito outras universidades. Todos estamos na incerteza. Não negamos pagar os 100% das mensalidades, mas pedimos que a universidade nos entenda quando há atraso, pois, à medida que aplicam as multas, elas se multiplicam”, afirmou um encarregado, que preferiu manter-se anónimo.
Os encarregados de educação reclamam ainda que a universidade tem um “modus operandi” difícil de compreender.
“Por exemplo, pagamos 9.700 de mensalidade, que inclui o transporte, mas os alunos internos que reprovam no exame são obrigados a pagar 2.500 como condição para realizar a recorrência. Quem não paga não tem direito de fazer o outro exame. Se o aluno reprovar novamente na cadeira, no ano seguinte, o encarregado, além de pagar os 9.700, deve adicionar mais 2.000 pela cadeira em atraso”, relatou a fonte.
“Para nós, isso é uma prática abusiva. Imagine que a cadeira seja anual; você tem de pagar mensalmente 9.700 durante o ano todo, além dos 2.000 extras. Eles não perdoam. Quanto ao valor da recorrência, penso que a universidade poderia permitir que o estudante realizasse o exame e, posteriormente, congelasse os resultados até que o aluno regularizasse a sua situação, mas não é o que fazem”, detalhou.
“Carta” tentou entrar em contacto com o registo académico da Universidade UniTiva, mas sem sucesso. Até ao fecho deste artigo, as nossas chamadas não foram atendidas. (M.A.)