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quinta-feira, 28 novembro 2019 05:43

Pagamento de subornos pela Privinvest: “Lista dos 21” é idêntica à da PGR, de 2016

As 21 figuras da “entourage” do antigo Presidente Amando Guebuza (ele também incluido) e da gestão da Ematum, que alegadamente constam de uma lista de transferência de subornos por parte da Privinvest para Moçambique, são as mesmas que constam de uma lista que a PGR elaborou em 2016, solicitando o levantamento de sigilo bancário dos visados, para efeitos de investigação.

 

A lista foi publicada na segunda-feira num artigo da Lusa (Agência de Notícias portuguesa), reproduzido na “Carta”. De acordo com a Lusa, a lista foi mostrada durante alguns segundos na última quinta-feira, nas alegações finais do julgamento que decorre em Nova Iorque sobre o caso, pelo procurador Hiral Mehta.

 

 

Junto à lista foi exibido em email, através do qual um diretor da empresa Privinvest, Naji Allan, procurou alegadamente registar transferências de dinheiro feitas desde 2013 para 20 pessoas e uma empresa em Moçambique. Esse ‘e-mail’ foi interceptado pelos investigadores da Procuradoria federal dos Estados Unidos da América. Aliás, a lista é um anexo desse email.

 

“Anexo um documento relacionado com transferências feitas para ‘consultores’ do projeto moçambicano”, lê-se na segunda linha da mensagem de Naji Allan, depois de explicar que estava a usar uma conta de ‘e-mail’ pessoal (não as contas corporativas da empresa), “devido à sensibilidade da informação”.

 

“Carta de Moçambique” obteve a lista dos 21 e o email (conforme apresentados no julgamento de Jean Boustani em Nova Iorque), com os quais ilustramos este artigo. A lista é a mesma que a da PGR. Recorde-se, em 2016, a Procuradoria Geral da República elaborou uma lista de figuras próximas de Armando Guebuza e da empresa Ematum, ordenando à banca comercial o levantamento do seu sigilo bancário. Em causa estava o rastreio de eventuais valores recebidos pelo visados, provenientes de contas ligadas ao universo de empresas de Iskandar Safa, o “barão” da Privinvest.

 

A PGR encontrou evidências de entrada de valores provenientes da Privinvest nalgumas contas, cujos titulares foram neste ano constituídos arguidos (Ndambi Guebuza, Renato Matusse, Ângela Leão, António Carlos dos Rosário, Gregório Leão e Cipriano Mutota, estes dois da Jociro Internacional). Em relação às restantes 15 das figuras da lista, a PGR (assim como a Kroll) não encontrou nenhumas evidências.

 

“Carta” sabe que a lista foi na altura enviada pela PGR ao Departamento de Justiça americano, junto a cartas rogatórias solicitando colaboração na busca de evidências. Os EUA nunca responderam aos pedidos da PGR.

 

Curiosamente, no julgamento em Nova Iorque, a lista terá sido atribuída à Prinvinvest. Aliás, o email de Naji Allan, que é datado de 2017 (um ano depois da lista ter sido emitida ela PGR), faz referência à relação nominal apelidando seus integrantes de “consultores” do projecto de Moçambique. E há também uma referência à antiga governante e deputada da Frelimo, Isidora Faztudo, levando a crer que ela recebeu valores directamente da Privinvest. Faztudo faleceu a 11 de Junho de 2015, vítima de doença.

 

Para além desse email, e da lista, não foi apresentada no julgamento de Boustani nenhuma prova judicial (ordens bancárias de pagamento, borderauxs) de que os restantes 15 da lista tenham recebido subornos da Privinvest.

 

Entretanto, “Carta” sabe que, para além dos 20 arguidos já acusados no processo local das “dívidas ocultas” (e dos três processos autónomos, um dos quais envolvendo o antigo Governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove) a PGR está em vias de aumentar o número de suspeitos. Ou seja, o número de arguidos vai subir, tendo em conta as recentes revelações em Nova Iorque. (Marcelo Mosse)

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