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domingo, 06 novembro 2022 11:59

JORGE VIEGAS, 75 ANOS

NelsonSaute

O Poeta Jorge Viegas, de seu nome completo Jorge Alberto Viegas, nascido em Quelimane, a 6 de Novembro de 1947, faz hoje 75 anos. Publicou, muito jovem, aos 19 anos, em 1966, “Os Milagres”, o seu livro de estreia. Seria, porém, ao ver os seus poemas estampados nos cadernos de poesia “Caliban”, editados por João Pedro Grabato Dias e Rui Knopfli, dois nomes importantes da nossa lírica, que se sentiria reconhecido como poeta. Não é caso de somenos importância: estava acompanhado de José Craveirinha, Rui Nogar, Sebastião Alba, João Pedro Grabato Dias, Rui Knopfli (para citar os nomes locais), ou Jorge de Sena ou T.S. Eliot (traduzido por Knopfli e apresentado por Eugénio Lisboa). Isto em 1971, no ano em que o jovem promissor está à beira dos 24 anos.

 

Quando publica “O Núcleo Tenaz”, a sua obra mais significativa, na mítica colecção Autores Moçambicanos, do INLD, na brevíssima nota biográfica, na contra-capa da obra, este facto (a sua colaboração nos cadernos “Caliban”) merece destaque. Não refere aí o seu livro primaveril. Do autor vai constar ainda o facto de exercer as funções de Director de Finanças, em Nampula, onde então residia. Estávamos em 1982, Jorge Viegas tinha 35 anos. Começara, porém, a experimentar as amolações da revolução. Vivíamos tempos alvoroçados. Abatido, exaurido, fatigado, profundamente doente, aparta-se da Pátria, no ano seguinte.

 

Do meu país as aves se ausentaram / e com elas se foi a vida, a alegria. / E os poetas, nos versos que cantaram, / foram pássaros de morte e de melancolia”. À esta distância, eu diria que estes acerados versos subscrevem o anátema do nosso destino individual e colectivo. A despeito, um poeta capaz de semelhantes versos tem direito a habitar a nossa mitologia literária. Jorge Viegas, avaro e escasso, rebelde e tenaz, indômito e soturno, eufórico e taciturno, canta sempre a vida e a morte, proclama a liberdade, ama voluptuosamente as palavras. Nos tempos em que a revolução concitou o seu entusiasmo teve dele uma adesão comedida. Nunca foi panfletário, sempre um subversor da linguagem.

 

“O Núcleo Tenaz” inicia com um poema que traz uma epígrafe que é também uma espécie de programa ou, até, epigrama: “A Pátria está nos livros que eu não li”. Este poema, sem título, evoca, no seu primeiro verso, o Poeta, que enuncia: “As pátrias nascem, crescem, / vivem dentro de nós.” Mais adiante em “Fala de um guerrilheiro”: “Neste tempo de susto e de loucura, / Tempo de fome e tempo de amargura / A Pátria cresce em nós num sonho puro.”

 

Acto contínuo, na página seguinte, o poeta da “Subversão” prescreve o tom da insurreição: “O pintor subverte a paisagem. / O poeta subverte os planos da linguagem. / O guerrilheiro subverte os homens sem mensagem. // Subverte. Subvertemos. / Subvertidos fomos. / À subversão devemos / A estatura do que somos.” Sublinho: “À subversão devemos / A estatura do que somos”. Este poema, este tom subversivo, esta sublevação poética, também seriam o mote da geração que viria a despontar nos anos 80 quando esta obra foi publicada. Alguns dos poetas da minha geração – Eduardo White sobretudo – reclamam-no. “O Núcleo Tenaz” foi, para alguns de nós, uma espécie de breviário.

 

Era o tempo no qual “o inimigo move-se no arco dos azimutes”, tempo onde: “Baionetas caladas / Perfuram a noite. / Permaneço de pedra. / Transmudado em basalto”.  Isto na “Canção de Bagarila”, dedicada a José Craveirinha. Aliás, as dedicatórias neste livro para além de denunciarem laços poéticos inextricáveis, são uma espécie de cartografia lírica do autor. A Sebastião Alba dedica-lhe Jorge Viegas o poema que dá título ao livro onde estão inscritos estes versos: “Com o poema / abriremos a noite, / jugularemos o medo.” “Porque o poema é sempre / (mesmo o das palavras mansas e amáveis) / o núcleo tenaz / duma revolução.”

 

Poesia que adere ao sonho sem ser necessariamente panfletária. O fervor da revolução numa escrita vigiada obstinadamente. Parece que estamos perante uma contradita? “Ao escreveres um poema / articula bem as palavras, / todas as palavras necessárias, / para que elas permaneçam intactas / não na brancura do papel, / mas grafadas, indelevelmente, / na memória dos homens”, conclama Viegas.

 

Provavelmente, o verso que cito a seguir resolva o paradoxo de uma poesia engajada que não é necessariamente panfletária: “As palavras estão no começo e no fim de todas as cousas”. Creio que está aí a chave. No texto “Poema” diz o poeta: “E canto. / E evoluo nas minhas coordenadas. / “Que os humanos se matem às dentadas” / Pois que, por enquanto, / eu escrevo poemas para mulheres sentadas”.

 

Nos primórdios da década de 80, a revolução revela algumas fissuras e começa a conhecer-se-lhe um certo refluxo. Uma brutal e indisfarçável crise social denunciava-lhe o impasse. Não deixa de ser admirável, neste contexto, a afoiteza do poeta. Neste mesmo livro, o tom lírico, que ao tempo era uma espécie de sublevação, vai-se acentuando: “O teu corpo de planos e derrotas, / Onde esvoaça à pura luz da aurora, / A exilada sombra das gaivotas”. (“Guida”). Ou: “o amor fende as águas da melancolia”. Ou ainda: “Há um lugar de sombra nos teus olhos. / Nesse lugar me deito e adormeço.”

 

“O Núcleo Tenaz” é também um livro de desencanto. Num texto ominoso, dedicado a Rui Knopfli (“Círculo de Sombra”): “A minha alma é um círculo de sombra. / Os meus poemas são a pálida mensagem / dum homem melancólico. Se sou poeta, / decerto não sou do tempo presente.” Há lugar para uma certa distopia aqui. “Escrevo poemas de amor, e os meus poemas / não conduzem os povos à contestação. / Gosto de passear nas ruas a antiga liberdade / que eu sei haver nos poetas que mais amo”. É um dos mais belos e pungentes poemas deste poeta moçambicano.

 

Esta inflexão acentua-se no poema seguinte: “Eu escrevo poemas, / somente para fugir à sedução, / ao trágico pendor da minha alma / por uma poça negra, / tão funda como a morte”. Aqui está o desengano. Em “A Esperança Aracnídea”, dedicado a Rui Nogar: “No espaço de sombra / das palavras que escrevo / o futuro é ilegível”. Ou mais adiante: “Sobreviventes do naufrágio de nós mesmos”. Torna-se flagrante este dissídio quando em “As palavras são poucos” o poeta escreve: “As palavras são poucas / para explicar o cansaço, / o desânimo de estarmos / inevitavelmente vivos.”

 

“O Poeta / é o que tem a memória límpida de alguns lugares / onde não foi em data nenhuma a sua vida.” Eu diria que este livro que vai da adesão à revolução à disforia aquando do seu refluxo é, ao mesmo tempo, belo e lancinante, melancólico e profundo, escrutina ou perscruta, o mais profundo do seu ser.

 

O livro seguinte, “Novelo de Chamas”, publicado em 1989, em Lisboa, pela ALAC, de Manuel Ferreira, experimenta os limites dessa circunstância biográfica adversa do autor, marcada pela exaustão, pela descrença, pela prostração, pela angústia e pela tribulação. Mesmo quando afirma em “Brancura viva”: “Da obscura noite do sonho / nasce a brancura vida do poema”, o que encontramos neste livro profundamente taciturno? “Sinais de morte?”

 

No poema “Necrologia” parece chegar-se ao limite do paroxismo: “Acaba de morrer / na sua residência circular / de Illinois ó Prata, / o poeta moçambicano / Jorge Viegas. / Paz à sua alma”. “Nenhuma aspa de luz me ilumina, / nenhum deus vela à minha cabeceira.” Poesia agoirenta, aziaga, sinistra, consternada, amargurada, sorumbática, agónica.

 

Mas sempre uma poesia reveladora do seu alto estro, capaz de versos sublimes: “fina haste de melancolia”, “os açulados nervos da linguagem” ou “a fúria vocabular de deus”, entre outras tiradas, que denunciam o conseguimento daquilo que o poeta alvitra ser “a tentativa de fazer / com as palavras, / o que a Ralenkova / faz com o arco”.

 

Para além destas obras, os poemas de Jorge Viegas estão coligidos em “No Reino de Caliban III” (1985), de Manuel Ferreira, na “Antologia da Nova Poesia Moçambicana” (1993), que co-organizei com a Fátima Mendonça e em “Nunca Mais é Sábado” (2004), antologia de poesia moçambicana. “Novelo de Chamas”, publicado há 33 anos, foi a sua última obra conhecida. Foi nessa época em que o conheci pessoalmente e tivemos um cordial embora limitado convívio.

 

Num texto mítico (“Notas para a recordação do meu mestre Fonseca Amaral”), o Poeta Rui Knopfli escreve: “Fonseca Amaral é, por direito e mérito próprios, um dos nomes mais altos e representativos da Poesia em Moçambique e, simultaneamente, por desleixo ou abulia, um dos menos conhecidos e apregoados, espécie de grande ausente nos vários certamos em que vamos acrescentando pátina às nossas acanhadas glórias caseiras”. Eu diria exactamente o mesmo de Jorge Viegas. Proferiria as mesmas palavras. Esta efeméride, os 75 anos do Poeta Jorge Viegas, constitui, por conseguinte, um facto literário importante e um pretexto para o lembrar e celebrar.

 

No texto que redigiu para o prefácio de “Novelo de Chamas”, Luís Carlos Patraquim diz o seguinte deste poeta muitas vezes omisso entre nós: “É esse Ser, esse deus ou deuses plurais, que desde longa data vêm habitando a Poesia deste Jorge Viegas, ora sarcástico, ora terrível, ou angustiado como um dos escolhidos para descobrir no deserto o maná da sua travessia”.

 

No poema “A loucura”, Jorge Viegas escreve: “De louco e de poeta / todos temos um pouco. / Mas eu tenho mais de louco”. Isto é óbvio sarcasmo. No entanto, este poderia ser um epigrama da vida, da biografia ou do destino deste poeta que escreve dolorosa e profeticamente estes terríveis versos: “No meu país / a única forma de liberdade permitida / é a loucura”.

Adelino Buqueeeee min

“Toda a Sociedade está avisada, pelo que se dá a entender, todos estamos à espera que um milagre aconteça, mas, não haverá milagre, no caso de não haver intervenção de pessoas de bom senso nesta greve anunciada. E não venham lamentar os efeitos da greve dos médicos depois, como se costuma dizer em casamentos (pronuncie-se agora ou cale-se para sempre). Onde andam as confissões religiosas? As ONGs! Personalidades renomadas da nossa terra?! Será que não sabem do aviso dos médicos? O que fazem para aproximar o Governo da AMM”

 

AB

 

O alerta está dado, com efeito, a reunião nacional dos médicos, realizada a 28 de Outubro, anunciou a convocação de uma greve geral entre os dias 07 a 28 Novembro de 2022, considerada a 3º greve geral dos médicos de Moçambique. Por aquilo que se deixa notar, ninguém está a levar a sério esse aviso da AMM e não existe sinal de aproximação dos Governantes a esta classe importante da nossa sociedade. Antes pelo contrário, parece existir um movimento intimidatório à classe. Veja o aviso emitido pela AMM abaixo!


“Qualquer tentativa de violação do exercício do direito à greve, incluindo as tentativas ou consumação de ameaças ou coação, bem como a substituição dos médicos em greve por outros profissionais que à data da convocação da greve não estavam afectos a estes locais de trabalho (violação do número 8 do artigo 202 da Lei do Trabalho) levará à mudança das directrizes constantes neste documento  [Directrizes da 3ª greve nacional dos Médicos], com consequente paralisação total de todas as actividades médicas, incluindo os serviços mínimos”


In AMM


Numa altura em que o tempo parece concorrer para a existência de improviso na procura de solução para um assunto bastante sério, pessoalmente, penso que não devemos esperar que sejam somente os governantes a resolver esta crise. Todos nós, como sociedade, somos convocados a dar o melhor para evitar o pior, não valerá a pena vir, depois da consumação da greve, dizer que “lamentamos as mortes de cidadãos nos Hospitais públicos”. Sim, porque será nos Hospitais públicos onde poderá acontecer a hecatombe! Veja o alerta da “Carta de Moçambique” abaixo.


“Na próxima segunda-feira inicia o primeiro capítulo daquela que pode vir a ser a maior greve dos médicos de todos os tempos em Moçambique. Perto de 2.500 médicos moçambicanos são convocados a participarem, em todo o país, da terceira greve geral da classe, convocada no passado dia 27 de Outubro, em reunião nacional da AMM”


In Carta de Moçambique de 03 de Nov. Edição nº 990


Muitas personalidades poderão ajudar na resolução das diferenças entre os Médicos de Moçambique e o Governo em relação à TSU, a começar mesmo pela Assembleia da República, passando por instituições da sociedade civil, como sejam as Igrejas, as ONGs podem dar a sua mão na solução deste assunto. Repito, não valerá a pena vir, depois da eclosão da greve, lamentar os efeitos da mesma, se estão indiferentes com relação à prevenção!


Em relação à estratégia de comunicação do Governo relativamente à TSU, as críticas são várias, mas, neste momento, na fase em que as coisas se encontram, qualquer crítica não resolve o problema, a saída mesmo é encontrar a solução. O mal está feito e todos sabemos, não vale a pena repetir a mesma coisa, vamos sair para a solução. Como evitar o pior desastre humano na nossa pátria de Heróis!



Adelino Buque

 MMNOVA22

Os funcionários das Finanças devem comunicar melhor. E dar a cara. Como os médicos fazem.  E dizerem claramente que eles estão contra duas coisas, essencialmente: eles eram os únicos funcionários do Estado que ganhavam salário mais 75% de subsídio. Esse 75% foi revisto em baixa. Justamente. Nem os médicos tinham esse privilégio. 

 

A segunda razão é que eles notaram que, na TSU, a discrepância entre o salário de um técnico e de um director era abismal. Reclamação justa. 

 

Entretanto, a demonstração de ontem abriu um precedente que levanta uma reflexão: a sindicalização da função pública. Em tempos de democracia, e a TSU mostra isso, é urgente que os funcionários públicos estejam enquadrados numa organização de classe que sirva também de interlocutora do Governo.

NandoMeneteNovo

A sociedade civil moçambicana organizada, e não só, entende que a proposta de lei das organizações, a ser aprovada nos termos em que se apresenta, será um retrocesso para o exercício da liberdade de expressão no país. Que “Isto é muito mau” não restam dúvidas, sobretudo porque se receia o regresso à ditadura.

 

Contudo, por outro lado, há quem entenda que esta proposta será um sucesso porquanto, entre outras coisas, promoverá a indústria cultural e criativa nacional que, em abono da verdade, carece de um grande empurrão.  

 

Sobre a plausibilidade do empurrão (a aprovação da proposta de lei em questão) Chico Buarque, cantor e compositor brasileiro, um dos recentes laureados do prémio camões, que se referindo aos tempos da ditadura no Brasil, disse: “Feliz a ditadura porque me fez poeta”. Isto em alusão ao exercício criativo de esconder o sentido das palavras nos versos das suas composições.

 

Nesta linha cultural, e ainda dos tempos da ditadura brasileira, é de lembrar o trecho “Pai, afasta de mim esse cálice” da música “Cálice”, um clássico de Buarque e Gilberto Gil. Por cá, tenho em mente, dos tempos da dita ditadura que se teima que regresse, uma música de Fernando Luís que a dada altura diz: “Peço um pingo de chuva para molhar a garganta seca”. De Angola, dos tempos da respectiva ditadura, o Bonga: “Comeram a fruta e caroço dela ficou no chão”.

 

Ora, se assim for: se esta proposta de lei das organizações, a par de outras, em forja, e no mesmo diapasão, como a da comunicação social, uma vez aprovada e implementada, venha a produzir monstros culturais do calibre dos citados acima é caso para repensar.

 

Oxalá, no mínimo, e para começar a reflexão, que seja convocada uma “Conferência Nacional sobre o Potencial Impacto (da proposta) da Lei das Organizações na Indústria Cultural e Criativa Nacional”. Certamente que seria um bom ponto de partida. Posso moderar (risos).

MoisesMabundaNova3333

O 12 de Outubro deste ano foi um dia triplamente especial! Foi/é o Dia do Professor Moçambicano. Foi o dia em que, no distante ano de 1977, os primeiros 1200 estudantes moçambicanos partiram para Cuba para prosseguirem com os seus estudos. E, terceiro, neste ano, passam precisamente 45 anos depois da “façanha”, desse acto extraordinário protagonizado pelos governos cubano e moçambicano, dirigidos na altura, respectivamente, por Fidel Castro e Samora Machel! Neste dia, há 45 anos, os dois chefes de Estado visitaram, pela primeira vez, as “escolas moçambicanas" em Cuba. E esta foi, diga-se em abono da verdade, a primeira experiência no mundo inteiro de envio de estudantes secundários de um país para prosseguirem estudos num outro!

 

Conforme diria o Eng. Castigo Langa, antigo professor em Cuba, durante a visita do Presidente Fidel Castro a Moçambique, a 21 de Março de 1977, o Presidente Samora Machel solicitou ao seu homólogo o envio urgente de professores. Considerando todas as dificuldades que o país enfrentava, nomeadamente a exiguidade de infraestruturas escolares, falta de material didáctico, grande dispersão das crianças, o presidente Fidel Castro entendeu que não seria suficiente enviar professores e, por isso, ofereceu-se a abrir escolas em regime de internato, inteiramente dedicadas às crianças moçambicanas. Tratava-se de um gesto de grande nobreza, uma vez que Cuba não é um país rico. Era o profundo sentido de solidariedade para com outros povos que explicava tamanho sacrifício.

 

Mais pela passagem do 45० aniversário da ida dos primeiros estudantes para Cuba, houve um interessantíssimo colóquio numa das salas de conferências da cidade de Maputo, reunindo mais de 200 pessoas, entre os próprios estudantes, docentes moçambicanos que foram destacados para aquele país, antigos dirigentes e outros em exercício e convidados. Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Graça Machel, Júlio Braga, Zacarias Kupela, Castigo Langa, Tobias Dai, Hama Thai e o actual Embaixador de Cuba em Moçambique são algumas das personalidades que faziam a sala.

 

O leit-motiv do evento foi, como bem disse o Professor José Castiano, um “cubano” por excelência também, olhar para o passado com os olhos postos no futuro. E a questão fulcral foi: qual é o legado deste “glorioso” passado para as gerações futuras? Sobretudo quando, como diria Aniceto Dimas, Coordenador da Comissão Organizadora das Celebrações dos 45 anos da Criação das Escolas Moçambicanas em Cuba, esta geração espreita a terceira idade!

 

O gosto pela pesquisa e o inconformismo na conquista do saber; o sentido de missão, de cumprimento do dever; o amor ao trabalho; o patriotismo, saber viver para a Pátria, ser útil à sociedade através da elevação da consciência política; a solidariedade, o desenvolvimento da empatia; o colectivismo, espírito de equipe, coesão de grupo; e o internacionalismo são alguns dos valores supremos que os 17 mil moçambicanos que se fizeram às terras de Fidel Castro trouxeram/trazem como legado para o país, nas palavras de Dimas. Valores que, de uma ou de outra maneira, vão lamentavelmente escasseando na nossa actual Sociedade.

 

Para o Professor Eduardo Sitoe, a relevância e especificidade do modelo adoptado nas escolas moçambicanas em Cuba radica na clara visão da UNESCO de que “devemos aproximar as pessoas e reforçar a solidariedade intelectual e moral da humanidade, através da compreensão mútua e do diálogo entre culturas”. Outrossim, o cerne desta filosofia residiu na ideia de ter professores cubanos e direcção cubana, mas escolas moçambicanas e a formarem estudantes moçambicanos, uma formação humana integral que garante o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões.

 

E o impacto é claramente incomensurável, segundo o Professor Sitoe. Os moçambicanos formados em Cuba estão em todos os cantos deste país, em diversas áreas de actividade e em diferentes níveis de responsabilidade; todos os estudantes moçambicanos em Cuba são PATRIOTAS; e Samora queria que a oportunidade de ir estudar fosse dada a crianças, pobres mas promissoras, filhos de operários e camponeses. A ideia era deixar a mensagem de que, com a Educação, é possível mudar o destino de crianças e das suas famílias e, por via disso, transformar para melhor o nosso destino colectivo, como Nação e como País.

 

O debate e contribuições foram imensas e riquíssimas - pena que a cobertura jornalística foi parca e desfocada. Quase todas as figuras de proa intervieram e deram as suas ideias, valiosíssimas, sublinhe-se. Uma das ideias foi a do Dr. Edgar Cossa de construção de uma lápide no Parque de Campismo, local onde todos os 1200 estudantes provenientes de todos os distritos do país se concentraram e se despediram do Governo a caminho de Cuba.

 

Intervenção mais emotiva foi a da… Mamã Graça Machel… doutro modo não seria!... Naquela sua sempre voz sibilante e sem papas na língua, declarou-se vigorosamente discordante da colocação de que a "geração cubana”, estando a espreitar a terceira idade, tem somente que transmitir o legado, entregar o testemunho. “Nao aceito isso… o país tem desafios muito grandes, a pobreza absoluta graça em 45 por cento dos moçambicanos; ainda temos regionalismo e tribalismo devastando este país… e vocês falam de estar a entrar para a terceira idade… eu tenho 77 anos, mas ainda estou a lutar e vocês… Vocês, com toda força que têm: estão em todos os distritos do país; estão formados em várias áreas de saber; ocupam diferentes cargos e posições em várias áreas da vida do país… não, não! Não aceito… isso me atravessa a garganta! Vamos lá continuar a dar o nosso contributo a este país!"

 

Uma mensagem muito clara, concisa e directa, inspirada, talvez, em Marcelino dos Santos, o poeta Kalungano, que uma vez disse: “Enquanto houver revolução por fazer, não há tempo nem espaço para morrer”!

 

Muito obrigado, Mamã Graça, pela mensagem cristalina! Fazemos dela nossa!

 

ME Mabunda

Adelino Buqueeeee min

“Qualquer ser humano, antes de ser julgado, merece ser ouvido e, por aquilo que se sabe, Cristiano Ronaldo retratou-se dia seguinte ao incidente e, segundo o “Lance”, pediu desculpas ao técnico Erik Ten Hag, no dia 24 de Outubro de 2022, pedindo sua reintegração no grupo de trabalho. Os pronunciamentos de certas pessoas, como é o caso do Técnico Português do Roma, José Mourinho, não merecem qualquer tipo de consideração. Vamos apoiar a reintegração de Ronaldo na equipe do United!”

 

Adelino Buque

 

“Após ser afastado do Manchester United por conta de um acto de indisciplina, Cristiano Ronaldo teve uma conversa com o técnico Erik Ten Hag. Segundo o "Mirror", o atleta pediu desculpas e busca ser reintegrado ao grupo. O veterano de 37 anos quer melhorar sua forma física para ajudar o clube e, consequentemente, chegar bem à Copa do Mundo. Os Red Devils ainda têm mais seis compromissos antes do torneio no Qatar.

 

Apesar do pedido de desculpas, Cristiano Ronaldo não tem o apoio da comissão técnica e do elenco. O Manchester United abre as portas para que o atacante encontre uma nova equipe para actuar a partir de Janeiro.

 

In Lance de 24 de Outubro de 2022

 

Na esteira do que escrevi no meu Post anterior e reitero, não sou fã do Cristiano Ronaldo, mas admiro o seu comprometimento com a profissão de futebolista, a entrega ao trabalho, quer colectivo quer de forma individual. A busca por autossuperação, entre outras, foram sempre as características deste veterano de 37 anos, hoje, na situação de quase abandono por conta de um acto que, na minha opinião, merece uma repreensão ou processo disciplinar e nada mais!

 

Como escreve o “Lance” de 24 de Outubro de 2022, o próprio Cristiano Ronaldo, ao contrário do que vieram a público falar muitas pessoas ligadas ao futebol, procurou entendimento com o Técnico por entender que terá agido mal naquele dia do Jogo contra o Tottenham, pedindo desculpas e sua integração na equipe principal. Notar que uma das pessoas que veio a público falar mal é o Técnico Português do Roma, José Mourinho.

 

Consciente ou não, José Mourinho, com os seus pronunciamentos, pode ter prejudicado o Cristiano Ronaldo. É preciso aceitarmos que todos temos um lado “animal” e “irracional” que actua uma vez a outra sem o nosso consentimento. Aliás, o Cristiano Ronaldo, na sua conta pessoal, um dia depois do incidente se retratou, aos que quiseram ouvir e entender o seu lado emocional naquele momento e naquele dia.

 

Por aquilo que o Cristiano Ronaldo representou, mesmo para o Manchester United, antes de se transferir para o Real Madrid, e agora, merece o perdão, sobretudo quando, por iniciativa própria, se retrata e pede desculpas e sua reintegração no grupo de trabalho. Por aquilo que Cristiano é e representa, é natural que muitos o queiram ver pelas costas, contudo, sou da opinião que se lhe dê oportunidade e a frente é o caminho. Repito, escrevo esta reflexão em reconhecimento do trabalho deste homem e das suas origens sociais. Ele pode e deve errar, mas não o perdoar seria o pior erro dos amantes de futebol.

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