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Actualizado de Segunda a Sexta

Jeremias Langa

Jeremias Langa

Depois de um tumultuoso Comité Central, não podia haver melhor notícia para a Frelimo: o partido no poder não encontrou o que procurava (por um lado, um candidato à medida dos apetites do seu Presidente e por outro lado três/quatro  sumidades à boleia de grupos  bem identificados dentro do CC), mas encontrou o que precisava: um candidato outsider, jovem, sem nenhuma ligação nem ao passado da luta de libertação nem ao da Guerra dos 16 anos, capaz, portanto, de irradiar alguma esperança, e de se identificar facilmente com o eleitorado jovem nascido de meados dos anos 90 para cá, que anda desiludido com a postura errática da Frelimo.

 

Roque Silva era, indubitavelmente, o Candidato de Nyusi. O actual presidente levou o seu SG literalmente às costas e alistou Chapo (e Damião José e mais tarde Francisco Mucanheia e Esperança Bias, estes últimos já em desespero de causa) para fazer coreografia.

 

Roque Silva estava a ser preparado pelo Presidente Nyusi, em surdina, há algum tempo para a sucessão. As suas recentes viagens para encontros com os secretários-gerais dos partidos no poder na África do Sul, Tanzania, Angola e Zimbabwe, está claro agora, visavam tranquilizar os aliados regionais sobre a transição em Moçambique e faziam parte do roteiro da sua socialização na caminhada para a Ponta Vermelha.

 

Ou seja, Filipe Nyusi retardou a discussão interna da sucessão para dar vantagem ao seu secretário-geral, que ia em fase adiantada de campanha enquanto os concorrentes viviam na incerteza.

 

É também isto que explica a recusa do Presidente Nyusi de dar oportunidade ao Comité Central de apresentar os seus candidatos, como sucedeu há 10 anos, no processo que levou à sua ascensão ao poder, agarrando-se a uma interpretação muito restritiva dos poderes da Comissão Política e do Comité Central.

 

Nyusi estava consciente de que o Comité Central queria também jogar para a mesa os seus próprios candidatos, que resto já andavam em trabalhos de bastidores, com destaque para nomes notáveis como de Aires Ali, Basilio Monteiro, José Pacheco e Luisa Diogo.

 

Uma corrida com os galácticos candidatos do Comité Central baralharia, seguramente, os planos do actual presidente e tenho sérias dúvidas de que que quer Roque Silva quer Daniel Chapo tivessem alguma possibilidade real.

 

Filipe Nyusi fintou tudo isto esperançoso de que o Comité Central acabasse por seguir o seu enredo e engolisse o seu candidato.

 

Mas o Comité Central não seguiu o enredo do Presidente nem engoliu a sua principal escolha e, entre um mal manifesto e um outsider, virou-se para este último. Daniel Chapo, temos que o dizer claramente, não foi uma escolha planificada conscientemente pela Frelimo. Tirou partido das circunstâncias sui generis em que, sem se dar por isso, esteve metido. Foi uma espécie de voto de protesto aos apetites do Presidente Nyusi e um cartao vermelho à autoritária gestão de Roque Silva.

 

Mas foi curiosamente por entre estas linhas tortas que a Frelimo acabou por escrever direito. Chapo é a melhor escolha que poderia acontecer à Frelimo neste momento. Ele é jovem, inteligente, bem articulado, sereno, subiu a pulso na hierarquia do Estado, sem favorecimentos, desde o posto de administrador de distrito até (se a Renamo insistir em Ossufo Momade alguém dúvida agora que Chapo será o próximo presidente?) à Ponta Vermelha!

 

A Frelimo vive uma espécie de crise de 3a idade, resultante de não ter cuidado devidamente da renovação do seu envelhecimento ideológico. A Frelimo anda agarrada ao passado glorioso dos seus fundadores, tendo há algum tempo perdido alguma noção da realidade actual. Muitos dos jovens nascidos de meados dos anos 90 para cá, especialmente nas grandes cidades, seguramente não se sentem galvanizados com a actual orientação da Frelimo cujos dirigentes, alguns deles muito novos em idade, mas velhos em ideias, passando a vida a repetir slogans sem nenhum conteúdo.

 

E, de repente, sem ter feito muito por isso, a Frelimo dá de caras com o candidato perfeito para devolver o direito ao sonho, ao “futuro melhor” a uma geração literalmente abandonada pela governação.

 

Sem nenhuma ligação aos pais fundadores da Frelimo da gesta do 25 de Junho de 1962, nascido após a proclamação da independência e com pouca vivência da Guerra dos 16 anos, Chapo personifica a nova geração que desfrutou a vida adulta após o Acordo Geral de Paz (tinha apenas 14 anos em 1992).

 

Estamos, portanto, em presença de um jovem sem amarras ao tortuoso passado político deste país, sem as mágoas nem os rancores políticos, que caracterizaram parte significativa da nossa classe dirigente no pós-independência e, portanto, enquanto membro e líder da Frelimo, capaz de olhar para a Renamo e outras forças politicas como adversários politicos e não inimigos.

 

Chapo tem, assim, o perfil adequado para unir as correntes desavindas na Frelimo, tapar as enormes fissuras que este último CC deu a ver e trazer de volta ao país uma aura de esperança que o Presidente Nyusi prometeu, mas dolorosamente não cumpriu.

 

Mas para isso, Chapo terá de ter ideias próprias, não ser uma repetidora de ideias desgastadas das gerações passadas da Frelimo, distanciar-se da ideia de continuidade do Presidente Nyusi e fazer uma ruptura com o passado! Mas não apenas com palavras, como sucedeu Nyusi. Com medidas politicas viradas para as pessoas e geradoras de transformação social. Com medidas que desanuviem o actual ambiente carregado no país e permitam aos cidadãos desfrutarem dos seus direitos fundamentais básicos. Só assim no fim terá válido a pena ter um jovem na liderança do pais.

 

Chapo tem que ter a consciência de que as mudanças são dolorosas e as suas decisões não agradarão a todos no seu partido. Algumas mesmo o colocarão contra os seus camaradas. Mas terá de fazer uma escolha: ser um bom rapaz para as velhas e novas elites internas na Frelimo e ir pelo caminho da mesmice, ou romper verdadeiramente o cerco. Tem a palavra, Chapo!