Uma boa fonte de “Carta” revelou ontem que Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, já controlava o mercado local do narcotráfico e fazia boa parte do fornecimento para a Africa do Sul, para onde se deslocava de vez em quando. Ele andava por cá há anos, depois que se viu acossado, na Bolívia, pela Polícia Federal brasileira.
Veio para Moçambique, país que era, aliás, um dos destinos dos seus embarques de contentores com cocaína, e onde já tinha uma lista de conhecidos. Fonte policial local disse que Fuminho assentou arraiais em Moçambique há alguns anos, quase dez (ontem, “Carta” escrevia que Fuminho chegara em Março deste ano; Março, exactamente 30 de Março, foi a data do seu “check in” no Montebello, a estância hoteleira da Sommerschield. Ele tinha aprazada sua saída para o dia 29 de Abril, eventualmente para uma moradia na periferia da cidade de Maputo).
“Fuminho” é um notório narcotraficante brasileiro procurado desde 12 de Janeiro de 1999, quando fugiu da Casa de Detenção de São Paulo (mais conhecida como Carandiru). Nasceu em São Paulo a 24 de Agosto de 1970 e sempre viveu no mundo do crime. Quando cruzou as grades na fuga de Carandiru, ele se escondeu na Bolívia, onde continuou sua actividade criminosa, juntamente com seu parceiro Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Marcola viria a ser capturado e Fuminho esfumou-se por entre suas teias criminosas e redes de protecção
Procurado caninamente por todo o Mercosul, Fuminho não pensou duas vezes: seu destino de maior protecção seria a zona sul de África, e num país, Moçambique, com fama mundialmente dupla: a de corredor preferencial e impune do narcotráfico. Boa parte da droga que abastece a Europa e a África do Sul, chega das américas, mas passa antes por Moçambique.
A partir da Bolívia, Fuminho já tinha contactos locais. Uma fonte disse que ele vivia entre Maputo e a África do Sul. Aqui, partilha negócios e vida íntima com sua companheira, de nome Maria Caroline Marques Gonzaga, que há poucos meses escapou a uma quase certa detenção pela Interpol (a Polícia Internacional). Em Cape Town. Ou seja, Fuminho tinha um pé na idílica cidade sul-africana do atlântico...
E veio o Covid 19
...e outro em Moçambique. Fugido da caçada cerrada na África do Sul, o “lockdown” de Ramaphosa no quadro da contenção do Covid 19, apanha-o em Moçambique, onde tem negócios (distribuição de drogas e lavagem de dinheiro) com pessoas e empresas locais, mas já não podendo regressar para a RAS. Seu vai-e-vem entre Kampfumo e a terra do Rand era feita de forma clandestina e ele optou por não se expor, ficando por cá.
O apartamento no Montebello era um lugar de passagem. Seus parceiros locais, entre as quais uma empresa nigeriana de “Export/Import”, lhe haviam prometido guarida, em lugar de menor visibilidade. A empresa, cujo nome ocultámos, é apontada por fonte policial como a responsável pelo escoamento de todo o narcotráfico de Fuminho partindo de Maputo para os países vizinhos.
Parte da droga que Fuminho recebia do Brasil era transportada por correios humanos, alguns dos quais eram detidos no Aeroporto de Mavalane, em Maputo, e outros serviam de disfarce para permitir a entrada de quantidades maiores. Alguns desses detidos, maioritariamente mulheres, encontram-se presos em Moçambique, mas, na reclusão, gozam de privilégio que só podem ser obtidos por via de subornos. Fuminho é justamente apontado com tendo arregimentando uma rede de funcionários prisionais em sua sinistra folha salarial.
Ontem, depois que “Carta” publicou a notícia em primeira mão, ela foi logo confirmada pelo Ministério da Justiça brasileiro. E a “mídia” brasileira, grosso modo, noticiava erradamente que a detenção tinha sido feita pela Policia Federal brasileira, quando foram agentes do SERNIC que tomaram as rédeas da operação (NE: nenhuma autoridade estrangeira tem o poder de dar ordens de detenção em Moçambique).
Sérgio Moro, o ministro da Justiça, faria uma comunicação mais prudente. Ele disse que a detenção decorreu de uma operação conjunta entre a Polícia Moçambicana, o DEA (Drug Enforcement Agency, dos EUA) e da Polícia Federal Brasileira. As autoridades moçambicanas ainda não se pronunciaram. Uma comunicação poderá ser dada hoje, clarificando-se muitas das pontas soltas sobre as circunstâncias da chegada ao país e da actuação de Fuminho em Moçambique. Sérgio Moro espera que Fuminho seja extraditado para o Brasil, o mais rapidamente possível. (O.O. e M.M.)