Oficiais americanos de inteligência estiveram na África do Sul na semana passada para discutir a situação em Moçambique com seus colegas daquele país. Tensões políticas crescentes e uma revolta civil iminente colocaram Moçambique no fio da navalha, enquanto o país aguarda o Acórdão do Conselho Constitucional sobre as eleições de 09 de Outubro, que o partido no poder, Frelimo, e o seu candidato Daniel Chapo venceram no meio de uma grande controvérsia.
No quadro desta operação, uma enorme aeronave C-17 Globemaster da Força Aérea dos EUA causou comoção em Lowveld, quando aterrou na semana passada no Aeroporto Internacional Kruger Mpumalanga. De acordo com fontes da publicação "Rapport", oficiais dos EUA realizaram várias reuniões com o Comité Nacional sul-africano de Coordenação de Inteligência (Nicoc).
Nós últimos anos, os EUA têm tido uma equipa de treinamento em Moçambique, auxiliando na formação de uma unidade de resposta especializada do exército moçambicano. Ao mesmo tempo, um Airbus A400M da Força Aérea Real do Reino Unido aterrou em Gaborone, Botswana, na última sexta-feira (13). O indicativo de chamada desta aeronave indica um voo operacional de emergência.
De acordo com fontes da aviação, várias reuniões foram realizadas no aeroporto de Lanseria nos últimos dias para discutir a possível evacuação de emergência de várias embaixadas e estrangeiros em Moçambique.
As respectivas equipas na África do Sul queriam garantir que houvesse combustível suficiente em Lanseria para voos adicionais para abrigar os seus cidadãos que podem ser evacuados de Moçambique temporariamente, antes de levá-los para fora do país. Várias agências da ONU e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) estão envolvidas nesses planos, que incluem o fornecimento de ajuda humanitária.
Se forem necessárias, as operações podem ser coordenadas a partir da África do Sul e do Botswana. O Nicoc é composto por representantes da segurança do Estado, defesa e inteligência criminal, bem como do centro de inteligência financeira. Departamentos adicionais também podem estar envolvidos.
O Ministro das Relações Internacionais e Cooperação Ronald Lamola vai-se reunir com a sua homóloga moçambicana na proxima quarta-feira (18) para discutir a situação no país, disse o seu porta-voz Chrispin Phiri.
O governo está particularmente preocupado com as consequências de uma revolta em larga escala e uma potencial crise humanitária e escassez de alimentos.
De acordo com as fontes da publicação, a reunião no Parque Nacional Kruger teve como objetivo a troca de informações, com os visitantes transportados sob rigorosa segurança e escoltados até o Kruger Gate Hotel.
A embaixada dos EUA em Pretória indicou que a aeronave gigantesca é uma das que “apoia o suporte logístico do departamento de defesa para as operações”. Um drone também foi levado ao Aeroporto Internacional Kruger Mpumalanga com o C-17.
A equipa visitou na última quinta-feira (12) o posto de fronteira de Lebombo, onde protestos e bloqueios de estradas em Moçambique levaram camiões a ficarem parados por 30 km de fila.
O posto de fronteira está presentemente aberto apenas para peões e veículos comuns, enquanto vários motoristas de camiões estão ameaçando abandonar as suas cargas. A estrada para Maputo ainda está bloqueada intermitentemente por manifestantes.
No entanto, a Agência de Gestão de Fronteiras da África do Sul disse na sexta-feira (13) que milhares de veículos foram processados de Lebombo para Moçambique. Mais confrontos entre manifestantes e forças de segurança foram relatados na sexta-feira e no sábado em Ressano Garcia.
Fontes informadas na comunidade de inteligência disseram que os americanos e outros funcionários da embaixada em Moçambique já estavam envolvidos num plano de contingência em antecipação à decisão do Conselho Constitucional sobre as polémicas eleições. Essa decisão é esperada pouco antes do Natal.
Partidos de oposição e observadores alegaram que houve viciação em larga escala durante as eleições. Embora os resultados preliminares tenham revelado que a Frelimo venceu a eleição com 70% dos votos, os eleitores acreditavam que isso era impossível.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo partido Podemos, é amplamente considerado o líder que pode finalmente ter derrotado a Frelimo nas urnas. No entanto, é improvável que o Conselho Constitucional decida a favor do Podemos, e isso pode ser a faísca que acenderá o barril de pólvora. Desde então, os moradores vêm organizando a sua própria revolta, que custou a vida de pelo menos 110 pessoas. (Rapport)