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O título não é originalmente meu. É do economista e psicólogo americano, Herbert A. Simon, um dos primeiros académicos a descrever com precisão a relação entre informação e atenção.

Todos os dias – e já não é novidade dizer isso, somos inundados com informações. Do controle remoto à pesquisa do Google; do Twitter ao Facebook; dos jornais eletrónicos ao aplicativos variados; do WhatsApp ao Instagram, é tudo uma miríade de informação que circula à velocidade estonteante, potenciadas pela internet.

 

Na economia de informação em que nos encontramos, somos ou compradores ou vendedores de informação, ou mesmo as duas coisas, ou, na pior das hipóteses, recetores ou difusores da mesma. Fazemos isso de graça, à custo próprio.

 

Num artigo publicado em 1997, Simon já notava naquela altura de que “... a informação consome a atenção dos seus destinatários. Assim, quanto maior for a informação recebida, menor é a atenção prestada”. O que o autor queria dizer era que para que a informação fosse decifrável e compreensível, é preciso que os indivíduos dediquem tempo e atenção para decifrá-la e compreendê-la.

 

Simon, prossegue, “atenção é a ferramenta psicológica que usamos para descartar informações irrelevantes, de modo a que possamos nos concentrar no que é importante para nós. À medida que os nossos recetores não param de receber informação diversa e de forma intrusiva, a nossa atenção se torna cada vez mais tensa e desafiada” [cf: Simon, H. A. (1971) "Designing Organizations for an Information-Rich World" in: Martin Greenberger, Computers, Communication, and the Public Interest, Baltimore. MD: The Johns Hopkins Press. pp. 40–41].

 

A atenção é um poderoso ativo em todos os relacionamentos que deve ser gerida com atenção acrescida.  Devemos aplicar alguma disciplina a forma como gerimos a informação ou enfrentar o risco de ter nossa atenção e nossos relacionamentos, sequestrados pela força de maus hábitos.

quinta-feira, 18 abril 2019 09:47

Hoje tenho vergonha de cantar Tiende Pamodzi

Por debaixo dos meus pés a terra treme. Perdi o equilíbrio. A memória. Já não sei se na verdade é a terra que treme ou sou eu. Inteiro. Salimo Mohamed já cantava no seu subtil “Xantima i bodhlela” implorando-me que fumasse com os meus inimigos, que afinal são meus irmãos, o cachimbo da paz, e eu não quis ouvir. Fechei os olhos para não ver o sangue que pisava com os meus pés. Esqueci-me das lianas que acariciavam meu rosto nas matas da epopeia. Na longa noite habitada pelas hienas visíveis. Pelos grilos e mochos e morcegos. Esqueci-me de tudo isso. Das minhas mãos sangrando na luta pela remoção dos espinhos.

 

Hoje eu estou aqui. As minhas mãos já não sangram, é verdade! Mas estou vazio por dentro. Sangro na espinha. Na medula. No meu horizonte o crepúsculo do amanhecer  transformou-se. Degenerou. Feneceu para dentro de mim onde sou arrasado diariamente pelas verrumas de aço. Tudo à minha volta é um sismo. É como se Eusébio Johane Ntamele estivesse a cantar ao vivo na minha estrada cortada, Khmbo la mina mamana, va ranga hi mbilu va lhomula (que azar o meu, mãe, primeiro arrancaram-me o coração).

 

Lembro-me que nas matas da longa caminhada eu repetia Louis Armstrong,  What a wonderful world, gravado em 1967, cinco anos depois de fundarmos a FRELIMO. Cantava enquanto descansava tendo como travesseiro a metralhadadora em segunda mão enviada da histórica União Soviética. Eu também sonhava com um mundo maravilhoso como o grande Louis.  Do meu cano saíam flores também. Buganvílias.  Mas tudo isso esbateu-se na minha mudança de rumo. Perdi os sentimentos. Perdi o amor da juventude quando o que me movia era a utopia em si.

 

Hoje tenho vergonha de cantar Walimba moya, composta nas conservatórias espalhadas em lugares como Ntchinga, onde todos nos uniamos. Já não sou digno de abrir minha boca e libertar os versos ornamentados com sangue dos meus compatriotas. Toda a caminhada que fiz nas noites sem fim, atravessando rios e subindo montes e montanhas, levantando alto o meu braço nos gritos de guerra do tipo A Luta Continua, esvaziaram-se. Começa-me a doer a ferida que eu próprio plantei nas minhas palavras. Isto é o uma úlcera resultante das repetidas violações que fui cometendo.

 

Ontem sublevei-me contra o colono, e hoje o colono sou eu, cercado porém pelo povo que já não está do meu lado. Sinto que a loucura pode ser a minha próxima etapa. O meu fim. Estou por de cima da calçada onde sou achincalhado por todos. Não posso cair nem para um lado, nem para o outro. Rompi todos os tratados com o meu povo, e o que me resta é só um gemido.  Destruí-me com  o ouro amealhado nas noites, e hoje já nenhum unguento serve para me abafar a dor. Nenhum analgésico.

 

Sei! Eu é que não quis escutar a enxurrada das canções cantadas pelos pássaros nas manhãs, apelando-me ao amor. À concórdia. À tolerância. À honestidade. E hoje estou aqui, cercado pela noite.

Li no jornal a Carta um longo texto da autoria de um tal Edgar Barroso, tentando desmontar um texto meu intitulado Reflexão em torno do atual Pânico moral no qual, a partir do conceito cunhado pelo sociólogo sul-africano Stanley Cohen, tento transpor à situação e ao atual humor social. Não irei repetir a descrição, dado pode ser acedido a partir do seguinte endereço: http://bit.ly/2Xi3fVB

Excelentíssima Camarada Helena, 

 

Antes de mais receba as minhas mais sinceras saudações. 

 

quarta-feira, 17 abril 2019 05:56

Os intelectuais copy&paste…

Edgar Barroso


Li um texto muito problemático, publicado no jornal Carta de Moçambique da ultima sexta-feira (12 de Abril de 2019) e da autoria do intelectual (?) Egídio Vaz. Em praticamente 2/3 (dois terços) do referido texto, intitulado “Reflexão em torno do actual pânico moral”, o articulista faz citações não textuais do que ele percebeu de um livro de um dado autor (Stanley Cohen, “Folk Devils and Moral Panics”, 2011). Nos restantes 1/3 (um terço) do texto, o articulista tenta fazer uma transposição do que cita no texto com a realidade moçambicana actual. Dentre outras coisas, Egídio Vaz chama de “pânico moral” aos esforços conjugados de alguns indivíduos, de algumas organizações da sociedade civil e da imprensa independente na identificação, denúncia e pressão para a devida responsabilização dos grandes dossiers de corrupção em Moçambique. 

terça-feira, 16 abril 2019 09:50

Sobre os manuais da imprensa estatal

Sugiro que a 'Tê-Vê-Eme' e o 'Notícias' partilhem com o público os seus dicionários e gramáticas. O jornalista deve partilhar os mesmos códigos com sua audiência. Aliás, é isso que dizem as teorias de comunicação. Um dos elementos mais importantes da comunicação, desde o modelo comunicacional de Aristóteles até ao de Harold Dwight Lasswell, é o código. 


Agora, quando vemos, lemos ou ouvimos notícias elaboradas por certos canais da vanguarda já não sabemos o que significa o quê. Quando você pensa que "despenhar-se" é "cair", a Tê-Vê-Eme vem nos ensinar que a coisa não é bem assim. Afinal, "despenhar-se" é "aterrar de emergência". E foi assim que, há alguns anos, o jornal Notícias entregou Mugabe aos golpistas. O cota ficou na sala sorvendo do bom vinho e contando as rugas do saco, enquanto os golpistas estavam na varanda. O 'Notícias' garantiu ao velhote que os disparos que estava a ouvir eram de mancebos de Matalane que tinham transformado a varanda do palácio em carreira-de-tiro. O velhote tinha um vocabulário comum. Resultado: Mugabe foi encontrado com os seus "matxendes" na mão. 


Assim, se estiver no voo e o piloto anunciar uma aterragem de emergência, é melhor começar a mijar e pedir uma "Bic" para actualizar o testamento... significa que o avião já perdeu uma asa e está a cair de bico. De resto, são outros dicionários, outras teorias, outros manuais e outros jornalismos. Aqui a ideia não é informar, mas baralhar para perpetuar o 'status quo'. Estamos a falar daquela imprensa que vive do nosso suor. Seria bastante triste se não fosse cómico. 

- Co'licença!