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terça-feira, 12 novembro 2019 03:03

Ataques em Cabo Delgado: assassinatos, detenções e raptos continuam na ordem do dia

Apesar da forte presença de agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS), as populações dos distritos afectados por ataques “terroristas”, na província de Cabo Delgado, continuam a viver dias difíceis, com os insurgentes protagonizarem alguns ataques, que culminam com a morte de mais cidadãos, deslocação doutros, incêndio de palhotas e barracas de venda a retalho.

 

Os insurgentes emboscaram uma viatura “Mahindra”, das Forças de Defesa e Segurança, por volta das 11 horas do último domingo, na zona da pedreira, no troço Macomia-Mucojo, relatam fontes de “Carta”. Na incursão, eles começaram por atingir os dois ocupantes da frente da viatura, o motorista e um comandante, e a seguir houve troca de tiros entre as partes. O carro capotou e dois agentes morreram. Um terceiro, que contraiu ferimentos graves, foi levado ao Centro de Saúde de Mucojo. 

 

A viatura, que seguia de Macomia em direção a Mucojo e transportava produtos alimentares para abastecer uma posição, ficou em cinzas depois de pegar fogo. Na vila de Macomia, fontes viram, por volta 12 horas, um “Mahindra” vermelho seguindo na direcção do local do ataque, crendo-se que ia prestar socorro.

 

No mesmo domingo, uma viatura civil, de transporte de passageiros, que partira da praça de Macomia em direção a Mucojo, foi forçada a regressar, depois que o motorista foi alertado para a presença de insurgentes na via. Ontem, segunda-feira, a circulação de viaturas no troço Macomia-Mucojo e Quiterajo foi feita, mas com medo. Os carros, que habitualmente chegam a vila sede de Macomia, idos de Mucojo, entre as 6 e as 7, ontem chegaram mas tarde. Alguns transportadores não fizeram a rua.  Fontes acrescentam que, antes do ataque à viatura militar, um grupo de homens armados foi visto a beber água perto dum riacho muito próximo da aldeia Manica, que dista cerca de 20 km da pedreira onde foi atacada a viatura militar. No mesmo local onde foi queimada viatura “Mahindra”, no domingo, um grupo de passageiros que regressava achou uma arma de fogo.

 

 

Incursão e saque a Naleque

 

Outro caso recente, reportado à “Carta”, deu-se por volta das 17 horas do passado dia 07 de Novembro (quinta-feira), 24 horas depois de as FDS terem recebido reforço de militares provenientes de outros quartéis do país, quando o grupo atacou a aldeia Naleque, localizada a cerca de 20 km da Vila-sede do distrito de Nangade. Durante a “incursão”, os insurgentes queimaram mais de 40 casas e saquearam diversos bens e produtos alimentares. Não houve registo de perda de vidas humanas. As fontes contam que, quando os terroristas escalaram a aldeia, a população já não se encontrava no terreno, devido a um alerta telefónico dado por alguns agricultores que acompanharam a “visita” dos malfeitores, quando regressavam das suas machambas.

 

 As fontes asseguram que o ataque, que devolveu o clima de medo no distrito, não teve nenhuma resposta por parte das FDS.Já no dia 08 de Novembro, sexta-feira, o grupo atacou a aldeia Rueia, que dista a 2 km do Posto Administrativo de Mucojo, no distrito de Macomia. O ataque aconteceu por volta das 18 horas e, segundo narram as fontes, os “atacantes” terão, primeiro, disparado vários tiros para o ar e, de seguida, balearam mortalmente um cidadão que, em vida, respondia pelo nome de Mbaguia, comerciante de polvo. Depois, avançam as fontes, os “insurgentes” queimaram 103 palhotas e sete barracas de venda de produtos alimentares. Fontes da “Carta” asseguram que a aldeia de Rueia foi um dos pontos de recrutamento dos jovens que integram o grupo “terrorista”, tendo perdido 20 jovens que, há alguns anos, seguiam teorias islâmicas radicais.

 

Raptos e detenções

 

Enquanto algumas populações são vítimas de ataques “terroristas”, outras vêem seus ente-queridos serem raptados ou detidos pelas autoridades, desde a Polícia até aos militares. É o caso de uma mulher (não conseguimos apurar o nome), residente na aldeia Marere, no distrito de Mocímboa da Praia, que foi raptada na passada terça-feira, 05 de Novembro, alegadamente pelos “insurgentes”, quando se encontrava na machamba.

 

Ainda na semana finda, um jovem de nome Babu, que se dedicava à venda de telemóveis, foi detido pelos militares na aldeia de Miangalewa, no distrito de Muidumbe, e encaminhado para o distrito de Mueda, onde se encontra até hoje. Um cidadão estrangeiro, que integra a equipa que constrói a ponte sobre o Rio Messalo, na estrada Macomia-Awasse, envolveu-se numa briga violenta com elementos das FDS, na vila de Macomia, depois de ter registado, através de uma máquina fotográfica profissional, imagens sobre o ambiente daquele local, algo “proibido” naquele ponto do país.

 

Colegas do indivíduo contaram à “Carta” que os elementos das FDS, que testemunharam o facto, ameaçaram o referido cidadão estrangeiro, o que originou a briga, tendo sido detido e solto horas depois. Refira-se que, na última sexta-feira, 08 de Novembro, durante o encerramento de mais uma formação de sargentos milicianos (15º curso) e sargentos do quadro permanente (10º curso), no distrito de Boane, província de Maputo, o Ministro da Defesa Nacional, Atanásio M’tumuke, exortou os oficiais a tudo fazerem para acabar com a onda de ataques, que já ceifaram mais de três centenas de vidas humanas. (Omardine Omar)

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