O Banco Mundial vai disponibilizar 100 milhões de dólares (86 milhões de euros) para apoiar o Governo moçambicano no plano de reconstrução de Cabo Delgado, província afectada pelas incursões de grupos armados desde 2017, anunciou ontem fonte oficial.
“Com as áreas reconquistadas recentemente, nós percebemos que há muita gente que quer voltar para as suas zonas de origem. Mas eles não podem voltar sem que as condições básicas tenham sido criadas. Como resultado, temos um valor adicional de 100 milhões de dólares para o apoio”, declarou Idah Pswarayi-Riddihough, directora do Banco Mundial para Moçambique.
A responsável falava à comunicação social, momentos após um encontro entre o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, e chefes de missões diplomáticas para debater o Plano de Reconstrução de Cabo Delgado.
Segundo Idah Pswarayi-Riddihough, o novo apoio do Banco Mundial junta-se a uma primeira doação (também no montante de 100 milhões de dólares), anunciada em Abril e que foi destinada à Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), que está a promover projectos sociais e económicos para inclusão da juventude em toda a zona norte de Moçambique.
Na nova doação, cujo desembolso está previsto para janeiro, o Banco Mundial quer que o dinheiro seja investido nas zonas reconquistadas, no Norte da província, e o apoio psicossocial, a reconstrução de edifícios públicos e restauração dos serviços básicos estão entre as prioridades.
“A ideia é dar às pessoas afectadas um lugar digno para viverem, depois dos traumas que sofreram”, declarou Pswarayi-Riddihough.
O Plano de Reconstrução de Cabo Delgado, aprovado em Setembro pelo Governo moçambicano, está orçado em 300 milhões de dólares (258 milhões de euros), dos quais quase 200 milhões (172 milhões de euros) são destinados à implementação de acções de curto prazo, que incluem a reposição da administração pública, unidades sanitárias, escolas, energia, abastecimento de água, entre outros aspectos.
De acordo com a vice-ministra da Indústria e Comércio, Ludovina Bernardo, a prioridade do executivo moçambicano é garantir um retorno da população gradual e seguro às zonas reconquistadas, ao mesmo tempo que são criadas as condições básicas.
“Nós queremos fazer intervenções no terreno, mas salvaguardando a segurança. As nossas forças estão no terreno e, logo que estas assegurarem que o retorno das famílias às zonas de origem é possível, o processo vai começar”, declarou a vice-ministra moçambicana, apontando, a título de exemplo, o regresso das populações de Palma, que já começou.
Também a representante residente da Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, garantiu que a organização vai continuar a apoiar o Governo moçambicano no processo, destacando a importância das “intervenções clássicas” da entidade em casos de crises humanitárias.
“Gostaria de lembrar que, do lado humanitário, os parceiros internacionais contribuíram, só no ano de 2021, com um total de 160 milhões de dólares (137 milhões de euros). É importante continuar com este apoio humanitário, ao mesmo tempo que se promove a reconstrução”, frisou Myrta Kaulard, que destacou também a importância da criação de um grupo de trabalho entre os parceiros internacionais para combinar acções e ampliar os apelos face à crise humanitária no Norte de Moçambique.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e mais de 824 mil deslocados, segundo atualizações feitas pelas autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020. (Lusa)