Anteontem, no Dia Mundial dos Museus, pensei sugerir aqui uma ideia para marcar a data, uma ideia “museulógica” mas, atarefado, perdi a engrenagem. Contudo, a ideia ainda me atravessa a garganta. Duvido, no entanto, do seu consenso. Trata-se de um museu nacional do agreste, no sentido bucólico do termo.
Uma coisa para documentar os aspectos mais negros da nossa história recente. Temos a preguiçosa mania de escrever pouco, em livro, sobre o presente. No Brasil, a lava-jato deu dezenas de livros. Imagino agora a matéria-prima bolsonara. Na RAS, o Guptagate encheu as prateleiras da Exclusive Books.
Aqui, as Dívidas Ocultas ainda não fizeram um livro, mesmo pejadas de personagens romanescas como os Nhangumeles, o meu ndriyango. De modo que um museu faria sentido. Caberia lá tudo de pária que domina nossa sociedade. O crime organizado. Os raptos. A corrupção desenfreada. As próprias dúvidas ocultas.
Exporíamos os raptores usando os bichos recorrentes do Idasse Tembe. Dos algozes do Carlos Cardoso existem imagens à catadupa. Da dívida sinistra tão muita. Seria um museu de imagens e memórias negras das vítimas, do povo sofrido. A ideia é que nossa sociedade se textura entre enredos negros, tenebrosos. O sangue dos nhongos a centro, adiando vidas. E o horror fétido a norte, que nos despedaça como nação. Um museu não serve também para estas coisas?
Um Museu dos Algozes? (Marcelo Mosse)