Director: Marcelo Mosse

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Recordei e conto o episódio abaixo - verídico e passado há duas décadas - a propósito dos festejos pelo anúncio de 25 biliões de dólares americanos e a renda de dois “bis” anuais, a partir de 2025, resultantes do investimento da Anadarko na exploração do gás da Bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado. 

 

A festa de aniversário prometia. Dos que se deslocaram – comitivas de Maputo, Xai-Xai e Chocwe - fui o último – vindo da capital - a chegar à vila da Macia, província de Gaza. A partida não foi difícil constatar que as marcações ao dito sexo fraco já haviam sido feitas e para uns com antecedência postal. Estava frio e a medida que a madrugada caía exigia maior celeridade às intenções (implícitas) de cada um. Entre os convivas, o Adão e o Neco, procedentes de Maputo, acabaram os protagonistas da festa.

 

O Adão, da “terra do carvão”, saiu da capital com a ferramenta agitada tal era o desejo de estar com a dama com quem trocava cartas de amor e sonhos de uma Lua-de-mel nas margens do rio Zambeze. A sua missão: Chegar, triunfar e regressar com a dama. O Neco, da “terra da boa gente” e auto-intitulado “o charmoso”, trocou o conteúdo local por uma repentina presença americana em trabalho social por aquelas bandas. Ele jurou que cumpriria a sua (nova) missão: Mergulhar pelo Mississippi abaixo. 

 

Por momentos um corte de energia junta as mulheres de um lado e os homens doutro. O Adão estava agastado e impaciente com a sua dama das águas do Limpopo. O seu requerimento ainda não tinha sido deferido. Ela alegava que eles precisavam de tempo, pois era a primeira vez que se viam, embora a correspondência postal fosse longínqua. O Neco, na mesma situação em relação ao deferimento, disse que a “state-girl” preferia uma chuva mais miudinha, agreste e ordinária. Um tchim-tchim encerra a reunião improvisada de feedback e o regresso da corrente eléctrica no exacto momento em que ancorava a 6ª garrafa de whisky entre protestos de uma excursão estudantil sem precedentes. 

 

Eram seis horas quando a noite começou a despedir e a festa a despedaçar. A americana recolheu sem ter sido colhida. As outras, trocadas pelo whisky, rumaram ao “room”. Um amigo, Camito, foi sacudido ao tentar – na escuridão do quarto - uma incursão sem pré-aviso. O Acácio, a namorada aniversariante e uma amiga blindada, namorada de outro amigo que não se fez presente, tomaram os respectivos quartos. O Neco, reclamando da provocação biológica e da fala em vão, bateu em retirada. Do Adão, ninguém sabia. O resto prosseguia com mais uma garrafa e “bis” de doses de frango dados pelo gerente da Pensão em reconhecimento exaltado da volumosa capacidade ébria dos “vientes”.

 

O sol já se fazia presente e penetrava entre as grelhas do salão, ameigando os sobreviventes. Para o espanto destes, entre os raios de sol, ressurge o Adão em grande estilo, tal rei do Zambeze. Pergunto pela dama do Limpopo e ele - em pose majestática - tira do bolso do seu velho casaco azul um “Jeito” (preservativo) já sem jeito. E armado em laureado foi rodopiando o salão, exibindo o asqueroso troféu. Leve e jovial disse que desceu para ver o ambiente e saber se o resto do pessoal teve algum sucesso. 

 

De regresso ao seu quarto e enquanto subia a escada o Adão para e faz um giro, ficando em posição frontal com os sobreviventes. Em seguida acena as mãos como quem solicita silêncio para dar a palavra a “sua alteza”. Feita a vontade, finge uma vénia e com ar petulante e aprumo triunfal, declara: Fiquem com os deliciosos “bis” de frango que eu deleitar-me-ei com outro tipo de “bis”! De seguida, volteou e continuou a subir em direcção ao quarto - ausente durante um quarto de hora – e onde, supostamente, a sua dama reestruturava as condições necessárias para o “bis” anunciado publicamente e com pompa. 

  

-Nãooooo! Não! Nãããoooo...! Era o grito de desespero do Adão que de tão sonoro foi ouvido na Praia do Bilene. Num ápice os mais ágeis chegam a zona dos quartos e encontram-no completamente imóvel à entrada do quarto número quatro. Ele não compreendia e muito menos acreditava na roubalheira que acabava de presenciar: O Neco estava em pleno usufruto do que seria o seu difundido “bis”.

 

  • PS (i): Fica o alerta para que o país não se embandeire em arco como fez o Adão. Urge uma gestão e controle eficaz dos recursos do país porque de contrário têm muito Neco à solta - de dentro, fora e juntos - decididos a usufrui-los de forma subtil, clandestina e até violenta. 
  • PS (ii): De regresso a Maputo um dos amigos sugeriu que o Neco seria um bom reforço para os Mambas, Selecção Nacional de Futebol. Entrar nos últimos 15minutos e marcar um golo (ao estilo de morte súbita) não é para todos. 

Isto só pode ser um acto de desespero ou de falta de estratégia de marketing e mobilização política. Apresentar publicamente Carlos Jeque, com pompa e circunstância, como um grande reforço (o regresso esperado) da FRELIMO é subestimar os esforços daqueles militantes abnegados que tem feito de tudo para carregar o partido. É que Carlos Jeque é uma boia furada politicamente. Não dá para se apoiar nele e pensar que está a salvo. 

 

Convocar uma conferência de imprensa pomposa, com presença do Secretário-Geral do partido, para exibir o regresso de Carlos Jeque como um acto triunfal de um grande militante ferrenho, demonstra claramente um grande desespero para um partido bem estruturado como é a FRELIMO. Carlos Jeque pode - sim - regressar ao partido, mas no máximo devia ser recebido pelo Secretário da Célula do seu bairro sem nenhuma pompa. Não é pelo facto dele ter feito poemas românticos ao falecido líder da RENAMO e seu partido nas últimas eleições de 2014, mas pelo facto de a opinião pública já ter descoberto que Carlos Jeque está numa tentativa de mediar um eterno conflito entre o seu cérebro e o seu estômago, onde, infelizmente, o seu estômago leva uma vantagem basquetebolística a zero. E está vitória retumbante, esmagadora e asfixiante do seu órgão digestivo sobre a sua massa encefálica o deixa, muitas vezes, numa situação de mendigo político e profissional. Ou seja, ele se confunde na hora de decidir. 

 

Nada contra o Carlos Jeque pessoalmente, mas eu acho que a FRELIMO é grande e madura bastante para ver nele uma ajuda valiosa. Carlos Jeque é um cidadão que já mostrou ser politicamente muito instável e, por isso, de pouca confiança. Zanga com muita facilidade e é muito emocionado. Eu disse isso em 2014 quando a RENAMO também fez pompas com o seu apoio que ele próprio chamou de "um acto consciente e patriótico". Foi um apoio que em nada serviu a RENAMO. Carlos Jeque deu a cara e bazou aos seus aposentos e ficou a espera que lhe fosse dado um charuto já aceso e uma taça de vinho cheia. Foi daí que Afonso Dhlakama descobriu que aquele rapaz é muito "fazido". É bolada de gato por lebre. 

 

Hoje Carlos Jeque não é valor acrescentado em nenhum partido. Não é nenhuma mais-valia. Não estou a ver o que Carlos Jeque pode fazer neste momento que acrescente valor à robusta máquina da FRELIMO. Num momento crucial como este, um reforço tem de mobilizar simpatias ao clube e Carlos Jeque não mobiliza ninguém. Uma aquisição que merece pompa é aquela que pode mobilizar novos adeptos e consolidar os antigos, assim como a Juventus fez ao contratar Cristiano Ronaldo: levou alguns adeptos do Real consigo. Carlos Jeque não convence a si próprio e na hora de votar a mão estremece. 

 

Não dá para confiar num gajo que zanga e corre para apoiar a oposição só porque foi destituído de um cargo público. Não dá para confiar num indivíduo que acha que a cara dele num partido é suficiente para trazer votos sem trabalhar. Esse tipo de aquisições pouco estratégicas que a FRELIMO tem estado a fazer nos últimos tempos pode desmoralizar os verdadeiros membros, militantes e simpatizantes e pode afugentar os futuros entusiastas. Dá a impressão de ser um clube de fracassados ou um hospício. 

 

Muito provavelmente, o Tocova tem melhor capital político para mobilizar simpatias do que Carlos Jeque. Este último parece mesmo gonazololo fora do prazo e mal conservado. O máximo que pode fazer é dar uma boa diarreia. Confiar no Carlos Jeque numa hora dessas é o mesmo que abraçar um saco de pedras no Titanic.  

- Co'licença!

quinta-feira, 20 junho 2019 06:35

*As partes ocultas do Orçamento de Estado*

Hoje desadormeci com sequelas da comparência numa das badaladas casas de pasto da “cidade dos urinóis nas acácias” por ocasião comemorativa (e antecipada) de mais uma data da (in)dependência da Pérola do Índico. Um momento que serviu para rever amigos e botar a conversa em dia. O que acontece com as conclusões destas conversas é matéria restrita a cada um dos amigos. 

 

Desta vez – na conversa - uma parte considerável dos presentes, e a propósito de uma discussão sobre as “dívidas ocultas”, tinha em comum o facto de terem participado numa sessão de formação - nos anos 2009/10 - sob o tema: “As partes Ocultas do Orçamento de Estado”. A ideia fundamental da formação consistia em dotar os participantes do necessário arcaboiço técnico para descortinar - no Orçamento de Estado (OE) - itens secretos (qualquer semelhança com “a nossa secreta” é mera coincidência) que à primeira vista não são detectáveis. Algo do tipo “gungu, apanhei-te” das saudosas brincadeiras de infância. 

 

O principal resultado da formação foi o estabelecimento de uma brigada de activistas-observadores do OE determinada a detectar movimentos estranhos dentro e arredores do OE, uma vez que este havia passado a centralizar a divisão do Bolo Nacional e cada vez mais com (dis)sabor estrangeiro. E face a tudo o que se sabe sobre o dossier das “dívidas ocultas” - durante o debate - os membros desta brigada foram sumariamente vaiados acusados de falta de brio e entrega no exercício da magna e soberana tarefa. A discussão não desaguou em pancadaria graças ao elevado nível de urbanidade e a tradicional troca acalorada de ideias no seio da sociedade civil, uma característica que se recomenda. 

 

Dentre os que vaiavam havia um estratega de assuntos de defesa orçamental que não poupou críticas ao desempenho da brigada. Não obstante, esclareceu que a brigada foi traída pela geografia e a proximidade geopolítica inter-institucional do local onde se localiza as instalações do OE. Argumentou que o facto do foco da terminologia do assunto da operação – “pescas-guerra-negócios-banco-mar”- encontrar-se dentro do perímetro do último anel de segurança do “Palácio dos Arcos”, o “Bunker” do OE, na baixa da capital do país, confundiu os códigos do sistema de controle montado pela brigada de activistas-observadores

 

Em sua defesa, a brigada justificou que tal proximidade é um facto e seria contornada. Assim não sucedeu porque a razão-mor foi a manifesta incompetência técnica e regimental que não permitiu agir e nem reagir, atendendo que i) os módulos do curso sobre as partes ocultas do OE não abarcaram matérias relacionadas com a detecção de movimentos ilegais, prévios e a posterior, e ii) nos termos da acusação da PGR, o destino íntimo dos valores de parte da dívida escapa a esfera da jurisdição da brigada.

 

Os motivos arrolados, entre vários de bradar aos copos e prontamente honrados pelo garçon ”… aqui nessa mesa de bar/…no bar todo o mundo é igual/Meu caso é mais um é banal/Mas preste atenção por favor/…/Quero tomar todas/Vou me embriagar/…/Se eu pegar no sono/Me deite no chão/…” que minha grande esperança deixou em pedaços minha soberania. Quando acabei de cantar todo o mundo, em deleite colérico, gritou uníssono: O que fazer, Reginando? Antes de responder o bar fechou. 

 

No acerto das contas, sempre problemáticas, ficou no ar e por fonte reputada que um consórcio tripartido (Doadores, Governo e Sociedade Civil, incluindo o Sector Privado) decidiu e realizou um seminário de planificação de estratégias, concluindo que era necessário mais uma formação para acompanhar o actual contexto e as “ameaças” decorrentes dos propalados biliões do gás que engordarão o OE num futuro próximo.  

 

Os Termos de Referência já foram elaborados, faltando a contratação de uma firma de consultoria a fim de ministrar um curso intensivo subordinado ao tema “As partes Íntimas do Orçamento de Estado” cuja finalidade é a formação de uma brigada de analistas-patrulha do OE. Esta brigada será devidamente apetrechada, incluindo dispositivos de gás lacrimogénio para rechaçar o olfacto dos apóstolos domésticos pelos biliões do gás do Bolo Nacional que terá cada vez menos (dis)sabor estrangeiro a partir de 2025.  

 

PS (i): Oxalá a firma de consultoria não seja a ferragem da esquina e contratada por ajuste oculto de natureza íntima.  

 

PS (ii): Se a brigada de analistas-patrulha não trouxer resultados é recomendável que o país aposte no que de melhor sabe fazer e comece a lucrar pelo mundo com a troca experiências e consultorias sobre “As Partes Carnudas do Orçamento de Estado” 

quinta-feira, 20 junho 2019 06:33

Quanta falta de vocês, nossos gatunos!

Estão aí 25 bilhões de dólares norte-americanos a caminho de Moçambique e nós não temos a nossa equipa de gatunos em pleno funcionamento. Assim quando o dinheiro começar a entrar nós só vamos olhar e lamber os beiços porque decidimos levar os nossos gatunos de alto nível aos calabouços. Destruímos a nossa coleção de gatunos de confiança e hoje os americanos estão a nos humilhar com dinheiro deles. 

 

Quando eu dizia que esses americanos, em conluio com os nossos vizinhos e cunhados sul-africanos, estavam a destruir o nosso acervo de gatunos de estimação, pensavam que estava a fazer bleff. E agora está aí!!! Hoje somos um país sem gatunos a sério em exercício. Perdemos a nossa identidade. Somos uma vergonha continental. 

 

Em termos de reservas de gás, somos os maiores do mundo, mas em pilantragem especializada - em pleno exercício - somos um zero à esquerda. Isso tudo por causa da nossa ambição desmedida de sermos iguais aos ocidentais que são transparentes. Transparentes, o tanas! Eles que fiquem com a transparência deles. 

 

Destruíram a nossa turma mais confiada e hoje estamos aqui sem beira nem eira. O grande campeonato chegou e os nossos gatunos estão distribuídos em prisões, onde o craque está no estrangeiro em démarches de exportação. Os que ainda andam soltos estão a tremer de medo porque sabem que morremos de desejo de vê-los dentro também. 

 

Isso é falta de auto-estima. Carestia de patriotismo. Por falta de amor próprio, entramos na onda de malta Kroll. Afinal, eles sabiam que vinha aí uma grande "Txampions". Sabiam que, com a seleção que tínhamos, íamos esmagar essa mola em dois tempos. Com aquela equipa, 25 bis de verdinhas é moleza.

 

A grana está a caminho e nós ainda não estamos organizados. É nesses momentos que é preciso ter um excedente de gatunos profissionais no stock. Ou será que até 2025 vamos a tempo de construir uma equipa daquele nível? Ou será que os gatunos-nabos que ainda estão em exercício vão se revelar bons gatunos num futuro próximo? Ou será que vão precisar de aulas à distância? Ou será que o Chang voltará a tempo de nos salvar dessa grande vergonha? 

 

Ai,  ai,  ai... Quanta falta de vocês, nossos gatunos! 

- Co'licença! 

quarta-feira, 19 junho 2019 07:04

A Nação precisa de conversar!

No presente texto defendo a ideia de que faltam  na nossa sociedade espaços de debates públicos abertos e descomplexados, sobre inúmeras questões-chave que deveriam fertilizar as visões e estratégias dos partidos políticos e do conjunto da sociedade, na perspectiva de enformar as grandes opções políticas do novo ciclo de governação2020-2025. Considero que têm faltado platormas abertas e inclusivas de debate apartidário de ideias, incluindo através dos meios de comunicação social de um modo geral, e do sector público, em particular. No melhor dos casos, há pessoas sentadas em salas de hotéis falando sobre si mesmas ou promovem-se conversas amenas de glamor... nas televisões!

 

As eleições como oportunidade de debates de fundo

 

Moçambique está nas vésperas das suas sextas eleições gerais multipartidárias: de escolha dos deputados da Assembleia da República, do Presidente da República e dos membros das Assembleias Provinciais, de cujas listas vencedoras se vão eleger, e pela primeira vez, os governadores de provincia. Trata-se, pois, de um processo inédito, na senda do alargamento do espaço democrático, por via de uma progressiva descentralização administrativa. Isto é, de devolução gradual de poder aos cidadãos.

 

Diz-se que cerca de 40 partidos políticos deverão inscrever-se para concorrer!

 

Uma breve retrospectiva deste processo, cujo ponto cimeiro foi a revisão constitucional de 2018, traz-nos à memória, como ponto de partida, a crise política pós-eleitoral de 2015/2016, marcada, entre outras, pelos seguinte exigências  sucessivas da Renamo: constituição de um governo de gestão; decapitação do Estado Unitário, com a desanexação de seis provincias ,a serem governadas pela Renamo; de permeio com emboscadas contra conversações em curso, seguindo a digressão nacional paralisante de Afonso Dhlakama, para  tudo culminanar com a  “presidencialização” do diálogo Governo-Renamo, o qual vai ser simbolizado, enfim, pela histórica subida à serra da Gorongoza, pelo Chefe de Estado, Filipe Jacinto Nyusi!

 

Entretanto, o principal resultado da presidencialização do dialogo – que deixou em terra  exautos mediadores – vai ser o acordo sobre a descentralização administrativa do país, consagrado através de uma revisão constitucional pontual, mas cuja formulação haveria de ser entregue a grupos tecnicos, e mais tarde imposta ao Parlamento, por acordo entre as cúpulas partidárias com maioria de assentos na chamada Casa do Povo! Tudo isto ocorrendo sob a ameaça de armas de guerra de um dos partidos com assentos no Parlamento e para cuja conformidade constitucional e legal “definitiva” vai ser acordado um célebre programa DDR : desmobilização, desmilitarzação e reintegração das forças militares desse partido, que têm continuado a sobrar, desde o Acordo de Roma de 1992!

 

Em paralelo, a nação moçambicana vive uma das mais traumáticas crises de governação alguma vez por si experimentadas: a crise originada pela revelação internacional de dívidas externas milionárias, contraidas pelo governo anterior, em arrogante e clamorosa violação da Constituição da República e da lei orçamental! Pior ainda: para encobrir um odioso esquema de corrupção de alto nivel, com tentaculares ramificações junto de gestores de topo da alta finança internacional! A crise, com impactos de longo termo, sobre a vida dos mocambicanos e a reputação do Estado junto da comunidade internacional, vai conhecer um momento juridico-constitucional dramático, com declaração da nulidade dos respectivos instrumentos e correspondentes negócios, pelo Conselho Constitucional! Consumava-se uma enorme vitória do constitucionalismo nacional, impulsionado pela Sociedade Civil! E a nação vai tapar os olhos, envergonhada com a nudez das suas mais nobres instituições!Seguir-se-ia, haja ou não relação de causa e efeito, a renúncia do cargo de Presidente deste orgão, por parte do seu titular, o Dr. Hermenegildo Gamito!

 

E as catanas de recursos minerais decapitando camponeses inocentes em Cabo Delgado e provocando insónias às mulheres da Ilha Olinda e de Cassoca?

 

E como se de caixa de pandora se tratasse, ainda viriam os mais graves desastres naturais de que o país – que ja sobreviveu a muitos! – tem memória: os devastadores ciclones Idai e Kenneth, com o seu largo rasto de mortes e de destruição de infra-estruturas económicas e sociais, no centro e norte país!

 

Ora, quer directa, quer indirectamente, é por debaixo deste longo e sufocante manto de desafios  de governação da Nação que estas sextas eleições se vão realizar!

 

Qualquer destes assuntos transporta consigo impressionantes debates, quer eles  correspondam a resultados imputáveis a conduta humana, quer derivem de fenómenos naturais apenas remotamente susceptiveis ao controlo soberano dos moçambicanos, mas  tão complexos como  raramente seriam encontrados em qualquer  outro país do mundo!

 

Como aborda-los, numa perspectiva de debate público que torne as eleições uma oportunidade de mobilização nacional para a construção de consensos, o mais amplos possíveis, sobre o que possam ser considerados designios comuns e  unificadores da nação?

 

O que todos esses partidos políticos pensam destas questões, que marcam o devir colectivo dos moçambicanos? Que sistemas ou modelos de sufragação dos seus projectos de governação os partidos políticos estão a usar ou pretendem usar, no quadro destas eleições?

 

Como podem, os partidos politicos, na senda do periodo eleitoral, e  ao lado de outras forças vivas  da sociedade, contribuir para os estimular a  identificar os novos factores de Unidade Nacional?

 

O que movimentos sociais, representados por grupos organizados de cidadãos (vulgo organizações da sociedade civil) pensam de tais questões de fundo, que se referem a instituições, sistemas e modelos e cultura de governação?

 

Que modelos ou formatos programáticos podem os orgãos de comunicação social adoptar, para que sejam, efectivamente, plataformas privilegiadas de circulação e de confronto aberto de diferentes correntes de opinião na sociedade?

 

A nação precisa de se ouvir! A nação precisa de sentar à mesa e...falar!

 

Termino com uma proposta de tema geral de debate público nacional, que pode ser iniciado por qualquer sector da sociedade, incluindo órgãos de comunicação : Afinal o que mais divide os moçambicanos?

 

A Nação precisa de conversar!

O que me impressiona neste homem muito conhecido na cidade de Inhambane, é que o álcool, na verdade, como diria o escritor e jornalista Baptista Bastos, reconforta-lhe  e ajuda-lhe a aclarar as ideias. Quanto mais embriagado, mais lúcido. O mais espantoso porém,  é perceber que ele anda bem informado e actualizado, apesar de se saber que não pára de beber nas barracas onde passa a vida. A que horas lê os jornais e vê televisão? Mas sabe tudo o que se passa à sua volta e no mundo, por isso todos querem estar junto dele para lhe ouvir. É o paradigma da juventude.

 

É notável na leitura dos tempos. Já disse uma vez que as chuvas que caem sem parar na arena política, são tão persistentes que estão a inundar, aos poucos e poucos, o poder. As águas andam pelas narinas deles. Daqui a pouco estarão sufocados, pois não há sinais de que a precicipatação vá parar para permitir que os níveis baixem. Isso não vai acontecer.

 

O actor que fala torrencialmente, como a própria chuva, com pequenos intervalos para molhar as goelas que nunca se fartam, chamou como exemplo a hidroeléctrica de Cabora Bassa, que tem descarregadores  projectados para evacuar a água da albufeira em tempos de chuvas abundantes. Para além destes canais, há uma outra comporta lá em cima, de reserva, que se pode abrir, se porventura houver ameaça de as águas deitarem à baixo um dos colossos energéticos de todo o mundo.

 

As comportas do poder, de acordo com o homem que fala com a alegria proporcionada pelo etílico,  estão a submergir, e não  parece que eles tenham alguma de reserva. O pior é que  continuam a fingir que está tudo bem, mas a chuva contraria-lhes. Não pára de cair sobre as suas fortalezas, tornando os seus discursos instáveis. Mas tudo isso resulta do terramoto provocado pelo sentimento de revolta popular. E eles estão a sentir isso. Têm medo.

 

Para este personagem que nos convoca nas tertúlias, o Presidente Filipe Nyusi perdeu a oportunidade neste mandato, de marcar o terceiro momento de vulto na história do nosso País. O primeiro momento foi a Independência Nacional em 1975. O segundo foi o Acordo-geral de paz em 1992, onde todos nós aprendemos que a guerra é por demais nefasta para voltarmos a desejá-la. Nyusi poderia ter lutado para fazer algo notável. Algo extraordinário. E sair de peito aberto . Mas até aqui não nos parece que tenha conseguido justificar que a história de Moçambique o coloque no pedestal.

 

O ex- Presidente Armando Guebuza, citando as palavras do nosso “astro”, pelo menos tinha discursos bem arrumados. Falava bem. O que não sabemos é se fazia também bem as coisas. Parece que não. Mas deu-nos uma base, a partir das suas intervenções, para o descontruirmos. Guebuza tinha erguido um edifício, agora demolido pela verdade. E o Presidente Nyusi? Qual é o edifíco  que ele já  levantou para avaliarmos a sua qualidade? Esta é a pergunta que fica perante um jovem engenheiro, que nos animou à todos, no seu discurso de tomada de tomada de posse. E dele esperávamos o terceiro maior momento do nosso país.